O que acontece no seu corpo quando você tem candidíase
Considerada uma das causas mais frequentes de visitas ao ginecologista, a candidíase vaginal é uma infecção causada por um fungo —o Candida albicans— que compõe a flora normal da microbiota de 50% da população.
Quando alguma situação atrapalha o seu equilíbrio nesse ambiente, o microrganismo se prolifera e acomete especialmente regiões como a boca, a garganta, a pele, além do trato gastrointestinal e vaginal.
Definidas como infecções oportunistas, essas manifestações podem ser superficiais, mas também invasivas, afetando variados órgãos e sistemas do corpo humano.
Esse fungo é responsável por 1/3 das infecções em mulheres no período reprodutivo.
Estima-se que 70% delas já tiveram um episódio de candidíase em alguma fase da vida.
Para 8% desse grupo os quadros se repetem com frequência.
Em 90% dos casos, o fungo Candida albicans está presente.
Os efeitos no seu corpo
Uma vez que ocorra o crescimento anormal do fungo, ele penetra o tecido vaginal (mucosa) e isso provoca uma resposta inflamatória que, na maioria das vezes, é caracterizada pelas seguintes manifestações:
Corrimento branco em flocos (tem consistência de leite coalhado), que é aderente e que nem sempre tem odor pronunciado.
Coceira intensa na parte externa da vagina.
Dor ou ardência durante as relações sexuais.
Inchaço e vermelhidão.
Ardor (nem sempre acontece).
Pequenas fissuras de pele e mucosa —em alguns casos, elas podem aparecer e são muito dolorosas, especialmente nas relações sexuais e nas micções (ato de urinar).
Dor ou ardor ao urinar
Nem sempre todos esses sinais e sintomas estarão presentes, e eles podem ser mais ou menos graves a depender da agressividade da cândida e da imunidade do hospedeiro.
A oportunista
A infecção vaginal pelo fungo Candida albicans é considerada oportunista, ou seja, ela aproveita determinadas situações de vulnerabilidade para se instalar. Veja alguns exemplos que aumentam o risco de ter esse problema:
Diabetes ou descontrole da glicemia
Uso de determinados medicamentos, como antibióticos
Comprometimento do sistema de defesa do corpo (pelo uso de medicações imunossupressoras ou infecção por HIV, por exemplo)
Predisposição genética
Estresse
Embora a candidíase possa afetar mulheres e crianças em todas as idades, ela tende a ser mais rara antes da adolescência e no período posterior à menopausa.
Status: complicada (ou não)
Existem duas formas de candidíase: a não complicada e a complicada. Confira:
Não complicada ou simples: ela aparece de vez em quando, tem como causa o fungo Candida albicans, os sintomas são moderados e o tratamento pode ser feito pela via vaginal ou sistêmica (para o corpo todo).
Complicada ou recorrente: é aquela que tem de 3 ou mais diagnósticos confirmados por meio de exames laboratoriais no espaço de 12 meses, é mais intensa e pode envolver fungos diferentes da espécie albicans. O quadro é mais frequente entre mulheres com diabetes ou com problemas no sistema de defesa do corpo.
Algumas cepas específicas de Candida do tipo não albicans, que são mais agressivas e resistentes, podem provocar infecções complicadas ou de difícil tratamento. A razão para isso é que elas não respondem ao uso de antifúngicos comuns.
Não confunda candidíase com IST
Muito associada às infecções genitais, a enfermidade não é considerada uma IST (infecção sexualmente transmissível).
Primeiro porque o microrganismo envolvido pode integrar a flora da microbiota normal, não se tratando de um patógeno externo capaz de infectar outras pessoas.
Além disso, ela pode aparecer em diferentes regiões do corpo em homens, mulheres, crianças e idosos sem que haja relação sexual.
Automedicação nunca é boa ideia
Algumas mulheres que já tiveram uma infecção podem se sentir tentadas a fazer um tratamento por contra própria.
Mas as especialistas consultadas são unânimes: os sintomas da candidíase são bastante característicos, mas outras doenças podem ter o mesmo tipo de manifestação, como por exemplo, reações alérgicas, inflamações de pele e até enfermidades mais graves, como tumores.
O melhor a fazer é procurar por ajuda médica para que o profissional possa fazer o exame ginecológico e solicitar análise laboratorial que possa confirmar a suspeita da candidíase e definir seu tipo (complicada ou não complicada).
Uma vez definido o tipo de candidíase, o médico escolherá entre as opções de tratamento disponíveis, geralmente antifúngicos de uso tópico e/ou oral.
E atenção: o uso indevido ou abusivo de antifúngicos pode gerar o mesmo efeito dos antibióticos —a resistência antimicrobiana— ou seja, quando você realmente precisar desses medicamentos, eles não trarão os efeitos esperados.
Meu/minha parceiro(a) sexual precisa ser tratado(a)? Por não se tratar de uma IST, a conduta é não tratar o parceiro/a de mulher com candidíase que não apresente sintomas. Mas quando a infecção fúngica está presente também nesses parceiros, o tratamento é indicado.
Medidas que ajudam a prevenir
Ficar longe da candidíase não depende apenas do uso de medicamentos, mas engloba a adoção de algumas mudanças no estilo de vida, que incluem as seguintes práticas:
Relate sempre ao médico seu histórico de candidíase para que ele possa estar atento a um possível quadro de repetição, o que muda totalmente o tipo de tratamento a ser indicado.
Evite duchas vaginais e o uso de produtos íntimos femininos perfumados.
Troque absorventes (internos/externos) com frequência e evite os diários.
Permita que a região genital "respire", usando roupas com tecidos naturais (inclusive as íntimas) e dormindo sem calcinha.
Evite roupas ou meias-calças apertadas. Elas aumentam a temperatura e a umidade locais, ambiente fértil para o crescimento de fungos.
Habitue-se a se lavar após urinar ou defecar. Use água e sabonete líquido suave, diluído, secando com toalha de algodão.
Limite a higiene em 3 vezes/dia. Períodos de estresse, menstruação e presença de obesidade requerem maior atenção com a higiene.
Troque maiô ou biquíni molhados tão logo seja possível.
Mantenha a glicemia sob controle e trate o diabetes.
Use camisinha: apesar de a candidíase não ser uma IST, ela protege e evita lesões.
Prefira a penetração vaginal antes da anal.
Invista em exercícios do assoalho pélvico: trabalhar a musculatura local aumenta a irrigação sanguínea e oxigena, melhorando as condições das células da região.
Adote práticas de bem-estar que tragam maior qualidade de vida para a sua rotina.
Fontes: Ana Katherine Gonçalves, professora titular do Departamento de Tocoginecologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), doutora livre-docente pela Unicamp e integrante da Comissão do Trato Genital Inferior da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Lorena Porto Magalhães, ginecologista, coordenadora do Ambulatório de Sexualidade do Hupes-UFBA (Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Silvana Maria Quintana, professora associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). Revisão técnica: Ana Katherine Gonçalves.
Referências:
Jeanmonod R, Chippa V, Jeanmonod D. Vaginal Candidiasis. [Atualizado em 2024 Fev 3]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459317/
Talapko, Jasminka et al. "Candida albicans—The Virulence Factors and Clinical Manifestations of Infection" Journal of Fungi 7, no. 2: 79, 2021. Disponível em https://doi.org/10.3390/jof7020079
Linhares IM, Amaral RL, Robial R, Eleutério Junior J. Vaginites e vaginoses. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 2018. (Protocolo Febrasgo - Ginecologia, nº 24/Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas).
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