É possível pedalar do Rio de Janeiro até Lima?
Para abrir essa nova coluna aqui no UOL, vou compartilhar uma grande experiência que tive no mês passado. Durante 145 horas (seis dias completos, mais uma hora), viajei de ônibus do Rio de Janeiro a Lima, capital do Peru - acompanhei torcedores do Flamengo até o palco da final da Libertadores para uma reportagem especial para o UOL Esporte.
Durante o trajeto de pouco mais de seis mil quilômetros, observei os detalhes da estrada com a ideia de um dia tentar vencê-la de bicicleta. Com a experiência de ter feito dois trajetos menores (Rio Grande-Valparaíso, em 2018, e Barcelona-Amsterdã, em 2019), respondo: é viável atravessar o continente até a capital do Peru.
Eu pedalei 2.028 km em 29 dias (de Barcelona a Amsterdã) e 1.939 km 27 dias (de Rio Grande a Valparaíso). Nesse ritmo, seriam necessários quase três meses para ir do Rio a Lima, num total de 70 quilômetros diários. Acredite, é tranquilo. Encarei essa distância pela primeira vez justamente na minha cicloviagem inaugural.
Antes, tinha pedalado no máximo 30 km em um dia pelas ruas de São Paulo - a minha média era de aproximadamente 40 km por semana, de casa para o trabalho e vice-versa. E não, não fiz uma preparação específica para a primeira travessia. Foi meio na loucura mesmo: tracei o caminho, comprei a passagem para o Rio Grande do Sul, viajei até lá, montei na bicicleta e parti rumo ao Chile
Por onde passar?
A viagem começaria no Rio de Janeiro. O trajeto contemplaria ainda, no Brasil, as cidades de São Paulo, Campo Grande, Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco. As estradas usadas seriam Dutra, Castelo Branco, Raposo Tavares, além das Rodovias 267, 163, 364, 070, 174 e 364, em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre. No Peru, a estrada mais utilizada seria a Interoceânica, que atravessa a Cordilheira até o litoral do país.
Qual é o maior desafio?
A maior dificuldade do trajeto Rio-Lima é a altimetria. O total é de 54 mil metros, cerca de 7 vezes o tamanho do Monte Everest. Para se ter uma ideia, subi 4,5 mil metros no trajeto Rio Grande-Valparaíso e 6 mil metros de Barcelona a Amsterdã. Com paciência, uma bike adequada e pouca bagagem, porém, é possível superar esses 54 mil metros em 90 dias. Outro ponto complicado é o vento, que pode soprar forte e contra você. Uma solução é verificar o clima com antecedência e semente, então, planejar a semana.
O que levar de bagagem?
Uma barraca leve, saco de dormir, colchão inflável, carregador portátil, gás, fogareiro, talheres, panela, lanterna, comida e água para o dia, duas bermudas, três camisetas, capa de chuva, documentos, ferramentas e celular, além das coisas de higiene. Lembre-se: numa viagem dessas, menos é mais.
Onde dormir?
É possível usar postos de gasolina como abrigo. E sempre existe a possibilidade de conseguir uma estadia em terrenos particulares - com permissão, é claro. Se der tudo errado, a ideia é procurar lugares mais afastados da estrada.
O que comer?
Minha saída para gastar pouco é sempre fazer minha comida. Café da manhã, almoço e jantar. O fogareiro compacto auxilia na tarefa, pois é leve e não ocupa espaço. Alimentos que nunca podem faltar: pão, ovo, macarrão, atum, banana e carne, que sempre comprei minutos antes de fazer. Planejar as refeições e comprar os alimentos no mesmo dia do consumo é uma maneira de manter a bicicleta leve.
E o frio da Cordilheira?
Antes da subida, faz muito calor na região de Puerto Maldonado. No ponto mais alto (4.725m), na região de Marcapata, a 180 km de Cusco, a temperatura é próxima a 0°C. Por isso, é melhor pedalar à tarde. O saco de dormir para temperaturas negativas é um abrigo e tanto para passar a noite. Ele resolve a situação. Na fronteira entre a Argentina e o Chile, enfrentei uma temperatura parecida. Com luvas, touca e um casaco grosso, pedalei sem problemas.
As estradas são seguras?
Quase todas têm um mínimo acostamento, diferentemente do que enfrentei na Argentina. No Brasil, há muitos caminhões. É uma dificuldade a mais. Por isso, é fundamental ter retrovisores na bicicleta. Na Cordilheira, já no Peru, não existem túneis. Isso ajuda.
E se a bicicleta tiver problemas mecânicos?
Importante levar câmaras de ar e remendos, além de ferramentas. É preciso ter o mínimo conhecimento de mecânica para resolver problemas simples, como regulagem de freios e câmbios. Problemas mais complexos podem ser resolvidos em bicicletarias e/ou mecânicas. Essa estratégia deu certo na América do Sul e na Europa durante as minhas duas viagens.
Meus próximos passos
Antes de um dia encarar o trajeto Rio-Lima de bicicleta, terei um desafio mais fácil pela frente. Em 2020, tentarei superar os 2.100 km que separam os extremos norte e sul da Nova Zelândia. Será que eu consigo?
Quer saber mais sobre as viagens? Instagram: diegosalgadobike
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