Bronca em ministros e cobrança por entrega: Como foi a 1ª reunião de Lula
A primeira reunião ministerial do governo Lula (PT) em 2025 teve bronca em ministros, cobrança por entregas de cada pasta, pedidos por mudanças na comunicação e alertas de olho em 2026.
O que aconteceu
O primeiro encontro do ano durou cerca de 7 horas, na Granja do Torto, com balanço e reorganização. É também a primeira reunião ministerial de Sidônio Palmeira no comando da Secom (Secretaria de Comunicação Social) no lugar de Paulo Pimenta, e Lula deixou claro que a comunicação e o entrosamento na equipe serão focos de atenção.
Lula começou a reunião distribuindo recado. "Daqui para frente, nenhum ministro vai poder fazer portaria que depois crie confusão para nós, sem que essa portaria passe pela Presidência da República, pela Casa Civil", afirmou Lula.
A bronca ocorre após a confusão envolvendo mudanças no Pix na semana passada. Membros do governo admitem que o episódio foi, de longe, o pior acontecimento nestes dois anos de mandato de Lula e consideram o recuo uma tentativa irrisória de estancar a sangria.
"É importante que a gente tenha centralidade nas decisões e nos anúncios", afirmou Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, após o encontro. "O ministro Sidônio disse que é preciso, nesse mundo de alta velocidade, que a informação organizada chegue primeiro à população, antes de chegar a mentira. Vai impactar muitas pessoas? Então é preciso ser feito um plano de comunicação."
Além da comunicação, a fala foi vista como uma crítica ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Lula foi pego de surpresa pela crise do Pix. A portaria que aumentava a fiscalização foi publicada em outubro do ano passado, mas só começou a valer a partir de janeiro, quando a oposição se aproveitou do caso para divulgar desinformação.
Rui colocou panos quentes. Disse que esta reunião teve um clima bom e que só se trata de uma questão de organização. Segundo o UOL apurou, Sidônio já conversou com a equipe da Fazenda e de outros ministérios, como Cultura e Saúde, para azeitar a relação.
Lula quer reforçar a seus ministros que há um problema em como o governo tem sido visto. Como pontapé, colocou Sidônio para articular uma coordenação com todas as pastas. O novo ministro tem carta branca do presidente para dar broncas, reclamar e pedir alterações em estratégias de outros ministérios, o que já começou a acontecer.
Hora de entregar
Lula cobrou mais entregas concretas, que impactem no cotidiano da população de forma imediata. Se ele diz que os feitos não chegam aos cidadãos, quer cobrar que estas conquistas existam. Como o UOL mostrou, Lula alçava 2024 como o "ano da colheita", mas, sem ter tanto a entregar, postergou esta alcunha para 2025.
"Agora, chegou a hora de a onça beber água", disse Rui. Embora reclame da comunicação publicamente, internamente Lula fala que já queria ter entregado muito mais ações concretas, como as de infraestrutura, do que as já contempladas nestes dois primeiros anos.
A entrega que fizemos para o povo ainda não foi a entrega que nos comprometemos em 2022, porque muita coisa que plantamos ainda não nasceu.
Lula, a ministros
Às vésperas da reforma
Na iminência de acontecer, a reforma ministerial não foi um dos assuntos da reunião, disse Rui. O ministro-chefe da Casa Civil disse que o assunto foi explícito e focado: cobrar o que foi entregue e pedir um plano até o fim do governo, sem espaços para muitos desvios, embora Lula seja conhecido por dar recados (às vezes nem tão sutis) no meio das suas falas.
As mudanças foram a base do encontro. Em meio a negociações já de olho em 2026, muitos ministros esperam (ou temem) que este seja seu último encontro geral com o presidente. No Planalto, não se esconde que haverá mudanças em pastas.
De olho em 2026
Este é um ano crucial para o governo. De olho nas possíveis alianças, Lula sabe que tem de entregar um resultado econômico robusto, com aceitação da população, para que consiga construir boas alianças. Atualmente, o governo tem dez partidos na Esplanada, mas não está nada garantido que os principais deles sigam com o PT em 2026.
"Pelos adversários, a eleição do ano que vem já começou", afirmou Lula aos ministros. "É só ver o que vocês assistem na internet para vocês perceberem que eles já estão em campanha. Não queremos entregar esse país de volta ao neofascismo, neonazismo e autoritarismo."
"Essa é uma tarefa também de vocês no ano de 2025", completou o presidente. "Temos vários partidos políticos, eu quero que esses partidos continuem junto, mas estamos chegando ao processo eleitoral e a gente não sabe se os partidos que vocês representam querem continuar trabalhando conosco ou não."