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ONU pede cessar-fogo imediato entre Armênia e Azerbaijão

30/09/2020 06h20

O confronto entre os dois países do Cáucaso, que já deixou mais de cem mortos, preocupa a comunidade internacional com a intervenção crescente de nações vizinhas, como a Turquia.

Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul 

O Conselho de Segurança das Nações Unidas fez uma reunião de emergência após três dias de conflito armado entre a Armênia e o Azerbaijão. A sessão das Nações Unidas ocorreu na noite de terça-feira (29) a portas fechadas, em Nova York, nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que acontece o encontro anual da Assembleia Geral da ONU. 

O pedido das Nações Unidas ainda não desencadeou, por hora, nenhuma mudança na conduta da Armênia ou do Azerbaijão. Estes são os confrontos que mais causaram mortes desde 2016 entre as forças azeris e os separatistas armênios. Os ministros da Defesa dos dois países seguem comunicando contra-ataques, ofensivas e disparos. Foi a Bélgica que solicitou formalmente a sessão secreta na ONU depois que a França e a Alemanha pressionaram para que esse confronto no Cáucaso fosse incluído na agenda.

Após a reunião, os 15 países-membros do Conselho expressaram "preocupação sobre os relatos de ações militares em grande escala" e "condenaram fortemente o uso da força". Também declararam seu apoio ao apelo do Secretário-Geral da ONU para retomar as negociações o mais rápido possível. O Conselho de Segurança é composto por 15 países-membros, sendo 10 rotativos e cinco permanentes, com poder de vetar decisões: China, Rússia, EUA, França e Inglaterra.

Luta separatista antiga e recorrente

O conflito nas montanhas do Cáucaso permanece sem solução por mais de três décadas, com batalhas periódicas. Mas a luta, iniciada no domingo (27) com uso de armamento pesado, é a escalada mais séria dos últimos anos. A localidade em questão se chama Nagorno-Karabakh. Trata-se de uma região autônoma dentro da república do Azerbaijão, internacionalmente reconhecida como parte do Azerbaijão, mas cuja população é de maioria cristã armênia, que luta pela separação desse enclave de 4.400 km2 do restante do país.

Os outros moradores desse território são muçulmanos de etnia turca. O ministério da defesa da Armênia afirma que um ataque a assentamentos civis começou na manhã de domingo por parte do Azerbaijão.  As autoridades separatistas em Nagorno-Karabakh disseram que 18 pessoas foram mortas - 16 de seus soldados, uma mulher e uma criança - e cem feridos. Já o Azerbaijão disse que cinco membros da mesma família foram mortos por bombardeios armênios.

Num tipo de embate como este, a guerra de informação e a falta de dados oficiais impedem o esclarecimento sobre quem, na verdade, disparou os primeiros tiros. O governo da Armênia declarou a lei marcial, medida de emergência que dá amplos poderes aos militares, enquanto as autoridades do Azerbaijão restringiram o uso da Internet no país. 

Temor de intervenção da Turquia e Rússia

No confronto, o governo de Ancara cumpre o papel de rival da Armênia - país com histórico sangrento por parte da Turquia - e de aliada do Azerbaijão - onde vivem grupos étnicos turcos. O ministério da Defesa armênio declarou que um jato foi abatido na terça-feira (29) por uma aeronave turca que havia decolado de uma base aérea no Azerbaijão. As autoridades turcas classificaram a alegação como "manobra de propaganda barata" e o presidente azeri saiu em defesa da Turquia afirmando que o governo turco só está entrando com o suporte moral.

Mas, ainda em agosto, o ministro da Defesa do Azerbaijão se pronunciou sobre ajuda de militares turcos para cumprir o dever sagrado de retomar territórios perdidos. Uma guerra aberta entre Azerbaijão e Armênia pode vir a desestabilizar o Cáucaso, particularmente se Rússia e Turquia, as potências regionais, decidirem intervir abertamente.  Até porque estariam em lados opostos uma vez que Moscou, apesar de vender armas para os dois países, tem uma aliança militar com a Armênia, ao passo que Ancara defenderia seus laços familiares no Azerbaijão. Sem contar o risco de envolvimento do Irã, que faz fronteira com as duas ex-repúblicas soviéticas e já se ofereceu para intermediar as negociações de paz. 

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