Chefe da ONU pede em abertura da COP16 'investimento significativo' para salvar natureza
O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou neste domingo (20) as nações reunidas na COP16, a cúpula sobre biodiversidade que ocorre na cidade colombiana de Cali, a realizar um "investimento significativo" em um fundo criado para conservar e restaurar a natureza.
O evento, que começa oficialmente na segunda-feira, teve uma abertura cerimonial neste domingo, com Cali em alerta máximo devido a ameaças de guerrilhas na região sudoeste da Colômbia.
Guterres dirigiu-se por vídeo aos convidados do ato realizado sob a proteção de milhares de policiais e soldados colombianos espalhados pela cidade.
"Devemos sair de Cali com um investimento significativo no Fundo do Marco Global da Diversidade Biológica (GBFF, na sigla em inglês) e compromissos para mobilizar outras fontes de financiamento público e privado", disse o chefe da ONU.
O GBFF foi criado no ano passado para ajudar os países a atingir os objetivos do Marco Global de Kunming-Montreal, adotado no Canadá em 2022, com 23 metas para "interromper e reverter" a perda da natureza até 2030.
Até agora, os países comprometeram-se a contribuir com cerca de 250 milhões de dólares para o fundo, segundo as agências que supervisionam o processo.
O fundo faz parte de um acordo mais amplo para que os países mobilizem pelo menos 200 bilhões de dólares anuais até 2030 para a biodiversidade, incluindo 20 bilhões anuais até 2025, oriundos de nações ricas para ajudar países em desenvolvimento.
Guterres destacou que a destruição do meio ambiente aumenta os conflitos, a fome e as doenças, alimenta a pobreza e reduz o produto interno bruto (PIB).
"O colapso dos serviços da natureza - como a polinização e a água limpa - custaria à economia global trilhões de dólares por ano, com os mais pobres sendo os mais afetados", afirmou.
Para evitar esse futuro, os países precisam "cumprir suas promessas financeiras", apontou Guterres. "Aqueles que se beneficiam da natureza devem contribuir para sua proteção e restauração."
- "Paz com a natureza" -
Cerca de 12 mil delegados de quase 200 países, incluindo uma dúzia de chefes de Estado e 140 ministros, são esperados nesta 16ª Conferência das Partes (COP16) da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, que se estenderá até 1º de novembro.
Sob o lema "Paz com a natureza", a cúpula tem a urgente tarefa de criar mecanismos de monitoramento e financiamento que garantam o cumprimento dos objetivos estabelecidos pela ONU.
No entanto, o Estado-Maior Central (EMC), a maior facção dissidente da extinta guerrilha das Farc, está em guerra contra o governo e pretende atrapalhar a cúpula. O grupo armado recomendou aos delegados que não comparecessem.
A Colômbia vive um conflito interno há seis décadas, que deixou mais de 9 milhões de vítimas ao longo desse tempo.
Na manhã de domingo, o exército prendeu três pessoas na estrada entre Cali e Popayán, no sudoeste do país, após saber de um "bloqueio ilegal" por parte de combatentes da frente Dagoberto Ramos, ligada ao EMC.
As tensões na região ocorrem uma semana após o presidente, o esquerdista Gustavo Petro, decidir intervir com o exército em uma área dominada pelo EMC, conhecida como o Cânion do Micay, no departamento de Cauca.
Com a segurança como um desafio, cerca de 11 mil policiais e soldados colombianos, apoiados por pessoal de segurança da ONU e dos Estados Unidos, foram mobilizados.
- Contagem regressiva -
Os delegados têm muito trabalho pela frente, já que restam apenas cinco anos para atingir a meta de proteger 30% das áreas terrestres e marinhas até 2030.
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que mantém uma lista vermelha de animais e plantas ameaçados, mais de um quarto das espécies avaliadas pela organização estão em risco de extinção.
A Colômbia é um dos países com maior biodiversidade do mundo, e Petro fez da proteção ambiental uma de suas principais bandeiras.
O presidente colombiano instou os países, durante seu discurso na abertura neste domingo, a gerar "novas formas de produção" e a pensar em "uma maneira diferente de conceber e experimentar a riqueza que se baseie não mais em energias fósseis da morte, mas em energias limpas".
A Colômbia também abriga um grande número de povos indígenas, muitos dos quais vítimas da violência armada. O governo pretende permitir que desempenhem um papel importante nos debates.
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