Irã e países europeus discutem programa nuclear antes do retorno de Trump
O Irã iniciou nesta segunda-feira (13) uma rodada de conversações "sérias, francas e construtivas" com a França, o Reino Unido e a Alemanha, para tratar do programa nuclear de Teerã, uma semana antes do retorno de Donald Trump à Casa Branca.
Trata-se da segunda rodada sobre essa questão em menos de dois meses, após um encontro discreto em Genebra, em novembro, entre Teerã e essas três potências europeias conhecidas como E3.
"O vice-ministro iraniano de Relações Exteriores, Majid Takht-Ravanchi, e seus homólogos do E3 se reuniram na noite desta segunda-feira", informou a agência de notícias iraniana ISNA.
"Discutiram questões de interesse mútuo, incluindo as negociações para levantar as sanções, a questão nuclear e a situação preocupante na região", acrescentou.
O vice-ministro iraniano de Relações Internacionais, Kazem Gharibabadi, qualificou as conversas como "sérias, francas e construtivas".
O encontro foi cercado de grande discrição. Nem o nome dos participantes nem o local onde os diplomatas dos quatro países se reuniram foram revelados.
As diplomacias dos três países europeus confirmaram as discussões: "Em um contexto difícil, falamos sobre nossas preocupações e reiteramos nosso compromisso com uma solução diplomática. Acordamos em prosseguir nosso diálogo", escreveram em um comunicado conjunto publicado no X.
"Essas não são negociações", afirmou anteriormente à AFP o Ministério de Relações Exteriores da Alemanha. O Irã concordou, dizendo que as conversas eram simples "consultas".
Para Teerã, "o principal objetivo dessas conversas é levantar as sanções contra o Irã", disse. Acrescentou que a República Islâmica também estaria "atenta aos assuntos que as outras partes queiram abordar".
A reunião é um sinal de que os países do E3 "continuam trabalhando por uma solução diplomática para o programa nuclear iraniano, cujo progresso é extremamente problemático", afirmou o Ministério de Relações Exteriores francês na quinta-feira.
O programa nuclear do Irã tem recebido renovada atenção com o iminente retorno de Donald Trump à Casa Branca em 20 de janeiro.
Durante seu primeiro mandato, Trump aplicou uma política de "máxima pressão" sobre Teerã, que levou à retirada dos Estados Unidos do acordo de 2015, que limitava o programa nuclear do Irã em troca de um alívio nas sanções.
A República Islâmica manteve-se fiel às condições do acordo até a retirada de Washington, mas depois passou a descumprir seus compromissos.
As tentativas de recuperar esse pacto fracassaram, e os representantes europeus expressaram repetidamente sua frustração com os descumprimentos iranianos.
- "Ponto de ruptura" -
Na semana passada, o presidente francês Emmanuel Macron disse que a aceleração do programa nuclear do Irã estava "muito perto do ponto de ruptura". O Irã afirmou que os comentários eram "infundados" e "desonestos".
Em dezembro, Reino Unido, Alemanha e França acusaram Teerã de aumentar seus estoques de urânio altamente enriquecido a "níveis sem precedentes" sem "nenhuma justificativa civil confiável".
"Reiteramos nossa determinação de usar todas as ferramentas diplomáticas para impedir que o Irã adquira armas nucleares, incluindo o mecanismo 'snapback', se necessário", acrescentaram.
O 'snapback', previsto no Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) de 2015, permite que os países signatários imponham novamente sanções das Nações Unidas ao Irã em casos de "violações significativas" dos compromissos.
Mas a opção de ativar esse mecanismo expira em outubro deste ano, o que acrescenta urgência aos esforços diplomáticos.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) diz que o Irã aumentou sua produção e é o único país sem arsenal nuclear a ter 60% de urânio enriquecido, próximo dos 90% necessários para desenvolver uma bomba atômica.
O Irã insiste que seu programa nuclear é exclusivamente para fins pacíficos e nega qualquer intenção de desenvolver armas atômicas. Também expressa repetidamente sua disposição a reativar o acordo.
O presidente Masud Pezeshkian, que assumiu o cargo em julho, está inclinado a reativar o pacto e pedir o fim do isolamento do país. Em uma entrevista recente à estatal chinesa CCTV, o ministro das Relações Exteriores Abbas Araqchi também declarou sua disposição para "negociações construtivas".
"A fórmula em que acreditamos é a mesma da fórmula anterior do JCPOA, ou seja, construir confiança no programa nuclear do Irã em troca do levantamento das sanções", acrescentou.
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