'Parece pandemia': álcool e kit caseiro viram arma contra virose em praias
Álcool em gel e comidas preparadas em casa ou industrializadas passaram a fazer parte do "kit básico" de moradores e turistas que frequentam as praias do litoral paulista, após o recente surto de virose na região. Com medo de contaminação, as pessoas têm redobrado os cuidados com a alimentação na rua, o que vem impactando as vendas de comerciantes locais.
Durante as comemorações de Ano-Novo, diversos casos de infecção gastrointestinal foram registrados na Baixada Santista. Os principais sintomas relatados são náuseas, vômitos, diarreia e dores abdominais intensas.
Uma jovem de 20 anos foi internada em estado grave na UTI após contrair o vírus durante o Réveillon em Guarujá. No dia 4, uma morte relacionada ao surto foi registrada no estado.
Na quarta-feira (8), a Secretaria de Saúde de São Paulo confirmou a presença do norovírus em amostras detectadas em fezes humanas coletadas em Guarujá e Praia Grande. A origem da contaminação ainda é desconhecida e está sendo investigada pela Coordenadoria de Controle de Doenças. Uma das suspeitas iniciais era água encanada, mas a Sabesp nega a informação.
O que se sabe, porém, é que o vírus que causa gastroenterite pode ser transmitido por água e alimentos contaminados.
Em alerta, ontem (11), a dona de casa Maria Helena e sua família optaram por levar salada e frios preparados em casa para a praia de Pitangueiras, em Guarujá. Sobre a mesinha, ao lado dos pratos e do protetor solar, colocaram álcool em gel, usado para higienizar as mãos.
"Meu marido é médico e orientou o que a gente devia fazer para se proteger. Não vamos comer nada na praia, só o que trouxemos", explicou. "E ainda estamos decidindo se depois daqui vamos comer um peixinho ou uma pizza em um restaurante."
A também dona de casa Priscila Cavalcanti, 42, foi passar o fim de semana com o marido e o filho na praia e redobrou os cuidados com a higiene. A família encheu o cooler com bebidas e comprou salgadinhos industrializados, para evitar o consumo nos quiosques.
"Até o gelo compramos em saco, porque tem mais garantia de qualidade", dizia. Não é à toa que caminhões de gelo se tornaram frequentes nas ruas da cidade, vendendo sacos de 5 quilos por R$ 15. Adegas e mercadinhos também registraram aumento na procura pelo produto.
A empresária Ana Paula Canonici, 49, de Araras, no interior de São Paulo, viajou prevenida com a mãe, o marido e o filho para aproveitar o fim de semana no litoral. "Trouxemos álcool em gel, compramos água mineral lacrada e vamos evitar contato com a água do mar", afirmava. "E preparamos uma torta de frango, que depois vamos comer."
'Era para estar lotado'
As duas primeiras semanas de janeiro costumam ser as mais movimentadas do ano em Guarujá, segundo comerciantes entrevistados pelo UOL. Os casos de virose e registros de assalto na cidade, no entanto, afastaram as pessoas, dizem eles.
Na praia do Tombo, o número de frequentadores neste fim de semana foi 25% menor do que o esperado, de acordo com Ulisses Mangueira, 43, dono de um restaurante no calçadão. O faturamento dele também caiu 35%. O comerciante diz que o início da Operação Verão, da Polícia Militar, havia melhorado a segurança na região, mas a doença na virada do ano "piorou tudo".
No verão, Mangueira costuma dobrar o número de funcionários, passando de 10 para 20 pessoas, para dar conta da alta demanda. O que não tem ocorrido. "Um sábado como esse, às 10h eu já não teria mais guarda-sol para clientes", contava. Apenas parte da faixa de areia estava ocupada. "Tem família que vem e traz tudo que vai consumir. Termino no prejuízo."
Em Pitangueiras, a comerciante Andrea Moreira, 43, fazia a mesma queixa. "Esse início de ano tá parecendo novembro, que tem pouca gente", dizia, mostrando a quantidade de cadeiras e guarda-sol empilhados perto da barraca. "Tem sol, não tem chuva, era para estar tudo lotado. Mas a virose está tirando meus clientes. Parece a pandemia."
Nos hotéis, 19% das reservas já foram canceladas em função da situação, como estima a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp). O diretor-executivo da Fhoresp, Édson Pinto, classificou a situação como um "apagão", resultado da combinação do surto de virose e de arrastões no litoral.
No sábado, a reportagem passou pela UPA Rodoviária, uma das principais unidades de atendimento de Guarujá. No dia 1º, o tempo de espera para consulta no local chegou a quase 3 horas. Neste fim de semana, o movimento era bem mais tranquilo.
Em nota enviada ao UOL, a Prefeitura de Guarujá confirmou que os atendimentos relativos a casos de virose nas unidades de saúde do município "voltaram à normalidade, sem picos de demanda desde 4 de janeiro".