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Cem crianças foram baleadas no Grande Rio em quase 5 anos, diz levantamento

Agatha Félix morreu atingida por tiro durante operação policial em 2019 - Voz das Comunidades
Agatha Félix morreu atingida por tiro durante operação policial em 2019 Imagem: Voz das Comunidades
do UOL

Victória Bechara

Colaboração para o UOL

19/04/2021 14h02Atualizada em 19/04/2021 18h04

Entre 2016 e 2021, cem crianças foram baleadas na região metropolitana do Rio de Janeiro. Dessas, 76% foram vítimas de bala perdida. É o que mostra um levantamento da plataforma Fogo Cruzado, que mapeia dados de violência armada no Rio e no Recife.

Do total de vítimas - todas com idade inferior a 12 anos - 29 não resistiram. O mapeamento também mostra que 39 foram baleadas com a presença de agentes de segurança. Dessas, dez morreram. Ao todo, 32 foram atingidas durante operação policial.

Kaio Guilherme da Silva Baraúna, de 8 anos, tornou-se a 100º criança baleada no Rio na última sexta-feira (16). O menino foi vítima de uma bala perdida em uma comemoração na escola de reforço que frequenta na comunidade Vila Aliança, em Bangu, na zona oeste do Rio. Ele foi atingido na cabeça e está em coma no Hospital Municipal Pedro 2º.

Segundo o levantamento, divulgado ontem pela plataforma, Bangu é o bairro com mais crianças atingidas, com cinco casos. Em segundo lugar estão empatados o bairro de Campo Grande, na zona oeste, e o Complexo do Alemão, na zona norte, com quatro cada.

Mais da metade dos casos aconteceu no município do Rio de Janeiro (59). Depois, São Gonçalo (12), Duque de Caxias (9) e Belford Roxo (6). Ao todo, 64% das crianças foram baleadas em favelas. As localidades com mais vítimas são o Morro do Juramento e a Vila Aliança, com três cada.

Ano da intervenção federal no Rio de Janeiro, 2018 foi também o período com o maior número de crianças baleadas, 25. O ano de 2019 registrou apenas uma a menos. Entre as vítimas está a menina Ágatha Vitória Félix, de 8 anos, morta durante operação policial no Complexo do Alemão no dia 20 de setembro, quando voltava para casa com a mãe.

No ano passado, 22 crianças foram baleadas na região metropolitana do Rio. No dia 4 de dezembro, as primas Emily Victoria dos Santos, de 4 anos, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7, foram mortas por balas perdidas durante uma ação policial no Barro Vermelho, em Duque de Caxias, enquanto brincavam na porta de casa.

Enzo dos Santos, de 4 anos, entrou para as estatísticas enquanto curtia sua festa de aniversário em Magé, na Baixada Fluminense, em 7 de junho de 2020. Ele morreu baleado por um homem que estava presente na comemoração e atirou propositalmente. Enzo foi uma das 17 crianças atingidas em casa entre 2016 e 2020. O levantamento mostra ainda que quatro foram vítimas enquanto estavam indo ou voltando da escola.

Segundo o levantamento do Fogo Cruzado, até o dia 18 de abril de 2021, seis crianças foram baleadas no Grande Rio - duas morreram, uma delas ainda nos primeiros minutos do ano. Na madrugada do dia 1º de janeiro, Alice Pamplona da Silva, de 5 anos, foi levada para o hospital mas não resistiu. Ela foi atingida por uma bala perdida no pescoço, no Morro do Turano, no Rio Comprido.

Em nota enviada ao UOL, a Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio disse que o objetivo central das ações da corporação é a preservação de vidas, "seja as da população ou dos policiais envolvidos". A pasta disse ainda que as operações são "pautadas pelo planejamento prévio e pela estratégia atrelada às análises das manchas criminais locais".

A secretaria também responsabiliza os suspeitos pelo início de qualquer tiroteio. "Vale ressaltar que a opção pelo confronto é sempre uma iniciativa dos criminosos, que realizam ataques armados inconsequentes diante do cumprimento das missões institucionais dos entes de segurança do Estado", diz. A versão é contestada por parte dos familiares das vítimas, como nos casos de Ágatha Félix e das primas Emily e Rebeca.

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