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Unidade peronista é chave para Fernández em novo mapa político da Argentina

10/12/2019 17h17

Natalia Kidd.

Buenos Aires, 10 dez (EFE).- O peronista Alberto Fernández, que tomou posse nesta terça-feira como novo presidente da Argentina, terá maioria no Senado, mas não na Câmara dos Deputados, o que o obrigará a buscar consensos no legislativo e manter uma boa relação com os sempre poderosos governadores das províncias do país.

As eleições do último dia 27 de outubro não só determinaram a vitória em primeiro turno do peronista, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, mas também redefiniram o equilíbrio de forças no Congresso e o mapa político regional.

SEM MAIORIA NA CÂMARA

Nenhuma frente política contará com maioria simples na Câmara dos Deputados. Será igualmente difícil para o governo obter dois terços dos votos necessários para aprovar alguns tipos de leis.

Contudo, a Frente de Todos, coalizão liderada por Fernández que reúne diversas correntes do peronismo, que vão desde os mais tradicionais aos kirchneristas, tem o maior número de deputados na casa: 120 dos 257 parlamentares que compõem a Câmara.

No entanto, a Juntos pela Mudança, aliança que teve Mauricio Macri como candidato à reeleição para a presidência, tem somente quatro deputados a menos, dividida em três grandes blocos: Proposta Republicana (legenda liderada pelo agora ex-presidente), União Cívica Radical e Coalizão Cívica.

"Sem quórum próprio, o governismo precisará fazer alianças. Ao não ter maioria própria, não tem outra saída. Não vai poder aprovar leis de uma forma simples", analisou o diretor da consultoria Clivajes, Esteban Regueira, em entrevista à Agência Efe.

Para o analista, o cenário dará relevância a figuras como Sergio Massa, um dos principais aliados de Fernández na Frente de Todos, escolhido como novo presidente da Câmara dos Deputados.

"O papel de Massa como grande articulador do diálogo da oposição vai ser fundamental", destacou Regueira.

Outro importante nome do peronismo no Legislativo será o de Máximo Kirchner, filho mais velho de Cristina, que será o líder da bancada governista no Congresso.

POSIÇÃO MAIS CÔMODA NO SENADO

Diferentemente da Câmara, a Frente de Todos terá maioria simples no Senado. A coalizão liderada pelo novo presidente da Argentina conquistou 39 cadeiras das 72 que compõem a casa.

Resta saber se o peronismo conseguirá se manter unido, já que a aliança é integrada por vários partidos diferentes, como a Frente pela Vitória, que reúne os kirchneristas, o Partido Justicialista, com forte influência entre os governadores, e outros grupos de menor expressão.

Outros cinco senadores peronistas integram outras bancadas que não fazem parte da Frente de Todos e também são aliados de governadores que eventualmente poderiam apoiar as políticas de Fernández.

Já o Juntos pela Mudança conta com 28 representantes no Senado.

Para o analista Patricio Giusto, da consultoria Diálogo Político, não será fácil para Fernández manter os senadores da Frente de Todos alinhados aos objetivos do governo.

Na bancada há os que declaram fiéis a Cristina e outros que, na visão de Giusto, se "moverão em função do jogo político dos governadores".

O PODER DOS GOVERNADORES

Considerando que tanto no Senado como na Câmara dos Deputados muitos parlamentares respondem aos governadores de suas províncias, Fernández deve trabalhar para manter também uma boa relação com esse grupo político.

De fato, durante a campanha, o peronista prometeu que seu governo terá uma forte marca federal, mas que não deixará de dar voz aos interesses das 23 províncias do país - mais a cidade autônoma de Buenos Aires.

"Ao menos durante a campanha Fernández mostrou uma vocação para o verdadeiro federalismo e prometeu reuniões permanentes com os governadores. Vamos ver como isso se dará na prática porque não é simples. A Argentina é um país muito grande e não é fácil governar com 24 governadores, muitos deles com interesses opostos", ressaltou Regueira.

Fernández conta de início com o apoio explícito de 13 deles e está construindo pontes com outros seis. Quase todos são peronistas, que sinalizaram que podem ajudar o governo federal pontualmente.

Só quatro províncias são comandadas por integrantes da Juntos pela Mudança - Jujuy, Mendoza, Corrientes e a cidade de Buenos Aires -, mas isso não significa subordinação automática à Casa Rosada.

Giusto explicou que agora os governadores têm mais autonomia, uma das concessões feitas durante a gestão de Macri. O agora ex-presidente fez uma reforma que devolveu às províncias parte dos impostos federais, o que diminuiu o poder de barganha do governo central em negociações por recursos federais.

"Os governadores peronistas tiveram uma relação muito boa com Macri e se há algo que eles não querem é voltar aos que sofreram com Cristina. Estão felizes porque o presidente é peronista, mas querem seguir consolidando a autonomia conquistada nos últimos quatro anos", disse o analista. EFE

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