Política contra desastres 'anda a passos de tartaruga', diz Defesa Civil
O geógrafo alagoano Abelardo Pedro Nobre Júnior, de 49 anos, ficou uma semana no Rio Grande do Sul coordenando 18 integrantes da Defesa Civil de Maceió que cruzaram o país para realizar levantamentos de dano pós-desastre na região do Vale do Taquari, que aglomera algumas das cidades gaúchas afetadas pelas recentes inundações.
Essa equipe alagoana atua na prevenção do caso do solo que cedeu em área de mina da Braskem em Maceió. "A gente está indo em cidades onde a água já baixou e é necessário fazer o levantamento de danos na cidade para o processo de restabelecimento, para que o município possa captar recursos federais e ser mais célere na aplicação desses recursos", diz em entrevista ao UOL.
A equipe pôde notar, pessoalmente, danos em muitas estruturas físicas, como pontes, casas, avenidas e ruas: "A reconstrução deve demorar um pouco, até porque essa reconstrução deve levar parâmetros, modelos, informações que anteriormente talvez não fossem colocadas. Há determinadas cidades que têm determinadas áreas, que foram devastadas no ano passado e esse ano também, que são áreas de alto risco. Área que não se recomenda mais fazer reconstrução", explica.
De acordo com Nobre Júnior, estimativas iniciais apontam que cidades que tiveram 80% do solo inundados podem não ter nenhuma garantia de que um novo evento extremo possa ocorrer novamente em breve, gerando, novamente, riscos às vidas e saúde da população. Para ele, a cultura de prevenção seria um movimento maior e mais duradouro do que qualquer obra, se estivesse em prática.
"É necessário olhar muito para a questão da política pública de ocupação do solo. O que está acontecendo aqui no Rio Grande do Sul é algo que a gente assiste em outras partes do mundo com frequência. Ninguém tem segurança de que, até o final do ano, isso não possa acontecer em uma outra parte do Brasil. Porque essas variáveis físicas e atmosféricas estão aí", destaca.
O geógrafo defende que é necessário ter um olhar diferente sobre determinadas áreas que, antes, eram consideradas seguras. "O Brasil precisa dar uma resposta. Precisa se levantar para começar a fazer ações efetivas, que possam enfrentar de forma mais clara e de forma mais efetiva salvaguardando as vidas dos nosso brasileiros com relação a essa emergência climática global", relata.
Esse processo de mudança climática se acelera cada vez mais e a política pública com relação a esse tema anda a passos de tartaruga.
Abelardo Nobre, coordenador da Defesa Civil de Maceió
Para acelerar esses passos, ele afirma que os governos federal, estaduais e municipais brasileiros precisam entender desastres como o do Rio Grande do Sul para ter uma legislação mais eficiente, rápida e atual.
Atenção com a limpeza no pós-desastre
Abelardo Nobre explica que, na gestão do desastre, algumas etapas são pré-determinadas. No Rio Grande do Sul, algumas cidades estão em fase de restabelecimento, com pessoas retornando para as casas e comércios e escolas, por exemplo, sendo reabertos.
Mas em cidades que ainda mantêm os níveis de água altos, a exemplo de Porto Alegre, a prevenção com relação à limpeza pode ser primordial para evitar picos de doenças provocadas por contaminações.
"Após um processo de inundação como esse, vem a outra fase que é a questão das doenças por essa água contaminada. Vai ter um odor forte por causa dos animais que ficaram, com matéria orgânica entrando em estado de decomposição. A limpeza tem que ser muito bem planejada e eficiente para evitar a consequência", diz.