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'Parece pandemia': álcool e kit caseiro viram arma contra virose em praias

do UOL

Do UOL, em Guarujá (SP)

12/01/2025 12h00Atualizada em 12/01/2025 18h19

Álcool em gel e comidas preparadas em casa ou industrializadas passaram a fazer parte do "kit básico" de moradores e turistas que frequentam as praias do litoral paulista, após o recente surto de virose na região. Com medo de contaminação, as pessoas têm redobrado os cuidados com a alimentação na rua, o que vem impactando as vendas de comerciantes locais.

Durante as comemorações de Ano-Novo, diversos casos de infecção gastrointestinal foram registrados na Baixada Santista. Os principais sintomas relatados são náuseas, vômitos, diarreia e dores abdominais intensas.

Uma jovem de 20 anos foi internada em estado grave na UTI após contrair o vírus durante o Réveillon em Guarujá. No dia 4, uma morte relacionada ao surto foi registrada no estado.

Na quarta-feira (8), a Secretaria de Saúde de São Paulo confirmou a presença do norovírus em amostras detectadas em fezes humanas coletadas em Guarujá e Praia Grande. A origem da contaminação ainda é desconhecida e está sendo investigada pela Coordenadoria de Controle de Doenças. Uma das suspeitas iniciais era água encanada, mas a Sabesp nega a informação.

O que se sabe, porém, é que o vírus que causa gastroenterite pode ser transmitido por água e alimentos contaminados.

Em alerta, ontem (11), a dona de casa Maria Helena e sua família optaram por levar salada e frios preparados em casa para a praia de Pitangueiras, em Guarujá. Sobre a mesinha, ao lado dos pratos e do protetor solar, colocaram álcool em gel, usado para higienizar as mãos.

Família preparou comida em casa para levar à praia, em Guarujá (SP) - Mateus Araújo/UOL - Mateus Araújo/UOL
Família preparou comida e levou álcool em gel para a praia
Imagem: Mateus Araújo/UOL

"Meu marido é médico e orientou o que a gente devia fazer para se proteger. Não vamos comer nada na praia, só o que trouxemos", explicou. "E ainda estamos decidindo se depois daqui vamos comer um peixinho ou uma pizza em um restaurante."

A também dona de casa Priscila Cavalcanti, 42, foi passar o fim de semana com o marido e o filho na praia e redobrou os cuidados com a higiene. A família encheu o cooler com bebidas e comprou salgadinhos industrializados, para evitar o consumo nos quiosques.

"Até o gelo compramos em saco, porque tem mais garantia de qualidade", dizia. Não é à toa que caminhões de gelo se tornaram frequentes nas ruas da cidade, vendendo sacos de 5 quilos por R$ 15. Adegas e mercadinhos também registraram aumento na procura pelo produto.

A empresária Ana Paula Canonici, 49, de Araras, no interior de São Paulo, viajou prevenida com a mãe, o marido e o filho para aproveitar o fim de semana no litoral. "Trouxemos álcool em gel, compramos água mineral lacrada e vamos evitar contato com a água do mar", afirmava. "E preparamos uma torta de frango, que depois vamos comer."

A dona de casa Priscila Cavalcanti, 42, e a família em Guarujá (SP) - Mateus Araújo/UOL - Mateus Araújo/UOL
A dona de casa Priscila Cavalcanti, 42, e a família em Guarujá (SP)
Imagem: Mateus Araújo/UOL

'Era para estar lotado'

As duas primeiras semanas de janeiro costumam ser as mais movimentadas do ano em Guarujá, segundo comerciantes entrevistados pelo UOL. Os casos de virose e registros de assalto na cidade, no entanto, afastaram as pessoas, dizem eles.

Na praia do Tombo, o número de frequentadores neste fim de semana foi 25% menor do que o esperado, de acordo com Ulisses Mangueira, 43, dono de um restaurante no calçadão. O faturamento dele também caiu 35%. O comerciante diz que o início da Operação Verão, da Polícia Militar, havia melhorado a segurança na região, mas a doença na virada do ano "piorou tudo".

No verão, Mangueira costuma dobrar o número de funcionários, passando de 10 para 20 pessoas, para dar conta da alta demanda. O que não tem ocorrido. "Um sábado como esse, às 10h eu já não teria mais guarda-sol para clientes", contava. Apenas parte da faixa de areia estava ocupada. "Tem família que vem e traz tudo que vai consumir. Termino no prejuízo."

Comerciante reclama de queda no movimento na praia do Tombo - Mateus Araújo/UOL - Mateus Araújo/UOL
Comerciante reclama de queda no movimento na praia do Tombo
Imagem: Mateus Araújo/UOL

Em Pitangueiras, a comerciante Andrea Moreira, 43, fazia a mesma queixa. "Esse início de ano tá parecendo novembro, que tem pouca gente", dizia, mostrando a quantidade de cadeiras e guarda-sol empilhados perto da barraca. "Tem sol, não tem chuva, era para estar tudo lotado. Mas a virose está tirando meus clientes. Parece a pandemia."

Nos hotéis, 19% das reservas já foram canceladas em função da situação, como estima a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp). O diretor-executivo da Fhoresp, Édson Pinto, classificou a situação como um "apagão", resultado da combinação do surto de virose e de arrastões no litoral.

No sábado, a reportagem passou pela UPA Rodoviária, uma das principais unidades de atendimento de Guarujá. No dia 1º, o tempo de espera para consulta no local chegou a quase 3 horas. Neste fim de semana, o movimento era bem mais tranquilo.

Em nota enviada ao UOL, a Prefeitura de Guarujá confirmou que os atendimentos relativos a casos de virose nas unidades de saúde do município "voltaram à normalidade, sem picos de demanda desde 4 de janeiro".

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