Lira vê Senado mais privilegiado que Câmara no governo e cobra 'arrumação'
Às vésperas do fim do mandato como presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) disse que o governo Lula (PT) deve passar por uma "arrumação" para reverter a queda na popularidade. Em entrevista ao jornal O Globo, ele defendeu uma mudança que vá além da composição dos ministérios.
O governo está com déficit, dificuldades no Parlamento, na relação institucional. É preciso solucionar.
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, a O Globo
Lira cobrou uma melhor articulação política do governo no Congresso.
O Lula é um animal político muito experiente, mas não pode estar na linha de batalha. Tem que ter gente brigando.
Senado x Câmara no governo Lula
O deputado apontou que o Senado tem mais prestígio que a Câmara na composição do governo.
É fato que é necessária uma reforma ministerial [...]. Ainda acho que o Senado ficou mais prestigiado que a Câmara e, no final, a Câmara votou mais fácil com o governo do que o Senado. Existem partidos que estão menos representados e dão mais votos. O governo deve ajustar isso.
Há um desencontro do governo com o próprio governo, entre áreas do governo. Não há uma sintonia. Mas é o momento agora de tentar fazer, olhando para todos os aspectos, inclusive econômicos.
Vai virar ministro?
Nos bastidores, Lira e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deixa o comando do Senado agora, são cotados para posições no governo. Segundo apuração da colunista do UOL Andreza Matais, o alagoano chefiaria a Agricultura, e o mineiro, a Justiça. Lira, entretanto, negou que o tema tenha sido conversado com o presidente.
Nunca tive conversas com Lula sobre ministério, nem com nenhum membro do governo. Não tenho respostas para algo que nunca foi conversado. Minha obrigação é deixar a presidência com a cabeça erguida, com a sensação de dever cumprido.
Ontem (30), Lula desconversou sobre a reforma ministerial e o futuro do aliado Pacheco. "O que quero é que Pacheco seja governador de Minas Gerais", disse o presidente.
"Deve haver arrumação de baixo para cima"
Lira cobrou responsabilidade fiscal do governo, diante da "pauta social muito forte" que foi prometida nas eleições, e uma reação diante da recente queda de popularidade da gestão Lula.
Não é com uma varinha de condão que vai resolver. Eu tenho a impressão de que o governo vai ter que arrumar do primeiro andar para a cobertura. Não adianta mudar só a cobertura. O primeiro andar é a economia, emprego, inflação. É o sentimento popular, se há alguma coisa melhorando a vida. Depois [no segundo andar], tem a credibilidade política.
Deve haver arrumação de baixo para cima. Só em cima, não salvará, não resolverá.
"Discussão sobre emendas vai perdurar"
Lira também defendeu a maneira que as emendas parlamentares são usadas. O mecanismo de indicação de recursos está no centro de uma discussão entre os Três Poderes, e o STF chegou a bloquear o pagamento de parte das emendas no fim do ano passado por falta de transparência.
Sempre defendemos a transparência e sempre defenderei as emendas. Elas têm uma função social importante. Para obras estruturantes, de saúde, saneamento e para o povo. Coisas que nenhum ministro tem condições de enxergar. As desvirtuações disso são caso de polícia, não de política [...]. Mas, essa discussão vai perdurar por algum tempo, porque estamos falando de disputa de poder.
Hoje, fala-se em "rastreabilidade". Sempre se soube de onde vinha a emenda. Na obra, o prefeito, o deputado, sempre falaram com orgulho da realização para aquele lugar. É claro que tudo está documentado.
"Brechas para reverter inelegibilidade de Bolsonaro"
O ex-presidente, condenado por abuso de poder político e econômico, atualmente está inelegível até 2030. Parlamentares bolsonaristas esperam o avanço de um projeto para conceder anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, o que poderia beneficiá-lo.
Hoje temos Lula e Bolsonaro como únicos candidatos da esquerda e da direita, é assim que vejo. Bolsonaro está tão inelegível quanto Lula esteve preso em 2018. A nossa Constituição traz brechas para isso.
A decisão de apoiar um ou outro precisa ser muito amadurecida. Hoje, o PP não tem essa decisão clara de que iremos para cá ou para lá.