Governo da Geórgia exclui novas eleições gerais apesar de protestos que contestam resultados
O governo georgiano excluiu no domingo a realização de novas eleições legislativas, como exige a oposição, apesar da crise política no país do Cáucaso, abalado por três noites consecutivas de manifestações pró-UE, dispersadas pela força pela polícia.
A ex-república soviética está em turbulência desde as eleições legislativas de 26 de outubro, vencidas pelo partido governista Sonho Georgiano, mas denunciadas pela oposição como marcadas por irregularidades, que boicotaram o novo Parlamento.
Um novo pleito é exigido pelos partidos da oposição, assim como pela presidente Salomé Zourabichvili, em ruptura com o governo, que anunciou que se recusaria a entregar seu mandato no final do ano, enquanto novas eleições legislativas não acontecessem.
"Claro que não", respondeu o primeiro-ministro Irakli Kobakhidze aos jornalistas que lhe perguntavam se o governo, acusado de uma deriva autoritária pró-russa, aceitaria organizar novas eleições.
Os protestos em Tbilisi e outras cidades foram reprimidos com jatos de água e gás lacrimogêneo pela polícia, que realizou mais de 150 prisões. Várias dezenas de policiais foram feridos por projéteis e fogos de artifício lançados pelos manifestantes.
"Inaceitável" para a UE
A nova chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, criticou no domingo o uso desproporcional da força pela polícia.
"É claro que o uso da violência contra manifestantes pacíficos não é aceitável e que o governo georgiano deve respeitar a vontade do povo georgiano", afirmou ela durante uma visita de apoio à Ucrânia, no primeiro dia de seu mandato.
"Votamos para a União Europeia, pela liberdade, pelos direitos humanos. E o que nosso governo está fazendo? O exato oposto", denunciou no sábado Ani Bakhtouridzé, uma manifestante de 32 anos.
O Ministério do Interior, por sua vez, afirmou no sábado que "as ações de certos indivíduos presentes na manifestação se tornaram violentas pouco depois de seu início" e que a polícia respondeu "conforme a lei".
Paralelamente às manifestações, centenas de funcionários públicos, incluindo do Ministério das Relações Exteriores, da Defesa e da Educação, bem como juízes, publicaram declarações conjuntas em sinal de protesto.
Mais de cem escolas e universidades suspenderam suas atividades.
Cerca de 160 diplomatas georgianos também criticaram a decisão do governo, considerando que ela contrariava a Constituição e levaria "ao isolamento internacional" do país. Muitos embaixadores georgianos renunciaram em sinal de protesto.
A presidente pró-europeia do país, Salomé Zourabichvili, apoia o movimento de protesto, mas tem poderes limitados. Ela garantiu que não deixaria seu cargo como previsto no final de dezembro.
"Enquanto não houver novas eleições e um Parlamento que eleja um novo presidente de acordo com novas regras, meu mandato continuará", afirmou ela em uma entrevista exclusiva à AFP.
A ex-diplomata francesa, nascida em Paris, anunciou que estabeleceu no sábado um "conselho nacional" composto por partidos da oposição e representantes da sociedade civil.
"Graves irregularidades"
A chefe da diplomacia europeia, que assumiu o cargo neste domingo, declarou que a situação na Geórgia tinha "consequências claras" para as relações com a UE.
Kaja Kallas explicou que "opções" foram propostas aos 27 Estados membros da UE sobre como reagir, inclusive com a imposição de sanções, e que um acordo sobre o assunto deveria ser alcançado.
O governo georgiano, por sua vez, acusa Bruxelas de "chantagem", mas ainda garante que pretende integrar a UE até 2030.
Após a votação de outubro, um grupo de observadores eleitorais da Geórgia afirmou ter provas de um sistema complexo de fraude eleitoral em grande escala.
Bruxelas exigiu uma investigação sobre o que qualificou como "graves" irregularidades.
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, "condenou o uso excessivo da força contra os georgianos que exercem sua liberdade de manifestação". "Suspensamos nossa parceria estratégica com a Geórgia", acrescentou ele.
A França, o Reino Unido, a Ucrânia, a Polônia, a Suécia e a Lituânia também expressaram suas preocupações.
(com AFP)