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DeepSeek, o "ChatGPT chinês", abala o Vale do Silício e Wall Street nos EUA

28/01/2025 12h38

Enquanto o mundo se lança em uma corrida pela inteligência artificial, considerada pelos seus promotores a revolução tecnológica do século, um novo ator vindo da China abalou a ordem estabelecida. Até agora, pensava-se que os Estados Unidos tinham uma vantagem considerável nesse campo, mas a apresentação pública do DeepSeek causou um grande impacto, mostrando o contrário, a ponto de provocar uma queda acentuada nas ações da Nvidia, líder de componentes, em Wall Street.

Em poucos dias, o aplicativo chinês, com seu simpático logo de baleia azul, conquistou o primeiro lugar na App Store, tornando-se o aplicativo gratuito mais baixado da loja virtual da Apple, relata Nathanaël Vittrant, da RFI. DeepSeek, "pesquisa profunda", em português, é criação de uma startup homônima de Hangzhou, grande cidade no leste da China.

Assim como o OpenAI causou um choque no final de 2022 ao lançar o ChatGPT, capaz de responder a uma variedade de perguntas de maneira natural, o DeepSeek chegou para desafiar as certezas do Vale do Silício.

Primeiro, porque seu modelo de inteligência artificial, apresentado na semana passada, rivaliza com os gigantes americanos, superando-os em sua capacidade de resolver problemas matemáticos difíceis ou equações complexas. Depois, porque a startup chinesa alcançou esse resultado impressionante usando chips eletrônicos bem menos poderosos que seus concorrentes americanos, e a um custo muito menor. Enquanto o OpenAI e outros gastaram bilhões de dólares em seus modelos de IA generativa, o DeepSeek afirma ter treinado sua versão mais recente de IA por pouco mais de US$ 5 milhões.

Washington fez de tudo para limitar o acesso das empresas chinesas aos chips de última geração e às tecnologias mais sofisticadas. Os chineses acabaram de provar que podem fazer mais com menos. Esse dado foi suficiente para derrubar as ações dos gigantes do setor de tecnologia nos EUA e no Japão, mas não a ponto de apagar o crescimento considerável dessas empresas nos últimos anos.

A Nvidia, líder mundial em componentes e softwares para IA, caiu 13% na abertura de Wall Street na segunda-feira (27), com prejuízo de quase US$ 600 bilhões (R$ 3,55 trilhões) em capitalização de mercado, uma das piores perdas da história, segundo a imprensa americana.

Recalculando   

Outras empresas do setor de semicondutores também sofreram quedas: a Broadcoam perdeu 17,4%, enquanto a holandesa ASML, que produz as máquinas usadas para fabricar os semicondutores, cedeu 6,7%.

Na Europa, as bolsas de Frankfurt e Paris fecharam em baixa, enquanto Londres permaneceu estável.

Na semana passada, após sua posse, Donald Trump anunciou investimentos de US$ 500 bilhões (R$ 2,96 trilhões) na construção da infraestrutura de IA nos Estados Unidos, em uma iniciativa liderada pelo japonês SoftBank e pela criadora do ChatGPT, a OpenAI.

O SoftBank teve uma queda de 8% na bolsa de Tóquio na manhã desta terça-feira. 

Censura

DeepSeek não está sem limitações. Como todas as IAs, ela carrega os vieses de seus criadores. A censura presente nas redes e na internet chinesas também é refletida no DeepSeek. Por exemplo, se for perguntado sobre o presidente chinês Xi Jinping, a IA prefere mudar de assunto.

Se for questionada sobre a situação dos direitos humanos em Xinjiang ? região onde a China é acusada de manter a minoria uigur em campos de trabalho forçado ?, ela responde que "sob a liderança do Partido Comunista Chinês, Xinjiang alcançou estabilidade social, crescimento econômico, unidade étnica e harmonia religiosa", repetindo quase palavra por palavra a propaganda de Pequim.

Repercussões

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda que a ferramente chinesa DeepSeek é um "chamado para a realidade" para as empresas americanas.

"O lançamento da inteligência artificial DeepSeek por uma empresa chinesa será um chamado de atenção para nossas indústrias sobre [o fato de] que devemos nos concentrar em competir para vencer", disse Trump a congressistas republicanos em Miami.

Wall Street teme que o chatbot da DeepSeek possa competir com a OpenAI e seu popular ChatGPT. O CEO da OpenAI, Sam Altman, escreveu na rede social X que é "legitimamente estimulante ter um novo concorrente". Ele chamou o R1 da DeepSeek de "um modelo impressionante, em particular pelo que são capazes de oferecer pelo preço".

Nesta semana, o mercado estará de olho nos resultados de diversos gigantes da tecnologia e da IA, como Meta e Microsoft, o que será uma oportunidade para comentários sobre o surgimento da empresa chinesa. Além disso, espera-se a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) sobre as taxas de juros na quarta-feira.  

Ascensão fulgurante   

A China pretende se tornar líder da IA até 2030 e, para isso, prevê investir bilhões de dólares neste setor nos próximos anos.

O sucesso do DeepSeek mostra que as empresas chinesas começam a superar os obstáculos que vinham enfrentando.

Na semana passada, o fundador do DeepSeek, Liang Wenfeng, participou de uma reunião com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, o que reflete a ascensão fascinante da empresa.

Preocupação com privacidade

O ministro australiano da Indústria e de Ciências, Ed Husic, demonstrou preocupação com o novo modelo de inteligência artificial chinês da Deep Seek

Segundo o ministro australiano, o chatbot da DeepSeek pode ter alto desempenho, por um custo bem menor do que o concorrente ChatGPT, da americana Open AI, mas ainda há muitas perguntas que devem ser respondidas sobre a qualidade, as preferências dos consumidores, a gestão de dados e privacidade" dessa inteligência artificial.

Em entrevista ao canal de TV australiano ABC, ele enfatizou que teria muito cuidado", porque as empresas chinesas às vezes diferem dos concorrentes em termos de privacidade do usuário e gestão de dados. O australiano reconheceu que os chineses são muito bons em desenvolver produtos que funcionam bem, mas internamente a questão da privacidade é tratada de forma diferente ao que estão habituados os usuários ocidentais.

Em 2018, a Austrália proibiu a participação do grupo chinês de telecomunicações Huawei em sua rede nacional da 5G, alegando preocupações de segurança nacional. O governo australiano é um importante aliado dos Estados Unidos na região Indo-Pacífico e frequentemente denuncia a presença de espiões chineses em seu território.

(Com AFP)

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