Lancet diz ter preocupação com validade de dados de estudo com cloroquina
Por Michael Erman
NOVA YORK (Reuters) - A publicação médica britânica Lancet disse nesta terça-feira que tem preocupações relacionadas aos dados de um influente artigo que indicou que a hidroxicloroquina aumenta os riscos de morte em pacientes com Covid-19 --conclusão que reduziu o interesse científico pelo medicamento.
O estudo publicado pela Lancet em 22 de maio analisou cerca de 96 mil pessoas hospitalizadas com Covid-19 que foram tratadas com o medicamento, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou ter tomado e recomendou que outros tomassem. A hidroxicloroquina também é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro.
Vários ensaios clínicos foram suspensos após a publicação do estudo.
O artigo da Lancet, chamado "Hidroxicloroquina ou cloroquina com ou sem macrolídeo para tratamento de Covid-19: uma análise de registro multinacional", foi um estudo observacional --o que significa que compilou dados do mundo real, em vez de realizar um ensaio clínico tradicional-- e usou dados fornecidos pela empresa de análise de dados de saúde Surgisphere.
Na semana passada, a Lancet publicou uma correção do estudo sobre a localização de alguns pacientes após críticas à sua metodologia, mas disse que as conclusões não foram alteradas.
Também na semana passada, quase 150 médicos assinaram uma carta aberta enviada à Lancet questionando as conclusões do artigo e pedindo a divulgação dos comentários da revisão por pares que levaram à publicação.
"Isso não é uma situação secundária ou uma questão menor", disse Walid Gellad, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, que não assinou a carta, mas tem sido um crítico do estudo.
"Estamos em uma pandemia sem precedentes. Nós organizamos esses enormes ensaios clínicos para descobrir se algo funciona. E esse estudo paralisou alguns desses ensaios, além de mudar a narrativa em torno de um medicamento que ninguém sabe se funciona ou não", afirmou.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu o uso da hidroxicloroquina em um grande teste clínico com pacientes de coronavírus após o estudo da Lancet. Na esteira da suspensão pela OMS, os governos da França, Itália e Bélgica também interromperam o uso do medicamento em pacientes da Covid-19.
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