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Erro na ação que matou Marighella matou veterano alemão, diz MPF

25.set.2012 - Placas da alameda Casa Branca, em São Paulo, são pintadas com nome do guerrilheiro Marighella - Fernando Rodrigues
25.set.2012 - Placas da alameda Casa Branca, em São Paulo, são pintadas com nome do guerrilheiro Marighella Imagem: Fernando Rodrigues
do UOL

Do UOL, em São Paulo

19/05/2024 04h00

Friedrich Adolf Rohmann foi morto a tiros na operação montada para matar o guerrilheiro Carlos Marighella, em 1969. O protético integrou o exército alemão na 2ª Guerra e, segundo denúncia apresentada esta semana pelo Ministério Público Federal, foi confundido ao furar um bloqueio. Uma investigadora e um delegado também foram atingidos.

O que aconteceu

Caso ocorreu na alamada Casa Branca, nos Jardins, em São Paulo. Por volta de 20h de 4 de novembro de 1969, Rohmann seguia em um Buick preto em direção à avenida Paulista quando se deparou com um bloqueio montado pela operação que havia matado Marighella momentos antes. O alemão avançou, foi baleado e morreu.

Participantes da operação acharam que o carro de Rohmann poderia ser do aparato de segurança da ALN (Aliança Nacional Libertadora). Liderada por Marighella, a organização de esquerda fez parte da luta armada contra a ditadura no Brasil.

Rohmann é citado no livro "Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo", de Mário Magalhães. Uma das principais referências no assunto, a obra cita documentos oficiais que mencionam a participação do alemão no exército do país dele durante a 2ª Guerra Mundial. À época, o serviço militar era obrigatório.

Traumas de guerra podem ter levado o protético alemão a furar o bloqueio. A hipótese foi aventada em investigações ligadas ao episódio.

O MPF denunciou cinco ex-agentes da ditadura por ligação com a morte de Marighella na última terça (14). No documento, o Ministério Público Federal acusa quatro agentes de homicídio doloso (quando há intenção). Eles trabalhavam para o Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo, participaram da ação e ainda estão vivos. Um perito também foi acusado (leia mais abaixo).

Denunciados ainda não têm defesa constituída. Não há prazo para que a denúncia seja analisada pela 1ª Vara de Justiça Federal.

Outras vítimas

Uma investigadora também morreu na operação. Estela Morato foi baleada na cabeça após os agentes dispararem contra o carro do alemão. Além dela, o delegado Rubens Tucunduva foi atingido por um tiro na perna.

Difundida pelos agentes, a versão de que teria havido um tiroteio não é verdadeira. Todos os tiros partiram dos agentes da repressão.

Marighella foi morto em encontro com freis dominicanos. Segundo a denúncia, os frades apoiavam ações do guerrilheiro — o que foi descoberto pela repressão. Por conta disso, religiosos que iriam se encontrar com o militante foram sequestrados no Rio e forçados a ir a um encontro que estava marcado com Marighella em São Paulo.

Guerrilheiro foi baleado no banco de trás do fusca onde estavam os freis. Ao todo, Marighella recebeu quatro tiros. Posteriormente, agentes da repressão afirmaram que o militante foi assassinado por tentar reagir. Mas a denúncia do Ministério Público Federal informa que ele sequer estava armado.

Os agentes, se quisessem, poderiam ter facilmente prendido Marighella com vida. O local estava totalmente controlado pelos agentes da ditadura, conforme visto, Marighella estava desarmado (...) Marighella estava sob domínio dos agentes da repressão e sem condições de reagir
Trecho da denúncia do Ministério Público Federal

O que diz a denúncia

Operação para matar Marighella mobilizou 29 agentes da repressão. Distribuídos em sete carros previamente estacionados, cada um deles tinha funções específicas na ação e usava walkie-talkies para se comunicar. A operação foi chefiada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Perito foi denunciado por falsidade ideológica. De acordo com o procurador Andrey Mendonça, o perito omitiu de um laudo sobre as condições do cadáver de Marighella após a morte dados que mostravam que o guerrilheiro foi morto por um tiro a curta distância — o que indicava execução e não troca de tiros.

A denúncia destaca que mortes se deram em "contexto de um ataque sistemático e generalizado à população civil". A Procuradoria da República citou que a ditadura contava com um sistema semiclandestino de repressão política que cometia tortura, assassinatos e outros crimes à época contra opositores do regime.

O ataque era particularmente dirigido contra os opositores do regime e matou oficialmente 219 pessoas, dentre elas a vítima Carlos Marighella, e desapareceu com outras 152.
Trecho da denúncia do Ministério Público Federal

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