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Safras prematuras colocam vinho francês em risco

12/08/2022 11h22

Os viticultores franceses foram obrigados a adiantar consideravelmente a safra deste ano devido às altas temperaturas, e agora resta saber como isso afetará a qualidade da uva.

Das colinas do Hérault (sudeste) à Alsácia no nordeste do país, muitos proprietários já começaram a colher as cepas, após ondas de calor intensas.

A maturação da uva chegou a provocar uma safra no final de junho em Roussillon, algo excepcional. A tendência é de que o as colheitas no resto do país comecem de 1 a 3 semanas antes do previsto.

"Fomos surpreendidos, [as uvas] começaram a amadurecer muito rapidamente nos últimos dias", explicou Francois Capdellayre, presidente da cooperativa vinícola Dom Brial em Baixas, perto de Perpignan (sudeste).

"Nunca em trinta anos uma safra começou em 9 de agosto", declarou Jérôme Despey, proprietário na região do Hérault.

- A uva seca -

Como outros muitos agricultores, os viticultores franceses estão se adaptando gradualmente à nova realidade climática. Mas a seca excepcional deste ano, com um mês de julho que bateu recordes sem precedentes desde 1961, e os picos de calor aceleraram as coisas.

Somente 10% dos vinhedos franceses utilizam sistemas de rega artificial, que podem ser muito caros e complicados de instalar.

As parreiras são plantas especialmente resistentes, cujas raízes penetram profundamente na terra em busca de água. 

Os viticultores historicamente preferem o sol ao excesso de chuva porque o stress hídrico favorece o nível de açúcar na uva. E as chuvas fora do ciclo natural da primavera provocam o aparecimento de cogumelos.

Mas a situação atual ultrapassa o previsto.

Quando há muita escassez de água, a cepa se protege perdendo folhas e deixando de fornecer nutrientes às uvas, o que interrompe seu desenvolvimento.

"Não caiu uma gota de água em dois meses", explicou na Alsácia Gilles Ehrhart, presidente da associação regional de viticultores.

"Vamos ter uma safra muito, muito pequena", prevê o veterano agricultor.

Quando a temperatura ultrapassa os 38º C, "a uva seca, perde volume e a qualidade cai" explica. 

O nível de açúcar se torna excessivo e isso provoca uma taxa de álcool "muito elevada para os consumidores", afirma Pierre Champetier, presidente da Denominação de Origem Protegida da região de Ardèche, ao sul de Lyon.

Champetier começou a colher a uva na última segunda-feira. "Há 40 anos começávamos em 20 de setembro", lembrou.

- Resistir até o último momento -

Alguns produtores resistem até o último momento, à espera de algumas gotas d'água.  É o caso de alguns produtores do Hérault, onde a colheita deveria começar no início de setembro.

Há dois anos, Borgonha experimentou sua safra mais prematura em quatro séculos. Foi em 16 de agosto. Este ano, está prevista para 25 de agosto.

No vale do Ródano, mais ao sul, "a maturação foi adiantada em mais de 20 dias em relação ao ano passado", indicou a associação local de produtores.

Os viticultores desta região esperam que a qualidade não seja afetada.

Em Champanhe (nordeste), a safra começará no final de agosto. Os viticultores calculam uma perda de 9% devido às geadas e tempestades de granizo durante a primavera.

Na região de Bordeaux, a colheita das uvas destinadas aos brancos espumantes começou em 17 de agosto. Em seguida, a colheita será para os brancos secos, os doces e finalmente os vinhos tintos, que dão fama à região.

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© Agence France-Presse

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