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Recuo em janeiro é enganoso; projeção da inflação no ano já sobe para 5,5%

do UOL

Colunista do UOL

24/01/2025 14h44

O recuo da inflação em janeiro, medida pela variação do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), apurado de 16 de dezembro a 15 de janeiro, pode enganar quem pensa que a alta de preços começou a refluir.

A perspectiva é de uma paulada em fevereiro, com tanto o IPCA-15 quanto o IPCA cheio batendo nas alturas de 1,5%. A marcha da inflação mensal ao longo do ano, de acordo com as projeções, poderá ficará abaixo de 0,5%.

Núcleos e dispersão em alta

No acumulado em 12 meses, é esperado um pico acima de 6%, no início do segundo semestre, com a inflação fechando 2025 na altura de 5,5% — um ponto percentual acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas.

Com alta de 0,11% no mês, na comparação com dezembro, quando o IPCA subiu 0,34%, houve, de fato, recuo. No acumulado em 12 meses, a inflação ficou em 4,5%, teto do intervalo de tolerância do sistema de metas.

Mas a desaceleração foi muito menor do que as previsões, que, na média, apontavam ligeira deflação de 0,03%. A queda se deveu mais ao desconto de um bônus de Itaipu em energia, repassado às tarifas pagas pelos consumidores, fator episódico.

A prova de que o recuo no IPCA-15 em janeiro sobre dezembro não conta a verdadeira história de uma inflação pressionada, pode ser encontrada nos núcleos de inflação -- que medem a evolução mais estruturais dos preços, sem considerar movimentos sazonais ou inesperados -- e no índice de difusão -- medida do percentual de itens na cesta de produtos e serviços do IPCA que tiveram aumentos no mês.

A média dos núcleos escalou de alta de 0,41% em dezembro para 0,66%, em janeiro, avançado, no acumulado em 12 meses, de 4,09%, em dezembro, para 4,23 %, em janeiro. Já o índice de dispersão, no IPCA-15 de janeiro alcançou 68,9%, acima de 61,8% de dezembro e da média histórica de 65%.

Comida pode subir 6% no ano

Alimentação foi o grupo que mais contribuiu para o resultado de janeiro, embora tenha registrado menos pressão, na comparação com dezembro. No IPCA-15 de janeiro, os preços no grupo alimentação subiram 1,06%, com recuo em relação à alta de 1,47%, em dezembro.

Alimentação está no foco das preocupações, depois dos sinais de incômodo com preços altos da comida, expostos pelo presidente Lula. Os preços dos alimentos, na avaliação do presidente, está afetando a popularidade de seu governo, levando-o a correr atrás de medidas capazes de conter ritmo mais acelerado de altas.

Nas projeções do economista Fábio Romão, especialista da LCA 4intelligence em acompanhamento de preços, com histórico de figurar entre aqueles que conseguem captar e antecipar com mais precisão a marcha da inflação, os preços no importante e sensível subgrupo "alimentação no domicílio" registrarão recuo em 2025, mas permanecerão altos.

Romão projeta para janeiro a maior variação mensal nos preços de alimentos no domicílio em janeiro, com alta acima de 1%. Daí em diante, os índices mensais avançarão a um máximo de 0,8%, em março, com reduções significativas em meados do ano. As altas não passariam de 0,15% nos meses de junho, julho e agosto.

Esses números apontariam variação acumulada em 12 meses com um pico em agosto, quando a inflação de alimentos no domicílio poderia beirar 9%. No conjunto de 2025, a alta prevista é de 6%, um pouco inferior à elevação de 8,2% registrada em 2024.

Serviços não cedem

No IPCA-15 de janeiro, chama mais a atenção a evolução desfavorável nos preços dos serviços. Não se está falando do índice de preços geral de serviços, sempre afetado por itens voláteis, como as passagens aéreas.

Passagens aéreas voltaram a subir acima do previsto, em janeiro, mas sinais de alerta disseminados vêm do que se poderia chamar de núcleo dos serviços, denominados "serviços subjacentes", mais estruturais e afetados pela política econômica.

Esse conjunto de preços, que inclui os preços dos serviços ditos intensivos em trabalho, registrou altas fortes, na passagem de dezembro para janeiro, com repercussões nos valores acumulados em 12 meses. Os serviços subjacentes tiveram alta de 0,96%, no IPCA-15 de janeiro, acumulando em 12 meses elevação de 5,96% — bem acima do teto do intervalo de tolerância.

Economia já dá sinais de esfriar

Essa pressão se deve à economia ainda aquecida, com taxa de desemprego em mínimas históricas e massa salarial em elevação. Começam a aparecer, contudo, sinais de que a economia bateu no teto.

Com juros básicos já altos e ainda assim subindo, em combinação com a contenção de impulsos fiscais, crescem as análises de que a atividade já está na rota de algum esfriamento. Essa prevista desaceleração da atividade ajudaria a aliviar pressões sobre a inflação ao longo do ano.

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