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Ex-pastor denuncia abusos espirituais: o que se sabe da Igreja Aliançados

Apóstolo Denilson Fonseca é o  líder da Igreja Comunidade Cristã Aliançados - Reprodução/Instagram
Apóstolo Denilson Fonseca é o líder da Igreja Comunidade Cristã Aliançados Imagem: Reprodução/Instagram
do UOL

Ranieri Costa

Colaboração para o UOL

19/09/2024 05h30

No final de agosto, surgiram denúncias de abuso espiritual e financeiro na Igreja Comunidade Cristã Aliançados, localizada em Campo Grande e liderada pelo apóstolo Denilson Fonseca. As acusações vieram à tona após uma nota de esclarecimento de Paulo César Lemos, ex-pastor da instituição. Ele narrou sua trajetória na igreja, incluindo mudanças constantes de função e remuneração, o que o levou a enfrentar dificuldades financeiras e desgastes familiares que culminaram em seu divórcio.

Após a separação, Lemos afirma ter recebido garantias de que seu papel na igreja permaneceria inalterado, mas, posteriormente, foi acusado de má conduta, como má-fé, manipulação e deslealdade pela igreja. Ele nega todas as acusações.

O apóstolo Denilson Fonseca, foi procurado pela reportagem, mas não retornou o contato.

Práticas de controle e manipulação

Além do relato de Lemos, outras pessoas ouvidas pela reportagem - que pediram para não serem identificadas - também compartilham experiências de abusos na Aliançados. Uma delas descreveu práticas de controle psicológico e financeiro sobre os fiéis.

"Não era permitido faltar aos cultos, principalmente se fosse para ir a uma festa de família ou até mesmo comemorar um simples aniversário, quem faltava, ficava mal falado pelo pastor", disse o ex-membro da igreja.

Outra pessoa relatou que apenas os "fielmente dizimistas, ofertantes e primiciantes" podiam servir na igreja. De acordo com esse relato, as contribuições financeiras eram utilizadas como critério para participação ativa nos ministérios da igreja.

As práticas de coerção financeira também incluíam constrangimentos públicos, segundo as vítimas: "Quem não dava dízimo, oferta e primícia era chamado atenção e até mesmo ameaçado de sair do cargo".

Um ex-membro relatou que os não dizimistas eram expostos publicamente durante os cultos, evidenciando o uso de vergonha e pressão para manter controle financeiro sobre os fiéis. Relatos indicam que a adulação aos líderes era exigida, com críticas a quem não participava de homenagens aos pastores: "Se você não comprar presente em festa de aniversário deles e fazer uma festa, você não presta e é desleal".

Exposição pública e impactos emocionais

Paulo César Lemos, que processa a igreja e seu líder, relatou ter sofrido exposição pública ao ser desligado. Segundo ele, Denilson promoveu uma reunião aberta onde, diante de mais de 50 presentes, "expôs para todo mundo, publicamente, as acusações de má-fé e o comportamento que ele alegava que eu tinha". Lemos descreve o episódio como uma tentativa de desacreditar sua reputação: "Ele quis me envergonhar diante de toda a igreja, não só me afastando, mas colocando em dúvida a minha integridade na frente de todos".

Outro depoimento revelou o isolamento intencional dos membros, proibidos de buscar orientação espiritual fora da Aliançados: "Quem frequenta a igreja é proibido de ir em outro ministério e de até mesmo seguir ou até assistir alguma pregação de outros pastores, mesmo que seja em redes sociais." Esses relatos destacam uma tentativa de controle absoluto sobre o grupo, com ex-membros relatando experiências de exclusão social após deixarem a igreja.

Abuso financeiro e rifas suspeitas

Entre os relatos de abuso financeiro, um ex-membro detalhou práticas suspeitas envolvendo rifas organizadas pela igreja. Ele explicou que a liderança promovia rifas anuais de veículos, como carros e motos, com os membros sendo obrigados a vender e comprar os bilhetes, mesmo sem condições financeiras.

Em 2022, ele e a esposa receberam 16 carnês, cada um com cinco números, custando R$ 20,00 cada. A pressão para vender os carnês, conforme contou à reportagem, era intensa, e quem não conseguia era criticado pelos pastores.

"O pastor daquela época chamou os servos de incapazes e ficou com muita raiva", disse o ex-integrante, acrescentando que havia suspeitas de desvio dos fundos arrecadados, que deveriam ser investidos na igreja, mas supostamente retornavam em grande parte para o apóstolo Denilson, sem melhorias visíveis na comunidade.

Em resposta ao acontecimento, o pastor Anderson Silva, líder da Machonaria, expressou solidariedade a Lemos em uma postagem: "Meu querido Irmão, me solidarizo com você! Me recordo que desde minha conversão há duas décadas, seu ministério já era uma bênção ao nosso País! Quero lhe afirmar que não estás sozinho, e que o Corpo de Cristo não irá desampará-lo!".

Thiago Alicerce, conhecido por denunciar abusos na igreja Bola de Neve, parabenizou Lemos pelo posicionamento, afirmando que já havia falado "dessa seita algumas vezes. É uma seita pesada". Outros comentários nas redes sociais reforçam as acusações, com relatos de ex-membros sobre o impacto negativo de sua experiência na igreja.

O apóstolo Denilson Fonseca, foi procurado pela reportagem, mas não retornou o contato.

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