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Indicação de Eduardo é 'maior erro' de Bolsonaro, diz presidente da CCJ do Senado

 A presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) - Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo
A presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) Imagem: Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo

Renato Onofre e Amanda Pupo

Brasília

15/07/2019 18h56

A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), afirmou nesta segunda-feira (15) que a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada brasileira em Washington foi "o maior erro" do presidente Jair Bolsonaro até o momento.

Para a senadora, o nome do parlamentar pode ser derrotado na Casa, expondo uma fragilidade do governo em votações. "Talvez tenha sido o maior erro do presidente até agora. Até porque envolve o próprio filho", afirmou nesta segunda a senadora.

Para Tebet, o presidente deveria ter avaliado qual era "o sentimento do Senado" antes de indicar no nome do filho para o cargo.

"Acho que ele corre sérios riscos de mandar [a indicação de Eduardo Bolsonaro para ser o embaixador brasileiro nos Estados Unidos) para o Senado e ser derrotado. A votação é secreta. Não tem precedentes no mundo, em países democráticos."

O nome de Eduardo deve enfrentar entre senadores resistência para assumir a embaixada, caso sua indicação seja confirmada pelo pai. Dos atuais 17 integrantes da Comissão de Relações Exteriores do Senado --responsável por analisar o nome--, 6 disseram ao jornal Estado de S. Paulo ser contrários, outros 7 afirmaram ser favoráveis, 3 preferiram não comentar e apenas 1 não se manifestou.

"A sabatina expõe demais o governo e pode dar uma fragilidade que o governo ainda não tem na casa. Eu tenho esse sentimento hoje [de que a indicação seria derrotada no Senado] sentindo algumas pessoas que defendem o governo com unhas e dentes questionando que isso foi erro. Mas, enfim, o tempo dirá", afirmou Simone Tebet.

Eduardo Bolsonaro participa do encontro entre seu pai, Jair Bolsonaro, e o presidente dos EUA, Donald Trump - Isac Nóbrega/PR - Isac Nóbrega/PR
Eduardo Bolsonaro participa do encontro entre seu pai, Jair Bolsonaro, e o presidente dos EUA, Donald Trump
Imagem: Isac Nóbrega/PR

Para ser embaixador, o nome de Eduardo Bolsonaro deverá passar por uma sabatina na Comissão de Relações Exteriores e, em seguida, ser submetido a uma votação secreta. Depois, o nome vai ao plenário do Senado que tem que dizer se aceita a indicação do presidente. Ele precisará do voto favorável da maioria dos 81 senadores --também em votação secreta.

Conforme registros da Comissão de Relações Exteriores, apenas uma indicação presidencial para embaixador foi rejeitada nos últimos dez anos. Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff enviou o nome de Guilherme Patriota, irmão do ex-chanceler Antônio Patriota, para a vaga de embaixador do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos), mas ele não teve aval da maioria dos senadores.

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Emendas em votações importantes

Tebet também afirmou que o uso de emendas para garantir votações importantes no Congresso vai "custar muito caro" a Bolsonaro. Para a senadora, o governo "errou" em não propor uma alternativa ao presidencialismo de coalizão para construir uma base política para votações no Congresso.

"Acho que esse é o erro do presidente de, deixando de lado o presidencialismo de coalização, não buscar uma alternativa. Essa falta de alternativa vai custar muito caro para o presidente. Agora, é a reforma da Previdência, depois é a reforma Tributária, depois são projetos relevantes que dependem quórum qualificado (ou seja, dois terços dos parlamentares a favor da proposta). Ele vai negociar dessa forma cada projeto que tem que aprovar? O que isso tem de diferente do fisiologismo? Do toma-lá-da-cá da gestão passada?", afirmou Simone Tebet.

A senadora afirmou que não vai negociar emendas com o governo, mas que a liberação a deixa desconfortável. "A gente está entre a cruz e a espada. Eu já declarei para todo mundo que vou votar a reforma. Não preciso de nada para botar a reforma. Ai eu digo que não quero a emenda, mas chega em dezembro os prefeitos chegam lá e falam: 'ah, por que você não me atendeu?'", disse a senadora.

Tebet afirma que vê boas intenções no governo Bolsonaro, mas que falta "visão" de gestão ao atual presidente.

"Se eu tivesse que fazer uma crítica a ele é a falta de uma visão maior do país. Ele está muito preocupado com a visão ideológica, com uma pauta de costumes, de falar para o seu eleitorado de alguns pontos específicos de promessas de campanha que ele tem quatro anos para cumprir, não precisa cumprir todos agora", disse Tebet.

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