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Moradores e turistas se aproximam como podem da catedral de Notre-Dame para prestigiar reabertura

07/12/2024 14h52

Devastada por um incêndio em abril de 2019, a famosa catedral de Notre-Dame de Paris reabre suas portas no final da tarde deste sábado (7), diante de dezenas de chefes de Estado, de governo e celebridades, após cinco anos de trabalho de restauração sem precedentes na história da França. Turistas e moradores se aglomeram à distância no entorno do histórico marco de Paris, bloqueado por um forte esquema de segurança.   

Na intenção de celebrar um novo "orgulho francês" após os Jogos Olímpicos deste verão em Paris, o presidente francês Emmanuel Macron teve seu discurso, originalmente planejado para o pátio da Notre-Dame, transferido para o interior do monumento devido à aproximação da tempestade Darragh, que já causa interrupções nos serviços de trem no oeste da França, e se aproxima de Paris neste sábado. Os concertos previstos ao vivo para a área externa da catedral também foram anulados, os shows foram gravados e serão transmitidos na TV.  

O presidente francês Emmanuel Macron espera criar um "choque de esperança" em um país mergulhado em uma crise política desde a censura do governo, na quinta-feira (5). Aparentemente, pelo menos no entorno da cerimônia neste sábado, os franceses tentam esquecer por algumas horas as questões políticas e se mostram animados com a reabertura, apesar da temperatura de 8?°C e ventos frios no centro da cidade. Alguns dizem que não deixariam de prestigiar a cerimônia mesmo a assistindo de longe. Todo o entorno da Île de la Cité, onde fica Notre-Dame, ficou bloqueado por um forte esquema de segurança, formado por viaturas e cerca de 6 mil agentes de polícia. O movimento surpreendeu alguns turistas desavisados que abordavam os presentes com perguntas como: "Qual é o motivo deste fechamento de ruas?" ou "Por quê não podemos chegar mais perto para fotografar a catedral?", irritando moradores.

A prefeitura estimou que cerca de 40 mil pessoas devem comparecer aos arredores do evento neste sábado. A maioria com suas câmeras fotográficas e celulares em punho para registrar o dia da reabertura histórica, como os turistas brasileiros Paulo Zume e a mãe Rosani. 

"Nós somos de São Paulo e viemos a passeio para Paris e coincidentemente estava acontecendo a abertura. A gente queria ver, porque a gente vem todo ano para cá e tem alguns anos que a gente já encontra a igreja fechada por conta do fogo. Mas até dia 15 está cheio", lamenta Paulo se referindo aos eventos fechados que serão realizados até o dia 15 de dezembro. Somente a partir de 16 de dezembro, a catedral estará aberta novamente ao público, das 7h45 às 19h locais. 

A mãe de Paulo, Rosani Zume, é catequista e se emociona ao relembrar o incêndio que viu pela TV: "Eu estava em casa completamente triste. Foi uma tragédia pelas artes, por tudo o que já havia acontecido e o que haviam vivido lá dentro. A vida que se viveu ali dentro. Graças a Deus está ali Nossa Senhora segurando o mundo todo!", disse à RFI Rosani, ainda com esperanças de conseguir ver a catedral por dentro, apesar dos eventos com entradas esgotadas.

Na manhã de sábado, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o príncipe William e também o bilionário Elon Musk, foram recebidos na capital francesa. Cerca de 40 chefes de Estado e de governo chegam a Paris para participar das festividades no sábado e no domingo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não veio à cerimônia e nenhum representante oficial foi enviado, segundo o Consulado-Geral do Brasil em Paris.

A Catedral de Notre-Dame de Paris, uma obra-prima gótica do século 12 no coração de Paris, foi parcialmente destruída por um incêndio, em 15 de abril de 2019. Donald Trump, então presidente dos EUA, sugeriu às autoridades francesas, em um tweet muito comentado, que enviassem aviões de bombardeio de água. O incêndio, cujas causas ainda não foram determinadas, causou uma comoção mundial e grandes doações para reconstrução de um dos monumentos mais visitados da Europa.

Reconstrução e sentimento de renovação

O capitão fluvial Glauco Salmazio, nascido no Rio de Janeiro e que trabalha no rio Sena conduzindo barcos turísticos há cerca de três anos, conta à RFI que soube do incêndio da Notre-Dame durante aula de seu mestrado em Artes em Paris, quando houve "uma comoção geral e um sentimento de luto" em toda a universidade. "Pessoalmente foi muito impactante porque a catedral é um dos lugares que eu mais gosto em Paris. Os entornos da catedral eram um dos lugares que eu passava mais tempo fotografando", relata.

Foto de Glauco Salmazio em sua página pessoal no Instagram.

Como capitão de barcos e antes como guia turístico, o carioca descreve que a beira do Sena, incluindo o trecho que margeia a catedral, sempre foi espaço de trabalho, por onde passa várias vezes por dia. "Se tem um ponto que a gente pode dizer que simboliza de fato Paris, acho que é a catedral, porque ela atravessa todas as épocas da cidade. A catedral é esse bastião de testemunho da evolução da cidade", opina Glauco Salmazio.

Ele relata, ainda, como foi acompanhar o dia a dia das obras conduzindo barcos no rio: "Ver essa reconstrução da catedral acabou sendo um processo diário de ver a história acontecendo. Ver a reconstrução, mais uma vez, de um monumento que passou por tantas épocas, de tantas eras. No próprio rio (Sena), com as balsas que chegavam com os materiais, a gente tendo que desviar de tudo e ver os andaimes sendo montados", diz, ao explicar que todas as distâncias oficiais da França são medidas a partir da entrada principal da catedral Notre Dame.

"É um sentimento de renovação, um sentimento de que a história volta a caminhar. Mais um passo concluído e as coisas vão andando para frente. Eu acho que isso resume um pouco a vida também de cada um e principalmente os migrantes que vêm para cá e têm essa evolução pessoal, em termos de trabalho, em termos de história também. Então, acaba sendo um sentimento de mais uma etapa que se fecha", declara o capitão. 

Apesar do incêndio, o mundo todo está voltado para Notre-Dame

Já a turismóloga brasileira Marina Antonacio se emociona ao falar da história do monumento. Ela trabalhou em 2022 em um estabelecimento ao lado da Notre-Dame, e depois no hotel Esmeralda, prédio do século 17 com vista para catedral. "Eu fui visitar Notre-Dame, eu passei pelos locais que eu já trabalhei e eu fiquei muito feliz em ver o entusiasmo das pessoas com a reabertura da catedral, porque existe uma grande expectativa de que o fluxo de visitantes vai aumentar, voltar a ser como era antes do incêndio", afirma

Sobre as obras de reforma, Marina relata à RFI sua alegria com a renovação. "Eu fico muito emocionada de ver a catedral toda iluminada, linda. A Île de la Cité, onde ela fica, é um lugar mágico para mim, porque é o berço de Paris, aonde tudo começou. Então, imaginar a história que já aconteceu por lá é incrível. Estar presente nesse momento histórico, é mais incrível ainda e me enche de alegria".

"Não tem como eu passar pela Notre-Dame e não lembrar do romance do Victor Hugo. Em 'Notre-Dame de Paris', que ele escreveu em 1831, ele já destacava a importância e que precisava ter um olhar cuidadoso e atencioso para a catedral. Apesar do incêndio, hoje o mundo todo está voltado para Notre-Dame e eu tenho certeza que Victor Hugo está feliz com esse recomeço", acredita a turismóloga.

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