Trombose, estresse, dor no joelho: 10 problemas do trânsito para a saúde
O congestionamento no trânsito disparou em dezembro na cidade de São Paulo e é o maior para o mês desde 2019. A média diária de lentidão até o dia 10 foi de 509 km, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo com base em dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Ficar preso no trânsito pode afetar a saúde de várias maneiras, principalmente devido ao estresse físico e psicológico que a situação provoca. Alguns dos impactos negativos para a saúde incluem:
Transtornos mentais
Quem lida com o trânsito no dia a dia está sujeito a congestionamentos, possíveis atrasos a compromissos, imprudência e falta de educação de outros motoristas, acidentes, falta de segurança e outros problemas.
Todas essas situações geram estresse, que é uma resposta do organismo frente a ameaças e que se não for controlado se intensifica e evolui para outras complicações, como ansiedade, depressão, pânico, burnout e doenças psicossomáticas.
Diminuição da audição
Buzinas, alarmes, sirenes, caixas de som de veículos de publicidade, motores de motos, tudo isso emite entre 87 a 112 decibéis, mais que o suficiente para causar a morte das células auditivas, que é progressiva e irreversível.
Para se ter ideia, ruídos a partir de 50 decibéis já são capazes de causar danos, variando de acordo com o tempo de exposição e intensidade. Ficar exposto a níveis sonoros superiores a 90 decibéis por mais de 4 horas é altamente prejudicial.
Morbidade respiratória
Em 2012, a OMS atribuiu a morte de cerca de 3,7 milhões de pessoas no mundo à poluição. Motoristas estão mais suscetíveis, comprovou em estudo de 2016 médicos do Incor e do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Pulmões, quando expostos longa e continuamente a poluentes, perdem capacidade funcional e estão sujeitos a asma, bronquite, fibrose e câncer.
Trombose venosa
Formação de coágulos em veias profundas, sobretudo pernas (trombose), não se limita apenas a viagens de avião, o risco também existe em carro, ônibus, quando o trajeto é longo (mais de 4 horas) e não se tem espaço para se movimentar ou já apresenta algum fator predisponente: varizes, obesidade, câncer, idade superior a 60 anos, gravidez e tabagismo.
Se o coágulo se desprender pela corrente sanguínea evolui para embolia, que nos pulmões pode ser fatal.
Ataque do coração
O trânsito intenso é um dos principais propulsores do infarto, que, juntamente a ele, está associado a outros inimigos cardíacos, como poluição, estresse e trombose.
De acordo com a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), que investigou dados de acidentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) entre janeiro de 2014 e julho de 2020, doenças cardiológicas (infartos e arritmias) também são a quarta causa de acidentes nas estradas brasileiras.
Dores ortopédicas
Quem fica sentado num banco de automóvel por mais de duas horas dificilmente não se queixa de dores. A coluna sofre desvios, compressões e lesões, os músculos ficam sobrecarregados e fadigados, tendões e nervos encurtados e os movimentos repetitivos, como os da troca de marcha, por exemplo, causam tendinite em punhos ou bursite nos ombros.
Já o ato de frear e pisar na embreagem várias vezes ao dia desgasta com as articulações dos joelhos e tornozelos.
Pedras nos rins
Passar muito tempo no volante pode significar menos acesso à água potável ou disponibilidade para beber a quantidade desejada dela, além de maior risco de exposição contínua a temperaturas muito elevadas e redução de idas ao banheiro a maior parte do dia.
Como resultado, o motorista fica sujeito à desidratação, ao desenvolvimento de cálculos (pedras) renais e infecções urinárias, as quais mulheres tendem a ser mais propensas que os homens.
Ganho de peso
Um levantamento feito pelas concessionárias dos sistemas Anhanguera-Bandeirantes e Castelo Branco-Raposo Tavares, dois dos principais corredores viários do estado de São Paulo, apontou em 2018 que 78% dos caminhoneiros estavam com sobrepeso ou obesidade.
Um sinal de alerta que se estende a demais motoristas, pois falta de atividade física e má alimentação são apontadas como principais causas, aumentando ainda o risco para obesidade, diabetes e pressão alta.
Gastrite
Inflamação da mucosa que reveste as paredes internas do estômago, a gastrite quando relacionada ao trânsito pode surgir em decorrência de estresse crônico ou alimentação muito gordurosa e processada, típica de restaurantes de estrada, que priorizam o consumo de lanches e pratos rápidos e fáceis, para quem tem pressa.
Dificuldade de acesso a saneamento básico também pode aumentar a chance de infecção pela bactéria H. pylori, que causa úlceras.
Distúrbios do sono
O trânsito pode afetar o sono de várias maneiras perigosas. Tédio e cansaço extremo e persistente levam muitos motoristas a terem sonolência ao volante, o que frequentemente ocasiona acidentes.
Entre 2014 e 2019, segundo a Abramet foram registrados 20 mil deles, por esse motivo, causando 1.788 mortes e 19.450 feridos. Por outro lado, estresse e preocupações repercutem em insônia, que está relacionada a mal súbito, apneia e alta ingestão de remédios.
Como evitar os malefícios do trânsito
- Se possível, busque oportunidades em cidades com trânsito menos intenso;
- Opte pelo uso de transportes como trens e metrô, use bicicleta ou caminhe;
- Saia de casa com antecedência, ou pesquise trajetos alternativos;
- Ouça no carro músicas e programas de rádio relaxantes;
- Considere fazer psicoterapia e descanse bem antes de qualquer viagem longa;
- Pratique exercícios de alongamento e fortalecimento, aproveite o farol vermelho;
- Para evitar a poluição, fique com os vidros do carro fechados;
- Faça paradas a cada duas horas para ir ao banheiro, caminhar e ingerir líquidos;
- Fique atento à distância entre o banco e o volante e faça ajustes;
- Revise a espuma dos bancos e, caso seja necessário, realize uma troca;
- Evite o consumo de doces, frituras e salgados na estrada;
- Faça visitas regulares ao médico e siga bons hábitos.
* Com reportagem publicada em 29/06/2023