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Startup cria vale-educação como benefício de empresas para funcionários

Benefício pode ser diferencial para atração e retenção de talentos - Desola Lanre-Ologun/Unsplash
Benefício pode ser diferencial para atração e retenção de talentos Imagem: Desola Lanre-Ologun/Unsplash
do UOL

Denyse Godoy

Do UOL, em São Paulo (SP)

22/01/2025 05h30Atualizada em 22/01/2025 11h42

A startup Unico Skill criou um novo tipo de benefício para as empresas oferecerem aos funcionários com o objetivo de incentivar a formação contínua e o desenvolvimento dos profissionais.

O vale-educação funciona nos moldes de um plano de saúde: o empregador paga um valor fixo mensal pelo auxílio, que dá ao colaborador e a seus dependentes o direito de fazer um ou mais cursos — desde idiomas até MBAs (Master of Business Administration, ou especialização em gestão de negócios).

Grandes companhias como Pague Menos, Natura e Nestlé já contrataram o serviço.

Como surgiu

A Unico Skill é uma empresa de tecnologia que nasceu no grupo da plataforma de verificação de identidade digital Unico. A Unico foi fundada em 2007 por três empreendedores brasileiros: Diego Martins, Paulo Alencastro e Rui Jordão. Tem como investidores gigantes como SoftBank, General Atlantic e Goldman Sachs. Na última rodada de captação de recursos, em 2022, foi avaliada em US$ 2,6 bilhões (R$ 15,8 bilhões na cotação atual).

Em 2021, em meio a uma estratégia de criação de outros negócios no grupo, a Unico decidiu entrar no ramo de recursos humanos. Em 2022, comprou a startup Skill Hub e separou essa unidade como uma nova empresa, a qual chamou de Unico Skill. Skill, em inglês, significa qualificação.

A ideia do novo benefício veio da percepção de que, no Brasil, a educação é falha e limita o crescimento dos trabalhadores, das empresas e do país. Na visão dos executivos da Unico Skill, o setor privado deve apoiar seus colaboradores e familiares na jornada para ter uma formação melhor. Trabalhadores mais capacitados e produtivos sobem na carreira, ganham mais, consomem mais e ajudam a economia a crescer.

Para a Unico Skill, as maneiras tradicionais como as empresas incentivam os funcionários a estudar mais não são eficientes. Bolsas de estudo, por exemplo, são caras e acabam sendo dadas como prêmios para os altos escalões - assim, não estão ao alcance da maioria dos colaboradores. O formato de vale-educação, a ser oferecido pela empresa como um benefício ao estilo do vale-refeição ou do plano de saúde, foi desenhado para ser mais acessível.

O que incomoda a gente é a desigualdade social que existe na sociedade sendo refletida e reforçada dentro da empresa. O CEO [presidente executivo] faz pós em Harvard, os vice-presidentes e diretores têm o MBA in company da GV [Fundação Getúlio Vargas]. E o cara da fábrica? Para ele, tem treinamento de brigada [de incêndio]. Eu quero dar para esse cara acesso à GV, inglês particular.
Joca Oliveira, presidente da Unico Skill

Como funciona

O benefício tem quatro planos. O mais barato custa R$ 90 por mês para o empregador e oferece cursos em universidades como a Estácio e a Cruzeiro do Sul. O mais caro, que não tem o preço divulgado pela Unico Skill, inclui a FGV e a escola de negócios Saint Paul.

Considerando todos os níveis, o vale-educação oferece 16 mil cursos em 77 instituições de ensino. O funcionário que tem o plano pode fazer mais de um curso ao mesmo tempo. Há, no cardápio, cursos de línguas, livres, profissionalizantes, de graduação e pós-graduação para adultos e crianças que sejam dependentes do beneficiário.

O aluno recebe assistência da empresa e do plano para escolher os cursos mais adequados às suas metas. Profissionais bem-sucedidos em suas áreas e especialistas em educação podem ser acionados pelo estudante por meio do aplicativo do plano para sessões de mentoria que forneçam esse tipo de orientação.

O departamento de RH das empresas conta com uma ferramenta para acompanhar o progresso de todos os alunos. Consegue saber qual é o retorno para o investimento e quais assuntos os funcionários estão estudando.

Modelo de negócio

O vale-educação tem um modelo de negócio novo no país. Pretende ser um ganha-ganha-ganha, favorecendo as empresas empregadoras, seus funcionários e as instituições de ensino.

Para as instituições de ensino, o plano significa corte de custos. Primeiro, na atração de novos alunos. As escolas e universidades precisam gastar com propaganda, patrocínios e outras estratégias para captar estudantes; então, um canal que os leve diretamente às suas portas barateia os cursos. Segundo, ao eliminar a inadimplência, que também força os alunos a abandonar os estudos antes da conclusão. Recebendo do plano, as instituições têm garantido um fluxo de caixa.

Uma hipótese que está sendo testada na prática é se o benefício vai conseguir convencer a estudar quem não tinha esse plano. Muitas vezes, não é só a questão financeira que afasta um estudante da escola.

Para as empresas, o vale-educação pode impulsionar o desenvolvimento dos atuais funcionários. Pode servir, ainda, como instrumento de retenção de talentos e atração de novos colaboradores.

A Unico Skill tem atualmente 70 clientes, que somam 156 mil funcionários — mas não são todos que recebem o benefício ainda. Existe a possibilidade de a empresa começar oferecendo o plano para uma parcela menor de empregados para testar o serviço. Nesta semana, anunciou que a rede de farmácias Pague Menos está oferecendo o benefício para todos os seus colaboradores e dependentes.

Embora não divulgue quanto já investiu no negócio, a Unico Skill diz que o breakeven (ponto em que as receitas se igualam às despesas) deve ser atingido no final deste ano. Em 2029, o faturamento anual é projetado em R$ 1 bilhão, segundo Oliveira.

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