Visita de Netanyahu aos EUA é marcada por crise política e protestos
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está nos Estados Unidos desde segunda-feira (22), onde cumpre uma agenda de dois dias na capital americana, Washington. Esta é a primeira vez que o premiê israelense deixa Israel, desde o início da guerra na Faixa de Gaza.
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Apesar da viagem aos Estados Unidos ter sido planejada há semanas, a visita de Netanyahu a Washington acontece em um momento delicado para os democratas. O premiê encontrará Biden abatido pela Covid-19 e pela desistência da candidatura à reeleição.
Os problemas internos que os Estados Unidos enfrentaram nas últimas semanas podem jogar um balde de água fria nos planos do primeiro-ministro israelense. A expectativa de Netanyahu é de que a visita pudesse melhorar sua popularidade em Israel, mostrando que ele é um líder respeitado internacionalmente.
A conferência de Netanyahu agendada no Congresso para a tarde desta quarta-feira (24) não contará com a líder do Senado, já que Kamala Harris deixou claro que não pretende estar presente.
O evento é um dos principais objetivos da viagem e a conferência foi articulada pelo Presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, com o objetivo mostrar o apoio do partido à Israel.
Kamala Harris, no entanto, estará em Indiana, onde discursará em um evento promovido pela fraternidade negra do país. A vice-presidente só deve se encontrar com Netanyahu em uma reunião privada na Casa Branca, nesta quinta-feira (25).
Em um discurso sobre direitos civis em Selma no Alabama no começo deste ano, Kamala Harris pediu um "cessar-fogo imediato" em Gaza. Ela chegou a criticar Israel por criar uma "catástrofe humanitária" no enclave.
Reunião com Biden e Trump
O líder israelense deve se encontrar com Joe Biden na quinta-feira para conversar sobre a possibilidade de um cessar-fogo em Gaza e a liberação de reféns, segundo informações do secretário de Segurança americano, Jack Sullivan, divulgadas durante uma conferência de segurança no Colorado na semana passada.
Biden chegou a comentar em uma reunião com sua equipe de campanha nos últimos dias que acredita que o fim da guerra está próximo.
Antes de embarcar para Washington, porém, Netanyahu disse que pretendia conversar com Biden sobre a continuação da guerra contra o Hamas e sobre como enfrentar outros grupos armados apoiados pelo Irã na região, além da libertação de reféns.
O conflito, que já dura nove meses, contabiliza quase 40 mil mortos em Gaza, além das cerca de 1.200 pessoas assassinadas durante o atentado cometido pelo Hamas em Israel em outubro do ano passado.
Esta é primeira vez que Netanyahu vai para outro país desde que a procuradoria do Tribunal Penal Internacional determinou a emissão de mandados de prisão por possíveis crimes de guerra cometidos durante a ofensiva de Israel em Gaza. Os Estados Unidos, porém, não reconhecem o tribunal.
A agenda nos Estados Unidos termina com um encontro com o ex-presidente Donald Trump em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida. De acordo com informações da publicação Político, o encontro foi proposto pelo próprio premiê.
Protestos dentro e fora do Congresso
A visita de Netanyahu deve ser marcada por uma onda de protestos que podem acontecer fora e dentro do Capitólio.
A maior manifestação acontece na manhã desta quarta-feira. Os organizadores planejam marchar em torno do edifício do Capitólio exigindo a prisão de Netanyahu sob acusações de crimes de guerra. Organismos de segurança estimam a presença de pelo menos 5 mil manifestantes.
Dentro do Capitólio, o primeiro-ministro estará acompanhado de algumas famílias de reféns que viajaram com ele. Espera-se também que outros familiares, que criticam a forma como o premiê lidou com a crise, também estejam presentes na câmara.
Alguns dos congressistas planejavam boicotar o discurso e disseram que usariam esse tempo para conversar com familiares dos detidos pelo Hamas.