França: Acordo de socialistas com novo premiê escancaram fraturas da esquerda
A decisão do Partido Socialista (PS) francês de rejeitar a moção de censura do primeiro-ministro do país, François Bayrou, na Assembleia Nacional enfurece os outros partidos de esquerda e escancara o racha na antiga Nova Frente Popular. Nas últimas eleições legislativas, em junho, os partidos de esquerda se uniram para evitar uma vitória da extrema direita.
Seis meses depois - e sem que a crise política francesa sinalize um fim -, os líderes dos socialistas, Olivier Faure, e da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, não se privam de trocar farpas em público. Nesta quinta-feira, com o apoio do PS, a maioria dos deputados franceses não aprovou o projeto de lei que botava à prova a confiança no governo Bayrou. O texto havia sido apresentado pelos "insubmissos", os ecologistas e os comunistas.
Em troca, Olivier Faure obteve garantias do primeiro-ministro sobre o emprego de 4 mil professores, um aumento do imposto sobre operações financeiras e a renegociação da entrada em vigor da última reforma da Previdência na França. Nesta sexta, o jornal Libération minimiza o que os socialistas chamaram de "vitórias" e diz que "Bayrou escapou da censura após algumas contorções".
"Depois da censura, a fratura", ironiza o diário progressista. "Passados vários dias de hesitação, o PS decidiu não aprovar o texto do resto da esquerda. Acusados de traição pela França Insubmissa, os aliados de Olivier Faure exaltam os avanços obtidos", salienta a publicação.
Concessões 'caras', acusa o Figaro
O jornal conservador Le Figaro, por outro lado, avalia que as concessões oferecidas por Bayrou custarão "caro" para o orçamento do país. "A operação lhe permitiu uma trégua no Parlamento e não depender apenas do apoio do Reunião Nacional [de extrema direita], mas foi repudiada por Jean-Luc Mélenchon, que acusa o PS de capitular", relata o Figaro.
Le Parisien, por sua vez, observa que "não havia nenhum suspense sobre o resultado da votação, mas uma incógnita sobre a atitude dos socialistas". Pela primeira vez desde novembro de 2022, o partido decidiu não acompanhar a posição do resto da esquerda sobre uma moção de confiança no governo, ressalta o jornal.
O primeiro-secretário do PS defendeu a opção do seu partido em encarnar "uma esquerda que propõe e avança", mostrando-se satisfeito com as concessões feitas por François Bayrou. Faure ressaltou que o partido continuará "na oposição", reservando-se o direito de censurar o governo a qualquer momento.
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