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Desemprego à vista? Por que carros elétricos ameaçam o futuro dos mecânicos

Posto de recarga de carro elétrico na China - Huang Zongzhi/Xinhua
Posto de recarga de carro elétrico na China Imagem: Huang Zongzhi/Xinhua
do UOL

Julio Cabral

Colaboração para o UOL

08/05/2024 08h00

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Notícias sobre demissões em massa causadas pelas baixas vendas de carros elétricos se tornaram cada vez mais comuns. Embora estejam ligadas ao desaquecimento do mercado de veículos de emissão zero, os veículos elétricos também são fontes de preocupação quando ao futuro de mecânicos e operários das montadoras.

Seriam os elétricos os vilões de uma onda que vai mudar o jeito de produzir e manter os novos tipos de automóveis? Segundo especialistas consultados pelo UOL Carros, no Brasil, ao menos, essa transição deverá acontecer em um ritmo mais lento - mas o mesmo não pode ser dito a respeito de outros mercados.

Os especialistas afirmam que, por enquanto, o movimento será amortecido pela nova realidade de produção dos carros e da manutenção. Por mais que tais veículos tenham menos peças móveis, nem tudo neles é simplificado em relação a um automóvel comum.

"Os veículos 100% elétricos, quando comparados aos veículos a combustão interna, são menos complexos, possuem menos peças móveis, sistemas de refrigeração simplificados e não precisam da troca de óleo lubrificante e filtro de óleo. Contudo, vale ressaltar que de uma forma geral, os veículos elétricos usam baterias de alta tensão e são mais pesados que os convencionais a combustão e, por este motivo, precisam de pneus de maior capacidade de carga e tecnologia, inclusive amortecedores e sistema de suspensão preparados para esta condição, que no caso do Brasil, em função de algumas estradas, pode ser mais complexa e severa", explica Cleber Willian Gomes, professor de Engenharia Mecânica da FEI (Fundação Educacional Inaciana).

Nos demais elementos, não há uma diferenciação enorme entre um modelo elétrico e um a combustão. "Serão retiradas as partes do motor a combustão, um enxugamento. Comparativamente, ele vai ter menos componentes mecânicos nessa parte, mas o chassi e demais partes continuarão a demandar mão de obra", ressalta Wanderlei Marinho, membro do Comitê de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE BRASIL. "Do chassi para baixo o carro vai ficar mais hardware e software", complementa.

Além da questão dinâmica e estrutural, a tendência consolidada de agregar cada vez mais conteúdo é uma das responsáveis pela manutenção do grau de complexidade dos produtos. "Ao mesmo tempo que o sistema de propulsão ganha em simplicidade, novas tecnologias de segurança (sistemas anti-colisão) e até mesmo sistemas semi autônomos estão presentes. Há também a presença de diversos módulos eletrônicos de controle e conectividade e, desta forma, possibilitam que novos serviços sejam oferecidos", afirma Cleber.

A transição preocupa profissionais do setor de manutenção, uma vez que pode atingir as oficinas, uma ansiedade compartilhada por um mecânico da Porsche, que preferiu não se identificar. "Como a empresa está se eletrificando rapidamente, alguns dos serviços mudaram muito. Porém, cursos ajudam a virar a chave e encarar esse novo tipo de carro. E também tem sempre a manutenção dos carros normais e híbridos", relativiza.

Investir na preparação de novos profissionais é vital para evitar cortes drásticos de pessoal. "Eu vejo as pessoas se antecipando, técnicos, engenheiros estão se antecipando. Muitos estão vislumbrando, até para ter capacidade. Vejo alunos sendo levados para fora para fazerem a capacitação dentro da própria empresa", declara Wanderlei.

Oferecer novos serviços pode ser uma maneira de garantir o trabalho das equipes de reparo das concessionárias e outras lojas. "O intervalo de manutenção dos veículos elétricos é diferente e certamente gera uma necessidade de readequação do segmento de reparos e vai depender muito da capacidade de oferecer a manutenção preventiva e serviços adicionais que tragam o cliente para o centro automotivo para um ganho de conforto e produtividade", projeta Cleber.

Diferentemente dos Estados Unidos, Europa e China, a mudança de rumo do mercado brasileiro promete ser mais gradual e segura. Os híbridos leves, convencionais e plug-in serão etapas até os elétricos ganharem uma presença mais forte. Mais complexos do que um carro a combustão, tais automóveis acrescentam complexidade mecânica.

"No Brasil, teremos uma preocupação, mas os híbridos vão ficar por um bom tempo. Pelo contrário, vamos precisar de pessoas complementares trabalhando com a equipe atual, vou até aumentar o escopo", aposta Wanderlei. "A questão é qual será a proporção entre híbridos e elétricos no Brasil?", complementa o professor, que aposta que o movimento de transição ainda levará de cinco a dez anos.

Sistemas híbridos leves, híbridos e plug-in estão previstos para modelos de todo grupo Stellantis. Recentemente, a General Motors afirmou que vai apostar nos híbridos, não somente nos elétricos. Colocar todas as fichas na eletrificação total é um movimento questionado por sindicatos, governos, grupos empresariais e representantes de fabricantes.

A própria União Europeia voltou atrás no plano de produção de carros totalmente elétricos a partir de 2035, abrindo uma exceção para carros a combustão movidos com combustível sintético. O incentivo brasileiro para o uso do etanol como matriz mais ecológica do que os derivados de petróleo é outra saída no mesmo sentido.

Talvez seja a adoção de múltiplas formas motrizes será salvação dos empregos da indústria automotiva, e não apenas no Brasil, mas por todo mundo.

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