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Recordes de dengue no Peru alertam para 'pior temporada' da doença já registrada nas Américas

19/04/2024 13h03

Alimentada pelo fenômeno climático El Niño, a dengue está se espalhando como nunca antes na América Latina e no Caribe. Na quinta-feira (18), a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), ligada à ONU, alertou que a região deve esperar a pior temporada de dengue já registrada.  

"Eu estava com medo de perder meus bebês", diz Josselyn Caqui de sua cama de hospital em Lima depois de contrair dengue. Grávida de 15 semanas de gêmeos, a mulher de 32 anos está internada há cinco dias no hospital Sergio Bernales, na capital peruana, onde dezenas de pacientes infectados pela doença são tratados todos os dias. "Não sei como fui infectada. É horrível", confidenciou ela à AFP enquanto estava rodeada de uma grande cortina de tule que a protege de novas picadas dos mosquitos Aedes aegypti, responsáveis pela transmissão do vírus. 

A doença, que causa febre alta e, em casos raros, evolui para uma forma mais grave, não é transmitida de humano para humano, mas em mulheres grávidas há risco para o desenvolvimento da criança. 

Muito difundido em países quentes, o vírus ocorre principalmente em áreas urbanas e semiurbanas e causa de 100 a 400 milhões de infecções por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Apesar dos casos terem se estabilizado na Argentina e no Brasil, no final de março a Opas já havia alertado para a "situação emergencial" nas Américas. Em menos de três meses desde o início do ano, as autoridades de saúde da região registraram mais de 3,5 milhões de casos e mil mortes causadas pelo vírus. 

Segundo o Ministério da Saúde do Peru, desde o início do ano, 147 mortes foram causadas pela dengue e mais de 155 mil casos foram registrados no país. Esses números excedem as 39 mortes e 34 mil casos registrados no mesmo período em 2023. A gravidade da situação levou o governo a declarar uma emergência de saúde em 20 das 25 regiões do país em fevereiro. 

Aumento recorde

O Hospital Sergio Bernales abriu uma ala especial para os infectados. Entre janeiro e abril, foram atendidas 2.200 pessoas, um número mais de 200% maior do que o registrado no mesmo período de 2023. 

"Eu temia por minha vida, mas agora estou um pouco mais estável", diz Alonso Vergaray, um estudante de 18 anos que sofreu uma hemorragia na garganta em decorrência do vírus. "De repente me senti mal, sem apetite e sem forças", disse Luis Camacho, um pedreiro de 60 anos, que também foi hospitalizado. 

A dengue atingiu a capital de 10 milhões de habitantes de forma particularmente dura. "Estamos em uma curva ascendente em Lima por causa da densidade populacional", disse recentemente o ministro peruano da Saúde, César Vasquez, ao jornal El Comercio. 

As altas temperaturas causadas pelo fenômeno El Niño entre meados de 2023 e março de 2024 favoreceram a propagação do vírus. "Esse clima é propício para a reprodução do (mosquito) Aedes aegypti", explica a especialista em doenças infecciosas Diamantina Moreno. 

O aumento no número de infecções pode ser observado em todos os países da América Latina e do Caribe, mas particularmente no Brasil, Paraguai e Argentina, que respondem por 92% de todos os casos e 87% das mortes, conforme dados da OMS. 

No Brasil, o número de casos nas primeiras cinco semanas do ano quintuplicou em comparação com o mesmo período em 2023. Em fevereiro, o país lançou uma campanha de vacinação gratuita contra a dengue, após uma explosão no número de casos. 

Na Argentina, 129 mortes por essa doença foram registradas no primeiro trimestre de 2024, em comparação com 13 nos primeiros três meses do ano anterior. Como resultado, o país está sofrendo com uma escassez de repelente preocupante, com os supermercados se esforçando para estocar e os preços na Internet em alta. 

(Com informações da AFP) 

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