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Jovem acha pai após pensar que ele tinha morrido: 'Ficou dias bebendo água'

Douglas, Claudio Márcio, Rita de Cassia e Marcelle vivem no bairro Niterói, em Canoas - Arquivo, Douglas Camboim de Vargas
Douglas, Claudio Márcio, Rita de Cassia e Marcelle vivem no bairro Niterói, em Canoas Imagem: Arquivo, Douglas Camboim de Vargas
do UOL

Laila Nery

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/05/2024 14h01

Morador de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, Douglas Camboim de Vargas, 24, reencontrou o pai depois de três dias sem notícias dele. Claudio Márcio Camboim de Vargas, 52, foi resgatado de barco — ele ficou três dias só tomando água, isolado em casa.

O que aconteceu

Douglas foi autorizado a levar a família para o hotel onde ele trabalha como recepcionista — mas o pai não quis sair de casa, temendo que criminosos invadissem o imóvel vazio. Douglas, a mãe e a irmã deixaram o apartamento no quinto andar de um prédio na quarta (1º).

"Meu pai decidiu permanecer em casa e cuidar das coisas. Naquele momento não tínhamos dimensão do que estava por vir", afirmou o recepcionista. Mais de 60% do território de Canoas está debaixo d'água desde quarta. Segundo a prefeitura, mais de 16 mil pessoas estão desabrigadas.

O nível de água superou o terceiro andar dos prédios na semana passada. "Foi tudo muito rápido, o nosso prédio já estava com vazamento de gás, pessoas desesperadas, muitas crianças chorando", disse Douglas.

Na sexta (3), a família perdeu contato com Claudio. No mesmo dia, o hotel em que Douglas trabalha e estava abrigado começou a inundar. Desesperado, o jovem entrou em desespero e começou a publicar fotos e pedir ajuda no Instagram para encontrar o pai.

Claudio foi encontrado no domingo (5) e levado para um abrigo de barco. Ele estava sem alimentação havia três dias. "Do condomínio não restou nada", contou Douglas. "Canoas está sem água, todas as vias estão obstruídas, agora já não temos água nem para beber."

No domingo já estávamos esperando o pior. Fomos para a casa da minha tia, que mora num local mais seguro, mas o meu pai não estava em lugar nenhum. Busquei em muitos abrigos, recebi notícias de criminosos assaltando barcos, vi corpos boiando. Uma situação desesperadora.
Douglas Camboim de Vargas, morador do bairro Niterói, em Canoas

canoas  - Arquivo/Douglas Camboim de Vargas - Arquivo/Douglas Camboim de Vargas
Prédios do bairro Niterói, em Canoas estão sendo evacuados
Imagem: Arquivo/Douglas Camboim de Vargas

Nível da água continua alto

A previsão é que a água comece a baixar em Canoas daqui a duas semanas — e então as perdas começarão a ser calculadas. Segundo a prefeitura, a estimativa é que pelo menos 180 mil pessoas tenham sigo atingidas pela cheia. "Recebemos mais de 63 mil pedidos de resgate", informa a administração municipal em nota.

O prefeito Jairo Jorge afirma que "nenhum dique se rompeu". A declaração tem o objetivo de rebater notícias falsas compartilhadas sobre os diques dos bairros de Niterói e de Mathias Velho — eles foram construídos após a enchente de 1941 e apresentam riscos de rompimento.

A prefeitura tenta esvaziar os bairros mais afetados com a ajuda de voluntários. Assim como Claudio, parte da população se recusa a deixar as casas para evitar assaltos e furtos. Abrigos em escolas e igrejas foram montados para receber as famílias que estão em situação de risco. "Ainda precisamos de cobertores, colchões e roupas de cama", diz a administração municipal.

Na sexta (4), uma das principais avenidas de Canoas virou porto improvisado - Lucas Azevedo/Colaboração para o UOL - Lucas Azevedo/Colaboração para o UOL
Na sexta (4), uma das principais avenidas de Canoas virou porto improvisado
Imagem: Lucas Azevedo/Colaboração para o UOL

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