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ONU alerta para situação "catastrófica" no Haiti; país está nas mãos do crime organizado

28/03/2024 12h29

A situação no Haiti é "catastrófica", com 1.554 mortos durante os primeiros três meses de 2024, alertou a ONU, na quinta-feira (28), que lamentou que "fronteiras porosas" facilitem o fornecimento de armas e munições às gangues.

"É chocante constatar que, apesar do horror da situação no país, as armas continuam a fluir. Faço um apelo por uma implementação mais eficaz do embargo de armas", disse o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, durante a apresentação de um novo relatório sobre a situação no país.

"Fatores estruturais e conjunturais levaram o Haiti a uma situação catastrófica, caracterizada pela profunda instabilidade política e instituições extremamente frágeis", segundo o documento.

O Haiti, que já atravessava uma profunda crise política e de segurança, tem sido assolado por uma nova onda de violência desde o início do mês, quando vários grupos armados uniram forças para atacar locais estratégicos na capital, Porto Príncipe, com o objetivo de derrubar o primeiro-ministro, Ariel Henry.

Contestado, o chefe de governo não conseguiu voltar ao Haiti após uma viagem ao Quênia no início do mês. Ele concordou em renunciar em 11 de março. Logo em seguida, foi designado um conselho presidencial para assumir o controle do país. Ele se comprometeu, na quarta-feira (27), a restaurar a "ordem pública e democrática".

De acordo com a ONU, "a corrupção, a impunidade e a má-gestão, agravadas por níveis crescentes de violência de gangues, corroeram o Estado de direito e levaram as instituições estatais (...) à beira do colapso".

O número de pessoas mortas e feridas pela violência aumentou significativamente em 2023, com 4.451 mortos e 1.668 feridos, afirma o relatório. O número de vítimas aumentou acentuadamente durante os primeiros três meses de 2024, com 1.554 mortos e 826 feridos até 22 de março.

Violência sexual como arma

A ONU observa que, apesar do embargo ao qual o país é submetido, "o tráfico ilícito de armas e munições através de fronteiras porosas proporcionou uma cadeia de abastecimento fiável às gangues" que, "muitas vezes têm maior capacidade ofensiva que a polícia nacional haitiana".

O alto comissário reitera a necessidade de enviar urgentemente uma missão multinacional de apoio à segurança para ajudar a polícia nacional a pôr fim à violência e a restaurar o Estado de direito.

Mas Türk enfatiza que "é essencial que a missão integre eficazmente os direitos humanos na condução de suas operações".

Segundo o relatório, os gangues continuam a usar a violência sexual para brutalizar, punir e controlar a população. Este tipo de agressão é raramente denunciado e, na maioria das vezes, permanece impune. Os grupos armados também continuam a recrutar e a abusar de crianças, alguns dos quais foram mortos quando tentavam abandonar o crime organizado.

Juntamente com a escalada da violência das gangues e a incapacidade da polícia para combatê-la, continuaram a surgir "brigadas de vigilantes" que fazem justiça com as próprias mãos, afirma o relatório.

Pelo menos 528 casos de linchamento (510 homens e 18 mulheres) foram relatados em 2023, e outros 59 em 2024. Embora alguns assassinatos tenham sido espontâneos, outros foram supostamente encorajados, apoiados ou facilitados por policiais e membros de gangues pertencentes à coalizão de quadrilhas conhecida como G9 e seus aliados, de acordo com o relatório.

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(Com informações da AFP)

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