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Sob chuva e bombas, palestinos fogem de Rafah em busca de abrigo mais uma vez

Reuters

06/05/2024 14h54

Por Hatem Khaled

RAFAH, Faixa de Gaza (Reuters) - Atingidos pela chuva e com medo das bombas israelenses, civis palestinos saíam das tendas nos acampamentos encharcados ou das casas de família em Rafah nesta segunda-feira para buscar refúgio em outras áreas da Faixa de Gaza, em meio à expectativa de uma nova ofensiva do Exército israelense.

Pessoas carregavam crianças e pertences em carroças puxadas por burros, entravam em carros ou simplesmente caminhavam a pé. O teto de um automóvel estava repleto de colchões. Outro tinha uma cadeira de rodas guardada no porta-malas.

A pergunta na mente das pessoas era para onde ir. Muitas já haviam se mudado pelo menos uma vez durante os sete meses de ataques israelenses a Gaza. Grande parte do enclave costeiro foi transformado em um terreno baldio de prédios bombardeados.

"A ocupação israelense disse às pessoas para irem para Rafah, que é uma área segura. Hoje, eles estão nos dizendo para sairmos de Rafah. Para onde as pessoas irão?", disse um homem, Abu Ahmed.

Ahmed dava a entrevista em um campo de deslocados transformado em um conjunto de poças e lama pelas chuvas da noite anterior, agravando a miséria.

Israel ordenou que os palestinos se retirassem de áreas de Rafah na madrugada desta segunda-feira, aparentemente preparando-se para um ataque contra militantes do Hamas que se mantêm na cidade de Gaza, ao sul.

Mais de um milhão de pessoas desalojadas pelo conflito haviam buscado abrigo em Rafah. O Exército israelense disse a elas que se mudem para o que chamaram de "zona humanitária expandida" a 20 km de distância.

Enquanto as pessoas começavam a fazer as malas e a se mudar, já foram ouvidas explosões de ataques aéreos no leste de Rafah, com fumaça e poeira revelando um cenário assustador para a retirada forçada.

"Estamos acordados desde as duas da manhã por causa do bombardeio, e acordamos de manhã com uma chuva torrencial, nos afogamos na chuva, nossas roupas e itens também — estamos nas ruas", disse Aminah Adwan, moradora do acampamento.

"Também acordamos com notícias muito piores, o chamado para se retirar de Rafah. Vai ocorrer o maior genocídio, vai ocorrer a maior catástrofe Rafah", disse ela.

Adwan fez um apelo aos países árabes que providenciem um cessar-fogo para salvar os civis.

Mais de 34.700 palestinos foram mortos e pelo menos 78.000 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, na investida de Israel que começou após um ataque transfronteiriço do Hamas em 7 de outubro no qual 1.200 pessoas foram mortas e 252 feitas reféns, de acordo com as contagens israelenses.

Israel afirma que Rafah abriga milhares de combatentes do Hamas e, possivelmente, dezenas de reféns, e que a captura da cidade é fundamental para derrotar o Hamas e libertar os que ainda são mantidos como reféns.

"DEUS É NOSSO ÚNICO APOIO"

No campo, mulheres penduravam roupas e cobertores para secar, enquanto crianças cuidavam de irmãos mais novos e homens cavavam trincheiras para canalizar a água da chuva.

Maher al-Jamal disse que havia fugido de Al Mughraqa, cidade próxima à Cidade de Gaza, no norte do enclave, para Nuseirat, no centro, e depois para Rafah.

"Agora eles ameaçam Rafah, vão cometer massacres aqui em Rafah, será um genocídio. Sinceramente, não sabemos para onde ir. Deus é o nosso único apoio", disse ele.

As pessoas que saíam de suas casas e tendas nos acampamentos de deslocados tinham como áreas mais visadas o principal hospital de Rafah e a passagem de Rafah — única janela para o mundo para a maioria da população de Gaza — assim como a Kerem Shalom, administrada por Israel. As duas passagens são vitais para o fluxo de mercadorias para o enclave.

Em uma rua principal de Rafah, uma mulher em fuga disse ter recebido ligações telefônicas israelenses a noite toda, avisando que se retirasse.

"As pessoas estão todas mortas, o que eles querem de nós?", disse Rahmah Naser, agitando os braços em sinal de angústia.

"Eles mataram nossos filhos. Meu sobrinho (foi encontrado) em pedaços, sem cabeça ou pernas. Que vergonha para eles. Essas pessoas já estão fartas, para onde devem ir?"

Mohammad al-Najjar, um estagiário de Direito de 23 anos que vive com a família no oeste de Rafah, disse que as pessoas foram tomadas pelo medo e pela ansiedade após a ordem de retirada israelense.

"Nenhuma área é segura", disse à Reuters por telefone.

Segundo ele, as poucas áreas relativamente seguras para as quais os palestinos poderiam fugir já estão lotadas de barracas e milhares de deslocados.

"Tudo o que resta em Gaza é a morte", afirmou. "Eu gostaria de poder apagar esses últimos sete meses de minha memória."

(Reportagem de Hatem Khaled e Mohammed Salem em Gaza, reportagem adicional de Nidal al-Mughrabi e Henriette Chacar)

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