Antipetismo marca Vila Formosa, que deu vitória a Marçal e pode ir de Nunes
Pablo Marçal (PRTB) não avançou ao segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, mas foi o candidato mais votado em 20 das 57 zonas eleitorais da capital paulista. Sua maior vitória foi obtida na Vila Formosa, na zona leste, onde alcançou 34,59% dos votos — quase cinco pontos percentuais à frente de Ricardo Nunes (MDB), segundo colocado no distrito, com 30,07%.
Nas eleições de 2022, a mesma Vila Formosa deu a maior vitória a Jair Bolsonaro (PL) em toda a cidade: 59,04% dos eleitores preferiram o ex-presidente a Lula (PT) no segundo turno.
A aderência do bairro à direita, no entanto, não é novidade. A última vez que a Vila Formosa preferiu uma candidatura à esquerda para a prefeitura foi há 24 anos, em 2000, quando Marta Suplicy (PT) venceu Paulo Maluf.
Marta concorre novamente neste ano; desta vez, como vice de Guilherme Boulos (PSOL) — a candidatura ficou em terceiro lugar na Vila Formosa, com 22,45% da preferência.
Pesquisa Datafolha divulgada na última quinta (10) mostra que Nunes deve ficar com 84% dos eleitores de Marçal no segundo turno.
Para a jornaleira Maria de Fátima da Silva, de 67 anos, 24 deles morando no bairro, os eleitores da região não votam em Boulos por rejeitarem Lula (PT). "Estamos muito revoltados com o presidente, ele não cumpre nada do que promete", disse ela, da banca onde atende na avenida Eduardo Cotching. "O Lula enganou todos os pobres que podia."
A fala de Maria de Fátima encontra eco em Marcelo Batista, de 65 anos, cabeleireiro na Vila Formosa há 34. Ele conta que não votou no primeiro turno, mas no segundo, vai às urnas apoiar Nunes, para tentar evitar uma vitória de Guilherme Boulos (PSOL). "O Nunes pode ser de um partido de esquerda, mas o Boulos é ainda mais à esquerda", disse. O MDB de Nunes é a legenda mais ao centro do Brasil, segundo GPS partidário organizado pelo jornal Folha de S.Paulo. Durante a campanha, Marçal repetiu que todos seus adversários eram de esquerda, e integravam um "consórcio comunista" contra sua candidatura.
O empresário Hélio Garcia, 75, também disse que vota contra a esquerda, "que não cria emprego". "Os partidos de esquerda estão engajados no funcionalismo, não criam postos de trabalho", afirmou. "A maior prova é o [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad 'extorquindo' a gente."
Para o pesquisador Pedro Rezende, do LabCidade, vinculado à FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), a votação na Vila Formosa ajuda a ilustrar a ascensão de uma nova classe média paulistana.
"A pessoa que prospera na zona leste quer morar mais ao centro, mas não nos bairros centrais, em Pinheiros, mas no Tatuapé, por exemplo, mais próximo da região central, mas ainda na zona leste", disse. "Com os preços na região ficando proibitivos, essas pessoas têm se mudado para a Vila Formosa, que é o próximo bairro na expansão dessa mancha de prosperidade."
Essa classe média ascendente assume uma posição diferente da classe média tradicional de São Paulo, que tem uma posição mais liberal, social-democrata. É um voto essencialmente bolsonarista, em candidatos que se colocam como antissistema.
Pedro Rezende, pesquisador do LabCidade
O taxista José Souza, 30, mora mais ao leste, em Ermelino Matarazzo, mas trabalha no ponto em frente ao shopping Anália Franco. Para ele, que não votou em Marçal, a preferência pelo empresário é principalmente pelo antipetismo. "Não é por votar na direita, mas por votar principalmente contra a esquerda", disse.
É um bairro principalmente de classe média, e esse pessoal mais elitista é contra a esquerda e o PT.
José Souza, taxista
A rejeição à esquerda não é o único motivo para a votação expressiva do ex-coach: há também quem se identifique com o discurso "antissistema" dele. "O sistema vai defender quem eles querem defender, para se manter no poder, colocar os chegados", disse a investidora Monique, de 25 anos, que não forneceu seu sobrenome.
Para ela, o empresário venceu em toda a cidade, e as urnas foram "totalmente burladas". Não há indício que a votação tenha sido fraudada — nunca houve fraude comprovada nas eleições brasileiras desde a adoção das urnas eletrônicas —, e o próprio Marçal disse reconhecer o resultado das urnas. A jovem afirmou se informar principalmente pelo Instagram — rede em que a Justiça derrubou os perfis de Marçal três vezes durante a campanha por suspeita de abuso de poder econômico e disseminação de conteúdo falso.