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Aliados pedem que Lula fale menos de Bolsonaro, mas ele 'não se aguenta'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião ministerial no Palácio do Planalto - 18.mar.2024-Gabriela Biló/Folhapress
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião ministerial no Palácio do Planalto Imagem: 18.mar.2024-Gabriela Biló/Folhapress
do UOL

Do UOL, em Brasília

23/03/2024 04h00

Para 2024, o Planalto tinha o plano de deixar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua "herança maldita" no passado. Tinha. O problema é que, na contramão do que pedem aliados, Lula (PT) não deixa.

O que acontece

2024, o ano da "virada de chave". Se 2023 foi chamado pelo governo de "ano da reconstrução", este deve ser o ano das entregas, segundo a estratégia do Planalto. A gestão diz já ter bons números econômicos e sociais e o objetivo principal, agora, é mostrá-los para a população.

Lula e o Planalto têm falado em um problema de comunicação publicamente. Na esteira da queda de popularidade apontada por pesquisas recentes, o presidente cobrou, na primeira reunião ministerial do ano, que todas as pastas melhorem a estratégia de mostrar seus feitos ao cidadão.

Aliados alertam que há, no entanto, a "questão Bolsonaro". Em quase todos os discursos, Lula não cansa de lembrar o ex-presidente e dedicar a ele parte de seus discursos nas mais diferentes situações.

"Covardão"

O exemplo mais recente ocorreu exatamente na reunião ministerial na última segunda (18). Era um encontro para mostrar resultados e conquistas práticas do governo. Coordenados pela Casa Civil, os ministérios levantaram números e dados de iniciativas que tiveram avanço e melhora prática na vida da população, como o aumento do salário mínimo e a queda no desemprego.

Lula faria uma abertura rápida, em que abordaria avanços gerais, e passaria a palavra para Rui Costa, que mostraria avanços com tabelas e infográficos. Tudo transmitido ao vivo. No início, o presidente passou os recados como esperado e entregou alguns números.

Mas não demorou a falar de Bolsonaro. Chamou o ex-presidente de "covardão" que "ficou chorando quase um mês" e disse que os depoimentos feitos à PF (Polícia Federal) deixam claro que havia um "plano para um golpe de Estado". Dos quase dez minutos que falou, quase metade foi dedicada a Bolsonaro.

Ao ver a cena, aliados disseram ter certeza de que as falas sobre Bolsonaro, não os números, tomariam conta do noticiário —como de fato aconteceu. Governistas disseram ao UOL que, por decisão própria tomada "no calor do momento", o presidente desviou o foco da reunião, feita para expor números, conforme ele mesmo tinha pedido.

Antes e depois

Heranças para trás. No ano passado, grande parte do esforço da comunicação lulista foi não só em apresentar novos projetos como em mostrar as dificuldades com que encontrou o país após gestão Bolsonaro. Desde o slogan "União e Reconstrução", Lula distribuiu em quase todos os discursos informações sobre o rombo orçamentário, os programas abandonados, os projetos de infraestrutura parados. Seus ministros, da mesma forma, reforçavam em viagens há quanto tempo tal região não recebia fundos do governo.

Agora, é preciso virar a chave, diz o próprio Lula. O governo pretende parar de lançar novos projetos e ideias para mostrar o resultado dos já lançados —o recado do presidente e que os ministros têm repetido é claro: Bolsonaro é passado.

O problema, dizem aliados, é que o próprio Lula "não se aguenta". O presidente lembra o adversário político em quase todas as suas falas, seja para falar da gestão desastrosa, das tentativas golpistas ou dos discursos de ódio. O Planalto foi procurado, mas não quis comentar.

Crise dos móveis. O passado é visto como causa da mais recente crise na comunicação do governo, que envolve os móveis achados no Palácio do Alvorada. Com o suposto sumiço revelado em entrevista pela primeira-dama Janja da Silva, no início do governo, aliados dizem que "se não precisasse falar sempre de Bolsonaro", este problema não precisaria ter ocorrido. Agora, o caso tem sido usado por bolsonaristas e pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para atacar Janja.

Pessoas próximas dizem que aconselham, mas não confrontam o presidente. Segundo fontes ligadas à comunicação, o presidente escolhe no púlpito se vai ler o discurso preparado ou se vai improvisar —e é geralmente nestes improvisos que vêm as falas que mais animam o público, mas que, igualmente, mais fogem às estratégias definidas pelo governo.

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