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Aquecimento global afeta corais na Austrália: 30% da fauna marinha podem ser perdidas

17/04/2024 12h18

A Grande Barreira de Corais da Austrália vem sofrendo o mais grave branqueamento já registrado  pelos cientistas. Autoridades responsáveis pela gestão do ecossistema informaram nesta quarta-feira (17) que 73% dos recifes estudados apresentam danos. Especialista ouvido pela RFI explica que os arrecifes concentram 30% da fauna marinha conhecida.

Considerada o maior organismo vivo da Terra, a Grande Barreira de Corais tem 2.300 quilômetros de extensão e abriga uma enorme biodiversidade, incluindo mais de 600 tipos de coral e 1.625 espécies de peixes. Mas avaliações aéreas realizadas pelos cientistas mostram que cerca de 730 dos mais de mil recifes que compõem a Grande Barreira perderam a cor, segundo o governo australiano.

"Os impactos sofridos ao longo do recife neste verão foram mais fortes do que em verões anteriores", indicou a Autoridade do Parque Marinho em um comunicado. O verão de 2023-2024 foi o segundo mais quente já registrado na região. Este é o quinto branqueamento em massa dos recifes da Grande Barreira nos últimos oito anos.

Em entrevista à RFI, o professor Denis Allemand, diretor do Centro Científico de Mônaco (CSM), explicou as causas deste fenômeno.

"Os corais são animais que vivem em simbiose com microalgas e algas unicelulares. Essas algas são muito importantes porque são elas que vão fornecer 90% da sua alimentação. Essa simbiose é muito sensível ao aumento da temperatura. A partir de uma certa temperatura, variável dependendo do local, essa simbiose é rompida, e acontece o que chamamos de branqueamento. Perdendo as suas algas, o coral perde também a cor e morre", disse.

Allemand afirma ainda que casos semelhantes vêm sendo observados desde os anos 1980, mas o mais alarmante é que áreas que até então não haviam sido impactadas, como o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico, começam a ser afetadas.

"Hoje, o fato desses locais também terem sido afetados mostra que nós atingimos um nível realmente elevado desse problema. É um efeito do aquecimento global, já que é o aumento na temperatura da água que atrapalha essa simbiose. Além disso, outros fenômenos como a poluição também podem contribuir para o estresse dos corais", afirmou.

Situação preocupante

Richard Leck, diretor da divisão de oceanos da organização ambientalista WWF Austrália, disse à agência AFP que o branqueamento afetou uma extensão "sem precedentes" do recife, em particular em áreas que anteriormente haviam escapado de outros períodos de branqueamento em grande escala. "Este é o pior episódio que o recife do Sul já sofreu", disse Leck.

Denis Allemand explica que a situação é preocupante e lembra que 20% dos corais da Grande Barreira já não existem mais.

"Os corais significam apenas 0,2% dos oceanos, mas eles abrigam 30% de toda a fauna marinha conhecida. Se os recifes desaparecem, nós perdemos 30% de toda a biodiversidade marinha. Mas não é apenas isso, essa diversidade é a fonte de renda para muitas pessoas que vivem da pesca, do turismo, e que também serão impactadas. A perda dos recifes não é apenas uma perda ecológica imensa, mas uma perda humana muito significativa."

Dúvidas sobre a recuperação

Allemand explica que se o branqueamento durar menos de 15 dias, os corais podem recuperar suas algas.

"Mais que 15 dias, sem o alimento, o que acontece normalmente é a morte dos corais. Este é um primeiro problema. Mas o que percebemos é que esses fenômenos estão cada vez mais frequentes e intensos, e o que vemos é que alguns corais, mesmo recuperando suas algas, não conseguem recuperar a sua força na totalidade.

A bióloga marinha Anne Hoggett, que viveu e trabalhou por 33 anos na ilha do Lagarto, um pequeno paraíso no extremo nordeste da Austrália, conta que, quando chegou pela primeira vez ao local, o branqueamento dos corais ocorria mais ou menos a cada década. Agora, ele acontece a cada ano, afirmou, e cerca de 80% dos corais da ilha sofrem com o branqueamento neste verão.

"Ainda não sabemos se eles já sofreram danos demais para se recuperarem ou não", indicou Hoggett à AFP.

Leck, da WWF, afirmou que é necessário aguardar alguns meses para determinar qual será a "mortalidade dos corais".

Proteção

A Austrália investiu cerca de 5 bilhões de dólares australianos (pouco mais de R$ 16 bilhões, na cotação atual) para melhorar a qualidade da água, reduzir os efeitos das mudanças climáticas e otimizar a proteção das espécies.

O país é um dos maiores exportadores mundiais de gás e carvão, e apenas recentemente estabeleceu metas para alcançar a neutralidade de carbono. A Unesco vai avaliar este ano se esses esforços são suficientes para que o recife da Grande Barreira de Corais preserve sua condição de Patrimônio Mundial, título conquistado em 1981.

(Com RFI e AFP)

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