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Corpo de sogro também tinha: por quanto tempo arsênio pode ser detectado?

Todos os anos, Zeli preparava uma receita de bolo para o Natal em família. À direita, o mesmo bolo, feito em 2024, mas dessa vez envenenado com arsênio - Reprodução/Redes Sociais
Todos os anos, Zeli preparava uma receita de bolo para o Natal em família. À direita, o mesmo bolo, feito em 2024, mas dessa vez envenenado com arsênio Imagem: Reprodução/Redes Sociais
do UOL

De VivaBem, em São Paulo

10/01/2025 14h01

Foi constatado nesta sexta-feira (10) que o sogro de Deise Moura dos Anjos, presa por suspeita de envenenar um bolo que matou três pessoas em Torres (RS), também ingeriu arsênio antes de morrer.

Esse tipo de investigação depois que o homem morreu foi possível pois, segundo Rinaldo Tavares, professor de toxicologia clínica da UFF (Universidade Federal Fluminense), o arsênio se acumula nos tecidos do corpo humano e pode permanecer indefinidamente no organismo quando ingerido em quantidades elevadas.

Como age o arsênio no corpo

Altamente tóxico para o ser humano, o semimetal é encontrado no solo. "É um dos elementos tóxicos mais clássicos, assim como chumbo e o mercúrio", diz Tavares.

Exposição pode causar efeitos a longo prazo e até a morte. Dependendo da exposição, pode causar uma intoxicação aguda e levar ao coma e à morte, segundo o professor de toxicologia clínica. "Em pequenas quantidades, pode gerar efeito a longo prazo, principalmente com danos no sistema cardiovascular e predispondo até a neoplasias (tumores)", explica Tavares.

Os sintomas são comuns aos de outras intoxicações. Normalmente o quadro clínico começa com um quadro gastrointestinal de diarreia, vômito e dor abdominal que pode levar até ao sangramento intestinal. Também pode causar distúrbios cardiovasculares e choque cardiogênico (ineficiência do coração em bombear sangue para os órgãos).

Logicamente, não é um quadro que ninguém pensa, de primeira, numa intoxicação por arsênio. Agora, quando a gente tem vários casos parecidos e advindos de uma mesma fonte, por terem comido um determinado alimento comum ou porque estavam num determinado local, a gente tem que levantar alerta e ficar atento para a intoxicação. Aí começaríamos a suspeitar de alguma coisa. Rinaldo Tavares, professor de toxicologia da UFF, sobre o caso da família de Torres (RS)

Amostras de sangue, urina, suco gástrico e qualquer tipo de tecido podem detectar arsênio, mesmo após a morte. Segundo o toxicologista, enquanto o corpo tiver tecido residual (pele, músculos, entre outros órgãos), é possível encontrar a substância. Já cabelos e unhas não são utilizados para verificar a presença de substâncias como o arsênio. "Podem estar contaminados com tintura de cabelo, esmaltes e outros compostos químicos que também têm a substância investigada em sua composição, podendo gerar resultado falso positivo", diz.

Relembre o caso

Exumação em Canoas - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
A exumação do corpo de Paulo Luiz dos Anjos foi realizada no Cemitério São Vicente, em Canoas (RS)
Imagem: Reprodução/TV Globo

Paulo dos Anjos, 68, morreu em setembro de 2024 após comer bananas e leite em pó que foram levados à casa dele pela nora Deise. Na época, a morte foi registrada como complicações de uma infecção intestinal.

A suspeita pesquisou veneno, receita de veneno que fosse inodora, sem cheiro, sem gosto, segundo delegada. De acordo com Sabrina Deffente, delegada da PCRS (Polícia Civil do Rio Grande do Sul), com base nas pesquisas, Deise chegou a uma composição química, que ela tentou montar. "Percebemos isso através das compras nos sites. E, com essa combinação, ela começa a tentar envenenar familiares, chegando na morte do sogro."

A Justiça autorizou a exumação do corpo de Paulo após Deise ser presa por suspeita de envenenar a própria família. Após a coleta de material genético, o corpo de Paulo foi reconduzido ao túmulo. A perícia faz parte da investigação da morte das três pessoas que consumiram o bolo envenenado.

Suspeita tentou convencer a família a cremar o sogro após morte. Segundo a polícia, tentativa não teve sucesso porque faltou assinatura de um dos médicos.

Perícia constatou a presença de arsênio no corpo de Paulo. Laudos de exames do IGP (Instituto-Geral de Perícias) foram obtidos pelo Zero Hora e confirmados pela Polícia Civíl nesta sexta-feira (10).

A defesa de Deise diz que vai se manifestar em "momento oportuno". Em nota, os advogados Manuela Almeida, Vinícius Boniatti e Gabriela Souza divulgaram que prestaram "atendimento em parlatório" à familiar investigada e que não tiveram "acesso integral à investigação em andamento".

*Com informações de reportagens publicadas em 28/12/2024 e 10/1/2025

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