O governo do estado de São Paulo defende a truculência policial por saber que este tipo de política de segurança pública rende votos e tem respaldo de parcela significativa da população, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News desta quinta (5).
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) descartou demitir Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública, após a escalada de casos de violência policial no estado. "Olhe os números. Você vai ver que [Derrite] está [fazendo um bom trabalho]", disse Tarcísio, sem explicar os números nos quais se baseou.
O nome do problema não é Guilherme Derrite, que está cumprindo ordens. Ele é responsável também, mas realiza essa segurança sob bênção de Tarcísio. Ele é o governador e é quem aplicou essa política de letalidade, da mesma forma que é ele quem recuou na questão das câmeras de segurança em fardas, que antes gravavam ininterruptamente e hoje não necessariamente.
Existe essa política do 'bate, espanca, sangra, mata' para reduzir crime, que é extremamente equivocada e de responsabilidade do governador. Não adianta trocar o Derrite, colocar outra pessoa e essa política continuar só para inglês ver. O governador e o Derrite são os grandes responsáveis por esse processo de descontrolar a tropa através da falsa sensação de que eles [policiais] podem fazer o que quiserem que a gente segura e mata no peito.
Por outro lado, essa política existe porque uma parcela significativa da população de São Paulo concorda com a violência policial como solução para o crime. A população paulista precisa rever seu posicionamento.
Neste momento, por conta deste caso, o apoio diminui e, por isso, o governador fica preocupado. Mas quando o corpo esfriar, volta tudo ao normal porque ele quer o voto de um cidadão que vê na ponta da bala a certeza da justiça. Ou mudamos esse posicionamento ou governos continuarão surfando nessa necropolítica para conseguir o voto em 2026. E não se enganem: vão conseguir. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Para Sakamoto, Tarcísio só demonstrou alguma preocupação com os abusos cometidos por policiais após a repercussão dos últimos casos, como o do PM preso por arremessar um jovem de uma ponte, mas por outro lado atende aos anseios de seus eleitores.
O governo está dando essa resposta devido à pressão popular, e não por acreditar que deveria fornecê-la. Se acreditasse, logo após as imagens terem vindo a público, teria afastado, prendido e indiciado a pessoa que fez isso. Ele [Tarcísio] está fazendo isso porque foi pressionado e não o faria logo de cara, como aconteceu em outros casos.
Um bom governo, que age de forma a atender o que está previsto na Constituição e na lei, não espera o X, o Instagram ou os grupos de WhatsApp ou Telegram para sentir o humor das massas e cumprir a lei, o que não deve ser feito com base no número de curtidas ou de compartilhamentos de uma notícia.
Temos um governo que foi respondendo de forma reativa de acordo com a pressão popular de um grupo específico, que é o de seus próprios eleitores. Vemos o governo do estado de São Paulo implementar uma política de alta letalidade desde o ano passado. Houve as Operações Verão e Escudo, que foram muito piores do que jogar uma pessoa da ponte.
Este caso do homem arremessado é chocante, mas não tanto quanto onze tiros nas costas. Naquele caso, 'tudo bem' porque ele estava roubando um Omo. Vocês entendem o nível doentio da nossa sociedade? A PM de Tarcísio está matando preto pobre a torto e a direito. Houve inocentes mortos. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Bergamo: Tarcísio precisa controlar a polícia ou será engolido por ela
Se o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) não mostrar pulso firme diante da escalada dos casos de truculência da Polícia Militar, acabará dominado pela corporação, disse a colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo.
Vimos como foi o governo de João Doria, que começou sua gestão com um discurso de polícia forte. Em pouco tempo, houve um massacre em Paraisópolis, com a polícia matando jovens inocentes. O que o governador percebeu: ou ele controlava a polícia ou ela o controlaria e o engoliria.
Tarcísio está nesse momento. Ou ele controla a polícia ou ela engolirá o governo dele de diversas formas. Quando se tem uma polícia totalmente empoderada e sem controle, o resultado disso são milícias.
Recentemente, encontrei um secretário importante do governador Tarcísio em um evento com empresários. Perguntei a ele se a polícia não estava exagerando e se isso não traria problemas para o governador.
Ouvi desses empresários na época que a população apoia e quer uma polícia forte. Apesar de se ter uma violência desenfreada, há um apoio, mas até uma hora em que a população não apoia mais. O governador Tarcísio está percebendo que esse momento chegou. Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo
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