O apoio a quem apoia vítimas afetadas pelas enchentes do Rio Grande do Sul
Em um intervalo de menos de uma hora, a temperatura na região de Vespasiano Corrêa (RS), uma cidade com menos de 2 mil habitantes, segundo o IBGE, caiu de 11ºC para 7ºC na noite de terça-feira (14).
Pouco depois da entrada do município, que está em uma rota importante para a chegada de mantimentos até cidades arrasadas pelas enchentes, como Muçum e Lajeado, dezenas de pessoas se reuniam em um posto de combustível desativado.
Ali, uma cozinha improvisada mantinha quentes as panelas com arroz, feijão, mandioca e galinhada. Quando a reportagem estacionou o carro para pedir informações sobre rotas de acesso às regiões afetadas, recebeu como resposta uma pergunta:
"Vocês já jantaram?"
Desde o dia 4 de maio, um movimento não organizado de pessoas que gostariam de ajudar, mas sem vigor físico para enfrentar a lama, foi criado naquele posto para prestar auxílio a quem chega na região para socorrer as pessoas atingidas pela chuva.
Vanius Braz Marcon, 61 anos, conta que houve dias em que cozinheiros voluntários chegaram a fornecer comida para mais de 300 pessoas em um único dia. "Aqui tem pessoas do Paraná, do Tocantins, de parte do Nordeste. Todas vieram para cá pelo simples fato de estender a mão para o que estava acontecendo", diz.
"Teve um rapaz que chegou aqui anteontem para ajudar. Fazia 12 dias que ele estava comendo só sanduíche, com frio, com chuva, todo embarrado. E aí, quando ele pegou um arroz quente, um feijão quente, a gente chorava", relembra.
Marcon afirma que a idade das pessoas interessadas em ajudar, como podem, diretamente nos locais afetados o impressiona: há adolescentes de 15, 16 e 17 anos se prontificando a ajudar.
A comida chega até o local por meio de doações. "Carretas começaram a descer aqui no posto e entregar comida", dizia Marcon enquanto um caminhão, vindo de Mato Grosso do Sul, recheado de mantimentos na caçamba, estacionava no posto.
"A gente fica sentindo de não poder descer [para as cidades afetadas], porque precisa de alguém pra fazer comida pra esse povo. Chega aqui doação o tempo inteiro: de gente de região afetada, a senhora aqui na frente que disponibiliza a horta e faz polenta. É realmente um movimento de um Brasil que muito pouca gente conhece", destaca Marcon.
Em meio ao caos, deconhecidos se unem, mesmo sem nunca terem se visto antes. Um morador de Chapecó (SC) foi ao local com um motorhome. É dentro do carro que ele dorme e, quando se levanta, ajuda no café da manhã, almoço e jantar daqueles que decidiram ir até as cidades afetadas.
Um outro homem, de Curitiba, foi até o local com um carro 4x4 quase zero. Decidiu colocar o veículo sob a lama para ajudar a população local. E uma empresa, de Sorocaba (SP), decidiu enviar um caminhão também com mantimentos para ajudar a manter de pé aqueles que se prontificaram a ajudar deconhecidos.
"Parece que todos são de uma mesma família e a dor deles passa a ser a nossa dor", pontua Marcon.