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ONU: 70% dos jornalistas ambientais no mundo sofrem ataques, ameaças ou pressões

02/05/2024 21h47

Cerca de 70% dos jornalistas dedicados a informar sobre temas ambientais ou a crise climática ao redor do mundo sofreram ameaças, pressões ou agressões por seu trabalho informativo em prol da preservação, revela uma pesquisa da ONU divulgada nesta quinta-feira (2). 

O estudo foi realizado em março, com 905 comunicadores de 129 países, pela Unesco e pela Federação Internacional de Jornalistas.

As organizações consultaram profissionais que cobrem a área de meio ambiente e 70% "informaram ter experimentado ataques, ameaças ou pressões relacionadas com sua atividade", segundo os resultados do estudo, divulgados em Santiago. "Desses, dois em cada cinco sofreram violência física posteriormente", acrescenta o informe, divulgado por ocasião do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.

Oitenta e cinco por cento dos comunicadores afetados disseram ter sofrido ameaças ou pressões psicológicas, enquanto 60% sofreram assédio on-line; 41%, agressões físicas; e 24% informaram que foram atacados legalmente. 

Além disso, 45% dos consultados disseram ter se autocensurado por medo de possíveis agressões ou porque suas fontes ficariam expostas a algum dano. O mesmo percentual afirmou, ainda, ser consciente do conflito de interesses envolvendo seus empregadores ou anunciantes e os temas ambientais.

A Unesco revelou que as mulheres sofrem ataques com mais frequência por informarem sobre esses assuntos. "Sem informação científica confiável sobre a crise ambiental, nunca poderemos esperar superá-la", afirmou Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, citada em um comunicado. 

Audrey acrescentou que os jornalistas que tratam desses temas com a intenção de tornar a informação acessível "enfrentam riscos inaceitáveis em todo o mundo, e a desinformação relacionada ao clima se prolifera nas redes sociais".

- Assassinatos -

Por ocasião da divulgação do informe, a Unesco revelou, ainda, que 749 comunicadores, coletivos de jornalistas e veículos de comunicação que cobrem temas ambientais foram "atacados" em 89 países entre 2009 e 2023. Mas 300 dessas agressões se concentraram nos últimos cinco anos, um aumento de 42% em relação ao quinquênio anterior, em meio ao aumento da desinformação on-line.

A Unesco lembrou que pelo menos 44 jornalistas que informavam sobre o meio ambiente foram mortos desde 2009 em 15 países, principalmente nas regiões de Ásia e Oceania (30) e América Latina (11), sem revelar de onde eram os outros três. 

Os comunicadores desses temas enfrentam cada vez mais riscos, porque seu trabalho frequentemente "vai de encontro a atividades econômicas altamente rentáveis, como o corte ilegal de árvores, a caça ilegal ou o vazamento clandestino de resíduos", explicou a Unesco.

Os jornalistas mortos na Ásia e no Pacífico (Oceania), por exemplo, cobriam principalmente mineração, desmatamento e conflitos por terra. Ao contrário, nenhum padrão específico de cobertura se destacou na América Latina e no Caribe, destacou a organização.

Outro problema denunciado pelos autores do informe foi a impunidade. Dezenove assassinatos foram arquivados sem que culpados fossem encontrados, em cinco casos as diligências seguem abertas e em outros cinco conseguiu-se condenar os culpados.

A situação dos outros 15 casos é desconhecida, porque os países onde ocorreram os crimes não deram informações à Unesco.

Na América Latina e no Caribe, a maioria dos assassinados não tem executores identificados, "o que sugere possíveis níveis mais altos de impunidade", destaca o informe.

pa/vel/dga/mvv/rpr/lb

© Agence France-Presse

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