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Cresce risco de guerra turco-síria

19/02/2020 14h43

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta quarta-feira (19) que uma operação militar na região de Idlib, no noroeste da Síria, é "uma questão de tempo ". O anúncio veio após o fracasso das negociações com a Rússia. O Kremlin, aliado de Damasco, por sua vez advertiu a Turquia a não atacar às forças sírias, o que se configuraria no pior cenário.

Erdogan reiterou seu ultimato ao regime sírio para que se retire, antes do fim de fevereiro, do leste de uma estratégica estrada e dos arredores dos postos de observação turcos, em Idlib. "A operação em Idlib é iminente", disse o presidente em um discurso no Parlamento. "Estamos em contagem regressiva. São as últimas advertências", insistiu.

De Moscou, o porta-voz russo Dmitri Peskov preveniu o presidente turco de que a Rússia veria o ataque como "uma operação contra o poder legítimo da República síria e das Forças Armadas da República síria, o que seria, sem dúvida, o pior cenário".

Esta animosidade coincide com o momento em que as discussões entre Ancara e Moscou não conseguiram reduzir a tensão na região de Idlib. "Infelizmente, nem as conversas realizadas no nosso país e na Rússia, nem as negociações no terreno nos permitiram chegar ao resultado que desejávamos", lamentou Erdogan.

Apoiadas pela aviação russa, as forças de Damasco realizaram nas últimas semanas um duplo ataque para recuperar este último bastião rebelde e jihadista.

No início de fevereiro, as tensões aumentaram quando soldados turcos posicionados em Idlib no âmbito de um acordo entre Ancara e Moscou morreram em bombardeios sírios.

Paralelo às advertências russas, a Turquia vem mobilizando há vários dias importantes reforços militares na região de Idlib. "Fizemos todos os preparativos para podermos aplicar os nossos próprios planos", declarou Erdogan nesta quarta-feira. "Estamos decididos a fazer de Idlib uma região segura para a Turquia e para a população local, a qualquer custo", acrescentou.

Em 2018, Turquia e Rússia alcançaram um acordo em Sochi (sul da Rússia), no intuito de obter um sessar-fogo. A Turquia vê com maus olhos o avanço do regime em Idlib, temendo um novo fluxo de deslocados para o seu território. 

ONU alerta para escalada de violência

O emissário da ONU para a Síria alertou nesta quarta-feira o Conselho de Segurança das Nações Unidas para o "risco iminente de escalada da violência". "Não posso informar sobre nenhum avanço para pôr fim à violência no noroeste sírio ou retomada do processo político", afirmou Geir Pedersen, em uma reunião mensal do conselho.

Após várias semanas de ofensiva do regime sírio, determinado a recuperar o controle de Idlib, a situação humanitária é catastrófica. Segundo a ONU, cerca de 900.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, fugiram da região desde o início de dezembro em razão da ofensiva lançada pelo governo de Assad e por Moscou em Idlib e seus arredores.

Em guerra desde 2011, a Síria nunca havia experimentado um êxodo dessa dimensão em um período de tempo tão curto. O conflito também já deixou mais de 380 mil mortos.

Em uma entrevista coletiva em Istambul, uma coalizão de ONGs sírias (SNA) pediu "ao mundo que desperte e detenha o massacre" em Idlib. Segundo essa fonte, "os acampamentos de refugiados estão lotados e os civis não têm outra opção a não ser dormir ao ar livre", apesar das baixas temperaturas do inverno.

As ONGs estimam em cerca de US$ 335 milhões a ajuda de urgência necessária para atender às necessidades básicas dos deslocados que estão refugiados perto da fronteira turca, amontoados em acampamentos improvisados.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), mais de 400 civis, incluindo 112 crianças, morreram desde que o regime e a aviação russa lançaram a ofensiva na região.

Das 550 instalações sanitárias, apenas metade continua funcionando, lamentou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), os dois últimos hospitais operacionais no oeste da província de Aleppo, vizinha de Idlib, foram afetados pelos ataques.

Aeroporto reaberto

Nesta quarta-feira, um voo civil com ministros sírios e jornalistas a bordo pousou no aeroporto de Aleppo, procedente de Damasco. Foi o primeiro pouso em oito anos de conflito e aconteceu alguns dias após a reconquista pelas forças governamentais dos arredores da segunda maior cidade da Síria.

A reabertura do aeroporto de Aleppo, assim como a recente conquista da autoestrada M5 que liga a cidade à capital, representam uma vitória simbólica e econômica para o governo de Bashar al Assad.

 

 

 

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