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'Povo esquecido' chega a Lima para defender voto em Castillo

16/06/2021 13h02

Lima, 16 Jun 2021 (AFP) - "No litoral, na serra e na selva, o Pedro já venceu!". A frase se repete entre os camponeses vestidos com seus trajes típicos, que chegaram a Lima procedentes do altiplano peruano, na fronteira com a Bolívia, para defender seu voto no esquerdista Pedro Castillo.

No momento em que lideranças da direita pedem a anulação do segundo turno presidencial realizado há dez dias, os eleitores das áreas mais pobres do país afirmam que estão dispostos a "defender" sua escolha pelo professor rural de 51 anos, natural de Cajamarca, 900 km ao norte de Lima.

"Estamos indignados com todas as mesas impugnadas, somos os esquecidos, por isso o nosso protesto", lamenta Estela Anampa Gómez, de 52 anos, em declaração à AFP.

Homens e mulheres fazem vigília permanente em frente à sede do partido de Castillo, Peru Libre, no centro histórico de Lima. Eles dizem que ficarão lá até que o Tribunal Eleitoral o proclame como vencedor.

"Vamos ficar aqui até as últimas consequências", diz à AFP Néstor Jafet Choque López, coberto por um poncho e um chapéu andino.

Choque López se identifica como vice-governador de Atuncolla, um pequeno distrito aimará de 5.000 habitantes localizado a 3.800 metros acima do nível do mar na região de Puno, que votou em massa em Castillo.

"Já elegemos o nosso presidente da República, que é Pedro Castillo Terrones. Estamos aqui para defender nosso voto por uma causa justa", acrescenta, sem soltar seu chicote.

Todos usam o "chullo" peruano, um gorro de lã de alpaca tradicional dos Andes, e sua imagem contrasta com a paisagem urbana e cinza das ruas de Lima, uma capital de 9,6 milhões de pessoas, voltada para o oceano Pacífico.

A delegação desceu os quase 4.000 metros de altitude em ônibus por mais de 20 horas até sua chegada em Lima.

A apuração oficial de 100% das urnas deu a Castillo 50,12% dos votos, 44.058 a mais que os obtidos por Keiko Fujimori, mas o Júri Eleitoral Nacional, a mais alta corte eleitoral, ainda não resolveu os pedidos de contestação da candidata de direita.

Castillo cativou os povos andinos com seu lema "Chega de pobres em um país rico", que repetia como um mantra em todos os comícios e gerava histeria entre as elites econômicas e políticas.

- Desde o lago Titicaca -"Do lago mais alto do mundo (lago Titicaca), expressamos nossa riqueza e mostramos nossa pobreza. Queremos mudança", afirma Anampa, sentado em uma calçada do colonial Paseo Colón, onde fica a sede do Peru Libre.

Os testemunhos se sucedem com o mesmo ímpeto, contra qualquer decisão do tribunal eleitoral que não a causa que defendem.

"Viemos da fronteira com a Bolívia até a capital para defender nosso voto. Nosso voto foi humilhado", lança Rivelino Cahuana Quispe, que saiu da província de Moho, em Puno, às margens do lago Titicaca.

"Os povos indígenas e aimaras estão unindo forças para fazer valer nossos votos", exclama o homem, que participou de um protesto pacífico em frente ao tribunal eleitoral.

"Viemos lutar por nossos votos. Chega de sermos atropelados. Vamos ficar até que seja promulgado que o presidente é Pedro Castillo", promete Carmen Yachi Fernández, que viajou para Lima de Huancavelica, uma das regiões mais pobres do Peru.

Sete milhões de peruanos, de um total de 33 milhões, vivem em áreas rurais.

A região de Puno, cuja população é predominantemente aimará, é um dos principais redutos de Castillo, segundo resultados oficiais.

Nessa região, obteve 89,26% dos votos, percentual que o coloca como o candidato com maior apoio popular nas últimas três eleições presidenciais.

O sociólogo Ernesto Valdivia acredita que, se o sul apoiou Castillo, é porque está clamando tacitamente por mudanças profundas na esfera política e social.

"O povo está farto da classe política. Primeiro, por todos os atos de corrupção e, segundo, pelo centralismo que os esqueceu, em todo sentido da palavra", comentou Valdivia citado pelo jornal "La República".

Segundo Valdivia, Castillo é o personagem que representa o "Peru esquecido", embora alerte que esses mesmos setores populares podem se voltar contra ele, se os decepcionar em meio a tantas expectativas.

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