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Sem voo de volta, orquestra boliviana está presa há mais de dois meses na Alemanha

A Orquestra Experimental de Instrumentos Nativos (OEIN) da Bolívia está na Alemanha desde março, sem conseguir retornar, por causa da pandemia de coronavírus - Reprodução/Facebook
A Orquestra Experimental de Instrumentos Nativos (OEIN) da Bolívia está na Alemanha desde março, sem conseguir retornar, por causa da pandemia de coronavírus Imagem: Reprodução/Facebook

27/05/2020 16h04

Quando a Orquestra Experimental de Instrumentos Nativos (OEIN) da Bolívia aterrissou para uma turnê na Alemanha, em 10 de março de último, os 25 músicos entre 17 e 35 anos não imaginavam que sua viagem se transformaria numa longa estada no país, mais precisamente na cidade de Rheinsberg, no estado de Brandemburgo.

Ali, eles estão alojados na residência de hóspedes da academia de música local. A orquestra de La Paz deveria ensaiar com o coral berlinense Phønix16, para a abertura do Festival MaerzMusik, que deveria ter acontecido em 20 de março último na capital alemã. Estavam previstos dois outros concertos e o retorno para casa.

Mas então vieram o coronavírus e as medidas restritivas de confinamento e distanciamento social na Alemanha e, no mesmo dia em que aterrissaram na Alemanha, Berlim se tornou a sétima região do país a impor uma proibição de eventos de massa em resposta ao coronavírus.

"Nosso ônibus quebrou na estrada. Lembro-me de brincar que era azar e que talvez nossos shows fossem cancelados", disse Carlos, um dos membros do grupo, em entrevista à emissora BBC.

Pouco depois, em 16 de março, a Alemanha fechou suas fronteiras e outros países europeus tomaram medidas semelhantes para conter a pandemia. A Bolívia decretou estado de emergência sanitária em 26 de março, fechando também suas divisas e proibindo qualquer voo, nacional ou internacional, exceto em casos de repatriação.

Representantes do Ministério do Exterior da Alemanha e da Embaixada da Bolívia em Berlim rapidamente se organizaram para reservar assentos num dos últimos voos da Alemanha para a América do Sul, que aterrissaria em Lima, Peru.

"Quando estávamos a caminho do aeroporto, todos estavam de bom humor, rindo e conversando", afirmou a boliviana Camed Martela à BBC. Mas o grupo recebeu uma ligação na qual anunciaram que o voo havia sido cancelado, uma vez que o avião não podia pousar no Peru. "O clima de repente ficou sombrio: todos no ônibus ficaram em silêncio", lembrou Carlos.

No início de abril, tiveram novamente esperança e embarcaram num ônibus para Frankfurt a fim de entrar num avião fretado pelo Ministério do Exterior da Alemanha e que deveria repatriar alemães de Lima. Eles já estavam na estrada quando chegou a notícia de que no Peru estavam pousando apenas aviões vazios.

Desde então, os músicos estão alojados na Academia de Música de Rheinsberg, um espaço com 25 salas de ensaio de diferentes tamanhos, uma biblioteca especializada em música e 40 habitações duplas e localizado ao lado do Palácio de Rheinsberg, uma construção de 1566 localizada a 100 quilômetros a noroeste de Berlim.

Apesar de a permanência nesse centro ser o sonho de qualquer músico numa situação normal, a preocupação do grupo com a expansão da covid-19 na Bolívia — com mais de 7 mil casos e 270 mortes — e seu desejo se reunir com suas famílias falam mais alto. Poucos dos músicos falam inglês, nenhum domina o alemão e a maioria deles está pela primeira vez na Europa.

Eles passam seu tempo livre ensaiando nos arredores do palácio de quase 600 anos e explorando a floresta circundante, que abriga nada menos que 23 matilhas de lobos. Na semana passada, eles tiveram a oportunidade de entrar pela primeira vez nas salas principais do palácio, quando a visitação foi reaberta ao público.

"Nos sentimos abandonados", disse Carlos à BBC, que diz ter passado várias horas desagradáveis ao telefone com a embaixada boliviana, tentando encontrar uma maneira de regressar. Trazendo chocolate e xampu, certa vez, o embaixador boliviano veio fazer uma visita, em que o prefeito de Rheinsberg também esteve presente.

Timo Kreuser, um dos três músicos alemães que ajudaram a organizar a turnê, permanece com o grupo. Ele relatou que, numa das ocasiões em que os bolivianos jogavam futebol nos campos em frente ao castelo, logo se viram cercados por seis policiais com equipamento antimotim. "A polícia já está ciente, então eles me ligam e sempre se resolve", disse Kreuser à BBC.

Eles comemoraram o 40º aniversário da orquestra, em 9 de maio último, em Rheinsberg. Eles vestiram roupas de show, um top vermelho, calça preta e tocaram. A foto do grupo está em sua página no Facebook.

Ali, eles agradeceram a todos aqueles que os estão apoiando neste momento difícil: o DAAD; os Festivais de Berlim (Berliner Festspielen), responsável por acomodações e refeições; o Instituto Goethe; a Fundação Musical Ernst von Siemens; o Centro Europeu de Artes de Hellerau.

Timo Kreuser diz que nem todos os custos estão cobertos, que não há garantias e ninguém sabe quem pagará pelos voos de volta e pelo hotel de quarentena ao retornarem à Bolívia.

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