Desertor ucraniano denuncia 'mobilização para a vida toda' sem perspectiva de futuro
Durante cinco anos, Sergiy Gnezdilov foi soldado no exército ucraniano. Com a invasão em grande escala, o jovem de 24 anos até lançou um podcast onde soldados ucranianos compartilham seu cotidiano na zona de guerra. Mas, há dez dias, ele tomou a decisão de desertar, o que gerou grande repercussão na Ucrânia, com receios de que sua saída, amplamente divulgada, possa encorajar outros soldados a fazer o mesmo.
Cerise Sudry-Le Dû, correspondente da RFI em Kiev
Sergiy Gnezdilov critica uma mobilização "para a vida toda", sem perspectiva de retorno à vida civil, e diz estar esperando que outros assumam seu lugar.
Ele entra em contato tarde da noite, pois acaba de mudar de apartamento. Um procedimento que ele repete todos os dias para evitar ser rastreado pela polícia. Ele também troca de telefone regularmente. Dois dias após decidir desertar, Sergiy precisou de uma cirurgia urgente e o médico foi vê-lo na sala de recuperação. "Ele me perguntou o que eu tinha feito. Me fez sair pela porta dos fundos da clínica", conta.
O problema de saúde desencadeou sua decisão: declarado apto pelas autoridades médicas, foi em um hospital privado que informaram que ele precisava de uma cirurgia urgente para remover um cisto no estômago. "Desde então, não voltei para casa, fui para a casa de amigos, passei a noite lá. Comecei a me mover de um amigo para outro para dificultar que me encontrem", explica ele.
"A retaguarda precisa se preparar"
O jovem confessa que está exausto. Servindo na infantaria há cinco anos, ele já não aguenta mais. "As pessoas estão na linha de frente sem descanso, por períodos muito longos. Eu estive lá por cinco anos, mas há outros que estão lá há dez!", lamenta.
Apesar de o exército ucraniano ter reduzido a idade de mobilização de 27 para 25 anos, ainda há uma falta crítica de homens. Além disso, os soldados na linha de frente frequentemente relatam seu cansaço, esgotados pelos raros dias de descanso, pela corrupção em algumas brigadas ou por ordens inadequadas.
"Acho que chegou a hora de outros homens pegarem em armas e defenderem a Ucrânia, em vez de viverem uma vida pacífica em Kiev. A retaguarda também precisa se preparar para a guerra. Cada pessoa com obrigação militar deve não apenas viver sua vida, mas também se preparar para substituir os soldados exaustos que já cumpriram seu dever. E, além disso, deve haver um treinamento militar básico geral para todos, incluindo noções médicas básicas", ele sugere.
O jovem está um pouco sobrecarregado pelas consequências de sua decisão. Alguns o acusam de ser covarde, de ter abandonado o campo de batalha, ou até mesmo de ser pró-Rússia. Ele, no entanto, afirma que nenhum de seus companheiros o julga. Sua brigada se limitou a publicar uma mensagem sucinta no Facebook, informando que uma investigação oficial está em andamento.
"Tenho 1000% de certeza de que tenho muito apoio, porque nas minhas mensagens privadas há centenas de pessoas que não se manifestaram publicamente, que têm medo, soldados que não têm o direito de falar. Mas todos me escrevem para agradecer por ter falado em nome deles. E, em todo caso, se meu país perder, eu também perco", ele conclui.
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