Entre o desejo e a repressão: como Pedro Goifman constrói gay dos anos 1950

Pedro Goifman, 21, interpreta Guto em "Garota do Momento", um personagem que reflete os desafios de ser um jovem gay nos anos 1950, época em que a homofobia não era discutida. Inspirado por figuras como James Dean, o ator se aprofunda na complexidade do papel ao explorar referências históricas, pessoais e culturais.
Em entrevista exclusiva para Splash, Goifman revela os desafios de dar vida ao personagem, que acaba de terminar o namoro com Eugênia (Klara Castanho) passa viver sua primeira experiência homoafetiva.
Infelizmente, a sociedade ainda é preconceituosa, homofóbica, transfóbica, racista e machista. Claro, melhoramos dos anos 1950 para cá, mas ainda tem gente sendo expulsa de casa por ser gay. É um país dialético, maravilhoso, com liberdade corporal, Carnaval, mas conservador em muitos sentidos. Fazer novela sobre o passado é bom para pensar o presente e o futuro. Pedro Goifman
A construção do Guto
Para Goifman, Guto é um personagem em construção contínua, já que a trama é aberta e repleta de camadas. Guto é um jovem gay nos anos 1950, época em que a homofobia não era discutida e era ainda mais escancarada. A preparação do personagem começa no roteiro de Alessandra Poggi, autora da trama, mas vai além.
É muito bem escrito. Gosto de ler o que acontece com os outros personagens, mas gosto de pensar em mim, nas coisas que vivo e nas referências que tenho nas músicas que ouço e, depois, extrapolo para outras questões.
Entre as inspirações está James Dean (1933-1955) e os filmes dos anos 1950, que ajudaram o ator a moldar a complexidade de Guto. "James Dean é uma figura fundamental. É uma referência para Guto, que faz parte da Gangue da Lambreta. Essa galera gosta de filme de ação, de moto e de carro. Isso deixa o personagem mais complexo por ser um gay que gosta de coisas que as pessoas colocam no universo hétero. É armazenar essas referências e 'bater' tudo no liquidificador dentro de mim."
No processo de autodescoberta sexual, Guto protagoniza diálogos que emocionam tanto os fãs LGBTs quanto o próprio ator. "Gosto de me concentrar antes de gravar: coloco fones de ouvido, fico mais sozinho e estudo bastante. Tenho cenas emotivas com Felipe Abib, Maria Flor e Caio Manhente, que interpretam minha família na novela, e também de Rebeca Carvalho, que faz a Ana Maria, minha amiga na história. Para uma dessas cenas, fomos até a praia estudar e fazer anotações. São cenas que me tocam."
Bissexual, Goifman celebra as conquistas de 1958 até hoje, mas pondera que o Brasil ainda é um país marcado pelo preconceito. "Tenho recebido comentários preconceituosos nas redes, apesar de ser em número bem menor que os comentários de amor e de identificação que recebo."
Quem é Pedro Goifman
Filho de cineastas, Goifman nasceu em São Paulo e cresceu cercado por arte e começou a atuar ainda criança. Antes da TV aberta, passou por produções no teatro, cinema, circo e streaming, como a série "Tarã" (Disney+). "Maior privilégio foi crescer consumindo muita arte, vendo filme 'malucão' e peças... Comecei a fazer testes aos sete e, paralelamente, aulas de circo. Amei."
O ator diz ser apaixonado por cinema e pelos estudos de Artes Cênicas (USP), embora tenha trancado o curso para gravar sua primeira novela no Rio. "Estou adorando morar no Rio, principalmente pela praia, diferentemente de São Paulo. Além de estudar os anos 1950 para compor Guto, também foi importante estudar o Rio, o sotaque e a linguagem corporal da cidade."
Pela primeira vez, o ator experimenta ser abordado por telespectadores nas ruas e acompanhar a repercussão de seu personagem em tempo real. Ele até reativou uma conta antiga no X para interagir com o público "É o maior barato. O telespectador é coautor da história e influencia nos rumos da trama. A repercussão tem sido maravilhosa. Pessoas idosas vêm falar quão bem a gente tem retratado a década de 1950."
Não estou acostumado. Fico pensando: por que essa pessoa quer tirar uma foto comigo? Fico confuso com essa vontade em saber mais sobre mim. Sou uma pessoa reservada e tímida, que gosta de ficar sozinha vendo filmes, séries, estudando meu texto ou praticando malabarismo. Uma das minhas metas para 2025 é voltar a treinar malabarismo todos os dias. E passar mais tempo de cócoras, uma posição natural do ser humano e que faz bem para a saúde.
Pedro Goifman já falou sobre sua bissexualidade em entrevistas, mas prefere manter o fofo em seu trabalho. "Tenho receio... Acho mais interessante falar sobre a novela que minha vida pessoal. Não sou ingênuo e sei que, quando dou uma declaração sobre a minha vida, a probabilidade disso virar manchete é muito maior que falar o quanto estudo a diferença do corpo do Rio de Janeiro e de São Paulo. São coisas mais interessantes que minha vida pessoal ou saber quem estou beijando, entendeu?", diz, aos risos.
Sou reservado com pessoas que estou ao meu redor. Sou uma pessoa muito caseira, gosto de ficar brincando aqui com meu baralho.