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Petro suspende negociações com ELN após maior ataque durante seu governo

17/01/2025 12h30

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, suspendeu nesta sexta-feira (17) as negociações de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), envolvido na morte de pelo menos 40 pessoas desde a véspera no norte do país e na fronteira com a Venezuela.

Os guerrilheiros arremetem desde ontem contra a população civil na região de Catatumbo, onde mais de 30 pessoas morreram, segundo o governador do departamento de Norte de Santander. Ali, também enfrentaram dissidentes da extinta guerrilha das Farc que não entregaram as armas após o acordo de paz de 2016, segundo fontes oficiais.

Diante desse ataque, o presidente Gustavo Petro suspendeu as negociações e afirmou na rede social X que a guerrilha "não tem nenhuma vontade de paz".

O prefeito Gabriel Calle, do município de Montelíbano, informou mais tarde que nove pessoas haviam morrido em confrontos entre o ELN e o cartel do Clã do Golfo. Em ambos os casos, não se sabe se as vítimas são civis ou se pertencem a um grupo armado.

Petro começou a dialogar com o ELN no final de 2022, quando se tornou o primeiro esquerdista a chegar à Presidência da Colômbia. Mas esse processo de paz enfrenta crises constantes devido a ataques dos rebeldes, disputas acirradas com outros grupos armados e diferenças entre as partes que impediram a obtenção de acordos concretos.

- Disputa pela coca -

Em Catatumbo, os ataques foram registrados em povoados próximos a Tibú, município com mais narcocultivos do mundo, segundo a ONU.

O líder cocaleiro de Catatumbo José del Carmen Abril relatou à AFP que membros do ELN chegaram "derrubando as casas" para tomar "as fazendas". Também ameaçaram matá-lo.

"Vieram ontem quatro vezes me procurar, e hoje saiu uma publicação dizendo que era o último dia, que tinham que me entregar morto", contou por telefone, depois que o Exército o retirou de helicóptero do local, após ele passar horas escondido.

Catatumbo é uma região historicamente dominada pelas guerrilhas, que disputaram o controle desse território com grupos paramilitares nos anos 2000, época em que os esquadrões da extrema direita tentaram entrar no local a ferro e fogo.

O prefeito de Montelíbano informou que os nove corpos foram deixados em bolsas plásticas, e autoridades tentavam confirmar suas identidades.

- Diálogos truncados -

"O ELN tem que manifestar, de uma vez por todas, sua intenção, vontade, decisão de chegar à paz", declarou o senador Iván Cepeda, representante do governo nas negociações com essa guerrilha.

A Colômbia é o maior produtor mundial de cocaína, e Tibú é o município que concentra mais plantações de narcóticos, segundo a ONU. A defensora do Povo Iris Marín denunciou que o ELN está "atacando diretamente a população civil" e vai "casa a casa" assassinar pessoas que considera ligadas às dissidências das Farc. 

A ONU informou ontem que cinco ex-combatentes da extinta guerrilha que abandonaram as armas após o acordo de paz foram assassinados em Catatumbo. 

Iris ressaltou que, desde novembro de 2024, houve alertas sobre a violência "iminente" que "poderia ocorrer se medidas não fossem tomadas", e pediu uma "presença maior da força pública". "É uma disputa, de um lado, pelas receitas ilegais, pelo controle populacional e pelo controle da fronteira com a Venezuela", acrescentou. 

Para a funcionária, após a questionada reeleição de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela, as "mudanças geopolíticas" afetaram "os interesses dos grupos na região". O comissário de paz do governo, Otty Patiño, denunciou ontem que o ELN está "pagando pistoleiros" para assassinar seu principal assessor.

O governo reprova a falta de vontade da guerrilha para assinar a paz. Já os rebeldes denunciam uma estratégia de Bogotá para dividi-los, ao reconhecer nas negociações a "Los Comuneros del Sur", uma facção dissidente do ELN que opera no departamento de Nariño (sudoeste).

"Isso não é algo isolado. É contínuo, é uma campanha militar" do ELN, disse à AFP Elizabeth Dickinson, analista do International Crisis Group, ressaltando que "a situação da segurança se deteriora muito rapidamente", após um convívio relativamente pacífico entre a guerrilha e as dissidências das Farc no local durante cerca de dois anos.

O grupo guerrilheiro de inspiração guevarista, que pega em armas desde 1964, tem uma força de cerca de 5.800 combatentes e uma ampla rede de colaboradores, de acordo com a inteligência militar.

O ELN já falhou em suas tentativas de assinar a paz com cinco governos. A estrutura federada desta guerrilha tem sido um dos maiores obstáculos para avançar rapidamente em direção a um acordo.

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© Agence France-Presse

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