Incêndio em estação de esqui na Turquia deixou 78 mortos; especialistas apontam negligência
O incêndio que devastou um hotel em uma estação de esqui na Turquia, na terça-feira (21) deixou 78 mortos, segundo o balanço final da tragédia, divulgado nesta quinta-feira (23) pelo Ministério da Justiça, após a conclusão da identificação das vítimas.
Um balanço anterior divulgado na quarta-feira à noite pelo Ministério Público em Bolu, capital da província onde ocorreu o incêndio, indicava 79 mortos.
Famílias inteiras morreram quando o hotel Grand Kartal, em Kartalkaya, foi tomado pelo fogo que começou pouco antes das 3h30 locais, disseram as autoridades.
O hotel estava ocupado por cerca de 240 hóspedes, em um período de pico de reservas devido às férias escolares.
Negligência
Sobreviventes e especialistas disseram que o incêndio foi resultado de uma série de casos de negligência. O sistema de alarme de incêndio do hotel de 12 andares não funcionou.
A presidente da Câmara de Arquitetura de Ancara, Derya Basyilmaz, disse à AFP que o edifício tinha apenas uma escada de emergência e não estava "conforme às normas". Ela trabalhou com uma delegação de especialistas para produzir um relatório sobre o assunto a ser tornado público. "De acordo com nossas informações, havia três escadas neste prédio... mas nenhuma delas era à prova de fogo", explicou Basyilmaz, ressaltando a ausência de rotas de fuga seguras, à prova de fogo e protegidas contra incêndio. Da mesma forma, "sabemos que havia um sistema de alarme, mas que não funcionava", continuou.
O estabelecimento também não tinha extintores de água automáticos (sprinklers) projetados para serem acionados em caso de incêndio e facilitar o trabalho dos bombeiros, abafando as chamas, garante a presidente da Câmara de Arquitetura.
Sem alarme ou rotas de fuga, famílias inteiras hospedadas no hotel de luxo durante as férias escolares ficaram presas no meio da noite por causa das chamas e da fumaça. "O fato de nada ter funcionado levou ao desastre em tamanha escala", disse ela. "Teríamos tido muito menos vítimas" se as normas de segurança tivessem sido respeitadas, mas "talvez não zero", acredita Derya Basyilmaz.
De acordo com o ministro do Turismo turco, Mehmet Nuri Ersoy, o hotel recebeu todas as certificações necessárias. Porém, de acordo com Derya Basyilmaz, a última inspeção havia sido feita em 2007. "Uma certificação não é válida para toda a vida. Ela deve ser revista e atualizada regularmente" porque os regulamentos mudam, observa a presidente da Câmara de Arquitetura de Ancara. Ela também aponta "muitas reformas realizadas sem especialistas competentes".
Por fim, ela destacou que a própria localização do hotel, construído de frente para as pistas de esqui para garantir uma vista panorâmica, impediu que os serviços de emergência acessassem a fachada mais alta. "Normalmente, os caminhões de bombeiros precisam ter acesso a todos os lados de um prédio. Nenhum deve ser deixado fora de alcance. Mas a parte de trás do hotel estava em um penhasco. Nenhum caminhão conseguiu chegar lá. Ninguém foi capaz de trabalhar nesta fachada", lamenta Basyilmaz.
Segundo a imprensa turca, o incêndio começou em um restaurante localizado no quarto andar do estabelecimento, cujas fachadas e interiores estão carbonizadas.
Onze pessoas estão presas como parte da investigação, entre elas o vice-prefeito de Bolu, o chefe dos bombeiros da cidade, o proprietário do Grand Kartal, o gerente-geral do estabelecimento e o eletricista-chefe.
(Com AFP)