Empresário morreu em SC; quais os riscos de fazer tatuagem com anestesia?

O empresário Ricardo Godoi, 46, morreu após tomar anestesia geral para fazer uma tatuagem nas costas, em Itapema (SC). O procedimento ocorreu em um hospital, e a tatuagem seria feita no mesmo local por uma equipe de três tatuadores, mas Ricardo teria sofrido um problema cardiorrespiratório logo após a sedação.
Quais os riscos de sedação para tatuagem?
São os mesmos de uma cirurgia e condições do paciente podem impedir procedimento. "Há fatores relacionados aos procedimentos, como a intensidade e extensão da intervenção, e fatores relacionados às condições físicas do próprio paciente, como a presença de doenças que possam comprometer e até impedir a realização e adiamento de procedimentos eletivos", disse a SBA (Sociedade Brasileira de Anestesiologia) em nota sobre o assunto divulgada em outubro do ano passado.
Paciente deve ser acompanhado todo o tempo por anestesista. O risco não tem a ver com a tatuagem, mas com a anestesia geral, um procedimento delicado e que afeta todo o organismo. O médico precisa ficar ao lado do paciente acompanhando respiração, ventilação, pressão, batimentos cardíacos, temperatura corporal e outras possíveis alterações.
Quando há histórico de problemas cardíacos, esses cuidados precisam ser ainda maiores. Especialistas não recomendam o uso de anestésicos tão agressivos para um procedimento tão simples como a tatuagem.
Hospital alega que Godoi usava anabolizantes, mas a esposa nega. Na certidão de óbito dele, o hospital Dia Revitalite informou que a morte teria acontecido por uma parada cardíaca em decorrência do uso de anabolizantes. À polícia, esposa dele informou que a vítima não usava a substância há pelo menos cinco meses. A Polícia Civil de Santa Catarina pediu à Justiça que o corpo do empresário seja exumado.
Anestesia só pode ser prescrita, aplicada e monitorada por profissionais qualificados. Apenas aqueles registrados na área de medicina e odontologia podem manejar anestésicos, que são medicamentos de uso controlado. A SBA afirma que o uso de anestesia para tatuagens deve obedecer às normas vigentes determinadas pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
A SBA entende que é um procedimento doloroso. Entretanto, até o momento, a administração de anestesia está condicionada à presença de pelo menos dois médicos: o anestesiologista e o profissional que realiza o procedimento cirúrgico ou diagnóstico, incluindo o cirurgião-dentista, considerando a Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966. Nota da SBA de outubro de 2024
Ao UOL, defesa de tatuador afirmou que exames de Ricardo foram feitos e aprovados previamente. ''Contratamos um hospital particular com toda equipe, equipamentos e drogas anestésicas necessárias para a segurança do procedimento. Contratamos também um médico com especialização em anestesiologia e experiência em intubação, que teve sua documentação aprovada pelo hospital'', afirmou, em nota.
Ricardo assinou o termo de consentimento de risco. Ainda segundo a defesa do tatuador que atendia o empresário, o procedimento é regulamentado pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) e feito quando o cliente prefere não sentir dor e quer fazer a tatuagem em uma única sessão.
Em tese, a anestesia não deve ser aplicada para procedimentos realizados por pessoas que não são da área médica. Conforme o parecer nº 38/2001 do CFM, o ato anestésico complementa o trabalho de outro médico e exclui, "pela natureza diversa de sua formação, os profissionais que não compartilham dos atributos que caracterizam os que se dedicam à medicina".
Ainda assim, caso o procedimento seja feito por outros profissionais, deve obedecer a resolução do CFM nº 2174/2017. O documento dá recomendações diversas, incluindo uma criteriosa avaliação pré-anestésica. "Outras resoluções do CFM tratam da realização de procedimentos no ambiente ambulatorial, as quais também devem ser respeitadas pelos anestesiologistas", disse a SBA.
Cuidados para a anestesia
Seguindo as normas, a pessoa que fará a tatuagem deve ser avaliada por anestesiologista antes da internação. O profissional vai entrevistar e fazer exame físico para decidir sobre a necessidade da realização de exames complementares ou não. Outros profissionais podem ser envolvidos se houver necessidade de avaliação adicional, como cardiologista. Um termo de consentimento livre e esclarecido deve ser apresentado e assinado, no qual o paciente declara estar ciente dos riscos e a segurança do procedimento.
Finalizada a tatuagem, os cuidados são semelhantes ao de uma cirurgia sob anestesia. "Também devem ser considerados as condições clínicas prévias do paciente, assim como o grau de intervenção, o qual pode determinar maior ou menor grau de dor e outros eventos", informou a SBA.
* Com informações de matéria publicada em 1/12/2022 e 31/10/2024