Contágio por coronavírus aumenta no Chile mesmo com quarentena e vacinação
Há uma semana, o país ultrapassou pela primeira vez a barreira de 8 mil novos contágios, e hoje rompeu a dos 9 mil, com 9.171 nas últimas 24 horas. O número desencadeou alarmes dentro da comunidade médica.
"Esta situação nos preocupa muito. Estamos vivendo um momento muito crítico, mas as palavras-chave são prevenção, evitar dar entrada em uma UTI e respeitar a quarentena", declarou o ministro da Saúde chileno, Enrique Paris.
Mais de 83% da população está em quarentena total, um número que sobe para quase 97% nos fins de semana, durante 14 dias. Ainda assim, a taxa de positivos permanece acima de 10%, e a segunda onda não mostra sinais de abrandamento.
Além disso, desde a última segunda-feira, as fronteiras permanecem fechadas e as restrições à mobilidade são maiores. Estão limitadas as licenças para ir às compras a apenas duas vezes por semana, mas os números de infecção continuam quebrando recordes.
Um estudo da Universidad de Chile apontou que as quarentenas atuais estão se mostrando menos eficazes e reduziram a mobilidade no país para cerca da metade do que foi atingido no início da pandemia, em 2020.
A pandemia piorou no mês passado, após as férias de verão, e levou o sistema hospitalar ao limite, com uma ocupação de leitos na UTI acima de 95%. Isso significa que existem apenas 209 leitos desse tipo em todo o país. A cada dia há um novo recorde de pacientes internados.
"O sistema de saúde está totalmente no limite e já mostra sinais de estar sobrecarregado. Uma porcentagem significativa desses mais de 9 mil casos será transformada em internações", advertiu o secretário nacional da Associação Médica, José Miguel Bernucci.
"COM CUIDADO ATÉ JUNHO".
Em paralelo à segunda onda, o país está realizando um dos processos de vacinação mais rápidos e bem-sucedidos do mundo, de acordo com dados da Universidade de Oxford, e desde fevereiro inoculou 7,2 milhões de pessoas com uma dose e quase 4,3 milhões com duas injeções.
Entretanto, em termos absolutos, a imunização não conseguiu até agora deter a propagação do vírus, embora o governo espere que ela ajude a melhorar a situação sanitária até meados de maio. Isso inclusive levou ao adiamento das eleições constituintes, regionais e municipais, que aconteceriam neste fim de semana e agora serão realizadas em 15 e 16 de maio.
Segundo o acadêmico da Universidad de Chile Eduardo Engel, que dirige um estudo sobre a eficácia da vacinação no país, se este nível de circulação do vírus for mantido, haverá 46% menos infecções quando toda a população for vacinada. O governo acredita que isso acontecerá até julho.
Para o pesquisador Miguel O'Ryan, professor da Faculdade de Medicina da Universidad de Chile, os efeitos da imunização em termos de internação de idosos foram comprovados. "A maioria das pessoas que transmitem o vírus são jovens que ainda não foram vacinados", ponderou.
Nesta sexta-feira, do número total de pessoas em unidades de terapia intensiva, mais de 30% tinham entre 50 e 59 anos de idade, enquanto aqueles com mais de 70 anos, muitos deles já vacinados com duas doses, respondiam por apenas 12,7% do total.
"Teremos que pisar com cuidado até junho. Então, se o calendário for mantido, será possível ver o impacto da vacina sobre o número de infectados", previu O'Ryan em entrevista à Agência Efe.
VARIANTE CHILENA?
O grande aumento dos casos, que a vacinação não conseguiu reduzir levou alguns especialistas a considerar a possibilidade de existir uma variante chilena do coronavírus, semelhante à britânica e à brasileira, que poderia ser mais contagiosa.
"Seria provável, dado que nosso país tem uma alta circulação do vírus, mas é necessário fazer mais vigilância genômica para garantir isso", disse à Efe o cientista Ricardo Soto, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidad de Chile.
O microbiologista Miguel Allende, da mesma instituição, revelou à Efe que a situação atual, na qual um grande número de pessoas foi vacinado com uma única dose, significa que há mais pressão para que uma nova cepa se torne predominante e poderia ser uma "oportunidade" para que o vírus mude.
Com mais de 1 milhão de pessoas infectadas e cerca de 24 mil mortes por Covid-19, o Chile está em estado de emergência pós-catástrofe há mais de um ano, com toque de recolher das 21h às 5h e fronteiras fechadas.
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