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"Quando os juízes passam a ser justiceiros, estamos perdidos", diz ex-STF

Roberto Jayme - 30.ago.2012/UOL
Imagem: Roberto Jayme - 30.ago.2012/UOL
do UOL

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em Campos do Jordão (SP)

31/08/2019 12h43

O ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Cezar Peluso atacou hoje a Lava Jato e acusou alguns juízes de se tornarem "justiceiros" em encontro com Campos do Jordão (SP). O magistrado mostrou preocupação em relação às supostas mensagens vazadas entre promotores e o Judiciário e afirmou que envolvidos fizeram "messianismo".

"Eu vivi, como juiz, a ditadura militar e jamais me passou pela cabeça um juiz, a modo de justiceiro da Sacra Inquisição, exercer a função para realizar projetos politico-ideológicos ou preconceitos de caráter pessoal", afirmou Peluso, em referência à Lava Jato. "Quando os juízes deixam de ser juízes e passam a ser justiceiros, estamos todos perdidos."

Para o ex-presidente do STF, a Lava Jato agiu movida pela "tentação de ser intérprete das explosões imediatas da multidão". Por isso, tomou certas atitudes questionáveis, como o uso de condução coercitiva para depoimentos. "[Situações como esta] põem em jogo a ilegalidade [das decisões] porque o fim útil justifica qualquer atividade."

Ele criticou o que chamou de "messianismo" de parte do Judiciário, em mensagem clara aos envolvidos com a operação. "Quando o juiz é incapaz de conhecer limites, ele não quer saber nada, o futuro tem de ser encontrado de qualquer jeito. Foi escolhido por Deus para mudar a ordem jurídica do país", ironizou.

Em comunhão com o discurso do ex-colega de STF Gilmar Mendes, o ex-presidente afirmou que a Lava Jato virou uma "metáfora do país", que não pode ser questionada.

"Já é mais do que uma instituição, é a própria imagem do país. Quem é contra os excessos da Lava Jato não respeita o país", critica. "Isso acarreta, como não podia deixar de ser, uma série de problemas graves."

Exposição do Judiciário à mídia

Peluso foi contra ainda a exposição de alguns magistrados nas mídias sociais e na imprensa. Segundo ele, quando um juiz se preocupa demais com a própria imagem, preocupa-se menos em defender a Constituição, sua verdadeira função.

"[O juiz tem de] ser recatado, não tem de tentar projetar sua imagem na mídia social, porque isso já é um fator que concorre para ele deixar de ser juiz. Esta é uma das vertentes da disfuncionalidade do Judiciário", declarou.

O ex-ministro também mandou, sem citar nomes, um sutil recado ao ex-juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça, Sergio Moro. "Alguns juízes descobrem que é mais importante estar na mídia do que qualquer outra coisa. Alguns até descobrem sua verdadeira vocação, largam o Judiciário e vão cuidar de outra coisa", provocou Peluso.

Por fim, também mostrou preocupação em relação às supostas conversas entre promotores e juízes da Lava Jato, reveladas pela imprensa. Sem revelar se acha as conversas divulgadas verdadeiras ou não, ele afirmou que as vê com "indignação e profunda tristeza".

"Se for verdadeiro aquilo que consta nesses diálogos, nós estamos diante do que eu consideraria a mais grave profanação da sacralidade da função jurisdicional", concluiu o magistrado.

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