Dólar sobe, Bolsa tem quarta queda seguida e deve cair mais, dizem bancos
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou no negativo nesta segunda-feira (23), com o com o quarto pregão consecutivo de desvalorização. O Ibovespa teve queda de 0,38%, indo a 130.568 pontos, ainda repercutindo o aumento da Selic e o risco fiscal. A tendência é que o índice perca também o patamar dos 130 mil pontos durante a semana, com três bancos prevendo tempos ruins para bolsa brasileira.
O dólar teve alta de 0,25%, indo a R$ 5,534. O dólar turismo ficou em R$ 5,74.
O que aconteceu
A maré não está para peixe na Bolsa de Valores brasileira, segundo o Goldman Sachs. O banco americano analisou os períodos em que — como agora — o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) cortou juros e o BC daqui subiu a taxa Selic. E o resultado não foi bom. Durante esses períodos, as ações brasileiras caíram 15% em um período de seis meses, divulgou o banco americano.
Mercado brasileiro é mais sensível à taxa Selic, que está em alta, que ao juro dos EUA. "Ao contrário, quando os cortes no Brasil passaram a acontecer, as ações tenderam a apresentar desempenho superior consistentemente, independentemente de o Fed aumentar ou cortar juros, indicando que o mercado de ações é mais sensível às taxas locais do que às taxas dos EUA", afirmou o banco.
Nos níveis atuais, vemos riscos de baixa para o índice principal em meio a uma lacuna de taxa crescente, demanda final da China ainda fraca e preços mais baixos de petróleo e produtos básicos (commodities).
Jolene Zhong e Sunil Koul, analistas do GS que assinam o documento
O Banco do Brasil também prevê tendência de baixa para a Bolsa. "A expectativa era que o fluxo proveniente do diferencial de juros entre as duas economias (EUA e Brasil) produzisse um efeito de maior apetite a risco no curtíssimo prazo, cenário que não se concretizou", publicou o BB hoje em análise para investidores.
Outro banco que também prevê tempos de baixa para a Bolsa é o Itaú BBA. "O Ibovespa deu um até logo para a tendência de alta no curto prazo. Risco de novas quedas aumentaram com o fechamento de sexta-feira, com o índice 'small caps' (de empresa em crescimento) voltando a trabalhar em tendência de baixa no curto prazo", publicou a equipe do analista Fábio Perina, em documento para investidores.
Petróleo e ferro
O minério de ferro teve queda após novos sinais de que a economia da China continua em dificuldades. O banco central chinês reduziu as suas principais taxas na noite do último domingo e fez uma injeção de liquidez equivalente a US$ 10,6 bilhões, num esforço para animar a economia.
Por isso, Usiminas (USIM5) foi uma das maiores baixas do dia. O papel teve queda de 4,93%, indo a R$ 5,59 (dados preliminares). Vale (VALE3), terminou a segunda-feira em leve alta de 0,44%, indo a R$ 57,60 (dados preliminares).
O petróleo (tipo Brent) teve baixa de 0,65%, a US$ 73,21 o barril. Mas os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram. PETR3 foi a R$ 40,15, com alta de 1,13% e PETR4 chegou a R$ 36,63, em valorização de 1,02% (dados preliminares).
Alta após aquisição
As ações da operadora portuária Santos Brasil (STBP3) dispararam 15,58%, para R$ 14,69 (dados preliminares). A empresa Opportunity anunciou que vendeu sua participação de aproximadamente 48% na empresa, no domingo (22), para a CMA CGM, referência mundial em logística e transporte.
Equilíbrio fiscal
Preocupações em torno da credibilidade fiscal, ou seja, do controle de gastos do governo, também colaborou para o aumento do risco no mercado nacional, diz o Goldman Sachs. Os ministérios do Planejamento e da Fazenda diminuíram a contenção do orçamento de R$ 15 bilhões para R$ 13,3 bilhões. Esse valor será travado no orçamento em bloqueios, que precisam ser feitos em razão da elevação das despesas. Já a parcela de R$ 3,8 bilhões que estava contingenciada, pela frustração de receitas, foi revertida. No relatório bimestral de julho, eram R$ 11,2 bilhões bloqueados, montante que subiu R$ 2,1 bilhões para que seja cumprido o limite de gastos de 2024.
A estimativa para as contas públicas passou de um rombo de R$ 32,6 bilhões para R$ 28,3 bilhões. Isso é cerca de R$ 500 milhões menor do que o limite inferior da meta (R$ 28,8 bilhões) e, portanto, dentro do intervalo de tolerância. O governo federal espera arrecadar R$ 33,740 bilhões de setembro a dezembro deste ano.
O secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Guimarães, afirmou nesta segunda-feira (23) que a meta fiscal deste ano será mantida. "Alteramos as metas dos anos seguintes, sem mudar a de 2024", declarou durante a apresentação do Relatório de Receitas e Despesas referente ao quarto bimestre de 2024.