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Silva e Luna crê em solução a curto prazo para impasse Brasil-Paraguai

20/08/2019 21h26

Nayara Batschke.

Foz do Iguaçu, 20 ago (EFE).- O diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, disse nesta terça-feira acreditar que Brasil e Paraguai chegarão a uma solução a curto prazo sobre o polêmico acordo que colocou na corda-bamba o governo do país vizinho nos últimos meses.

"Estamos chamando de curto prazo, para não colocar uma expectativa de data, porque essa é a intenção da Eletrobras e da Ande (Administración Nacional de Electricidad). O tema está sendo tratando em um nível técnico", declarou Silva e Luna a jornalistas convidados a visitar as instalações de Itaipu, maior hidrelétrica da América Latina e de caráter binacional entre Brasil e Paraguai.

Segundo o diretor, os efeitos da falta de um entendimento entre os dois países sobre a contratação de energia até 2022 ainda não foram sentidos em Itaipu, mas podem afetar a saúde financeira da usina caso as divergências persistam.

"Logicamente, se isso prosperar até o fim do ano, vai afetar. Seria mais ou menos como se houvesse um contingenciamento, como acontece no orçamento federal. Algum compromisso nosso teria que deixar de ser honrado", destacou.

Silva e Luna não mencionou números, mas estimativas apontam que a falta de um consenso tenha causado um impacto de aproximadamente US$ 50 milhões na arrecadação de Itaipu desde fevereiro, ainda que essa queda não tenha influenciado no funcionamento, manutenção ou reservas da usina.

Porém, diante da possibilidade de que Brasil e Paraguai não cheguem a um acordo, a hidrelétrica poderia deixar de arrecadar até US$ 130 milhões em 2019.

"Quanto mais cedo for resolvido, melhor (...) Até agora, não deixamos de cumprir nenhum dos nossos compromissos", enfatizou Silva e Luna.

Porta-vozes da hidrelétrica binacional disseram que o processo de negociação para a compra de energia "não depende de Itaipu", mas da Eletrobras, no caso brasileiro, e da Ande, do lado paraguaio, que são os dois órgãos estatais responsáveis pela distribuição da energia elétrica em seus respectivos países.

Por isso, Silva e Luna lembrou que "a missão de Itaipu é produzir energia e entregá-la" às empresas contratantes. Ele acrescentou que agora resta aguardar que as partes responsáveis pelas negociações cheguem a um entendimento.

O diretor frisou que a administração da usina, composta por executivos brasileiros e paraguaios, não tem um posicionamento oficial sobre a maneira como as conversas devem ser conduzidas, já que tanto Brasil como Paraguai têm soberania para defender seus próprios interesses na hora de contratar energia.

Os dois países selaram um acordo em maio, formalizado por meio de uma ata bilateral e que estabeleceu uma maior contratação de potência por parte do Paraguai.

Entretanto, os termos do documento, que foram vazados pela imprensa paraguaia, geraram uma grave crise política que colocou o presidente Mario Abdo Benítez sob a ameaça de um impeachment e levou à renúncia de diversas autoridades.

A oposição do país vizinho argumenta que o acordo, que estabelecia regras mais duras para o Paraguai para a compra da energia gerada em Itaipu para os próximos anos, prejudicava o país e cedia às pressões e interesses do Brasil.

Já as autoridades brasileiras afirmam que a ata assinada pretendia "corrigir uma defasagem histórica" na contratação de energia por parte da Ande, já que ela não teria acompanhado "o alto crescimento de sua demanda de energia".

"A Ata Bilateral buscou reequilibrar essa relação, de modo que cada parte pague pela energia que efetivamente consome", disse o Ministério das Relações Exteriores em nota.

Depois da polêmica, o acordo foi anulado pelo governo do Paraguai no início deste mês, embora a tensão política continue ganhando força no país.

Nesta semana, Eletrobras e Ande retomaram as negociações para um entendimento sobre a contratação de potência para 2019 e 2020, porém todos os demais pontos discutidos anteriormente foram excluídos da agenda.

"Discutimos profundamente os impactos financeiros, políticos e sociais derivados da contratação de potência pelas entidades compradoras, manifestando ambas as empresas sua preocupação", apontou em um comunicado o presidente da Ande, Luis Villordo, depois de uma reunião en São Paulo.

O tratado sobre Itaipu diz que cada país tem direto a metade da energia gerada pela usina e que a cada ano eles decidem a quantidade de energia que vão contratar. O Paraguai revende grande parte de sua cota ao Brasil e, apesar de ter uma demanda energética interna cada vez maior, tem mantido sua contratação inalterada para evitar um aumento dos custos repartidos entre os dois países conforme a energia requisitada por cada um, o que provocou divergências entre a Eletrobras e a Ande.

Esta é a primeira vez que as duas empresas não entram em um consenso no que diz respeito à compra de energia gerada por Itaipu, historicamente consumida sobretudo pelo Brasil. Só no ano passado, o país consumiu 85% de toda a energia gerada na usina. EFE

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