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Metade das cidades do RS reconhece não ter sistema de alerta para enchentes

do UOL

Do UOL, em São Paulo *

07/05/2024 22h25

Uma pesquisa da CNM (Confederação Nacional de Municípios) aponta que quase metade das prefeituras do Rio Grande do Sul não tem nenhum sistema para alertar a população sobre desastres naturais.

O que aconteceu

Segundo a CNM, 242 municípios gaúchos admitem não ter mecanismos de alerta contra desastres. O número representa 48,7% das 497 cidades do estado. A pesquisa, que ainda não foi divulgada oficialmente, foi feita por meio de formulários enviados às prefeituras entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024.

No total, 181 prefeituras (36,4%) afirmaram ter algum tipo de sistema de alerta no RS. Os 74 municípios restantes (14,9%) não souberam informar ou não responderam à pesquisa. A CNM informou apenas os números, mas não detalhou quais municípios estão em cada grupo.

Menos de 10% dos municípios do RS usam sirenes para alertar a população. Segundo a CNM, 12 cidades (2,4% do estado) instalaram sirenes fixas, enquanto 33 prefeituras (6,6%) têm automóveis com sirenes. Os municípios podiam marcar mais de uma opção na pesquisa, caso tivessem mais de um sistema de alerta.

A maioria das prefeituras disse usar apenas meios de comunicação como sistema de alerta. Segundo a CNM, 156 municípios disseram usar comunicação digital (SMS, aplicativos e redes sociais) e 99 relataram o uso de comunicação local (rádio e TV).

Seis em cada dez municípios do RS reconheciam não estarem prontos para os desastres. A CNM perguntou às prefeituras se "o município está preparado para o aumento de eventos climáticos extremos". Das 442 cidades gaúchas que responderam a pesquisa, 291 afirmaram que não estão preparadas.

O uso de sirenes agiliza o atendimento e facilita o trabalho das autoridades. Em janeiro deste ano, a Defesa Civil de Petrópolis (RJ) usou o equipamento para emitir um alerta de inundação à população.

Para a CNM, a União e os estados devem ajudar as prefeituras a criarem seus sistemas de alerta. Segundo a entidade, os municípios, principalmente os de pequeno e médio porte, não conseguem arcar sozinhos com os custos de gestão de riscos e prevenção de desastres.

O sistema de alerta serve não somente para chamar atenção daqueles moradores da área a ser atingida, mas também visa preparar e melhor organizar as equipes de busca e salvamento, entre outros agentes técnicos, funcionários, trabalhadores e voluntários por área de atuação para realização de uma resposta adequada para o tipo de sinistro
Trecho da pesquisa da CNM sobre os alertas dos municípios

Panorama do Brasil é semelhante ao do RS

No país, mais de 2.000 municípios disseram não ter mecanismos de alerta contra desastres. A CNM enviou a pesquisa a todas as 5.568 prefeituras do Brasil, mas só 3.590 responderam. Destas, 2.055 (57,2%) admitiram não ter nenhum mecanismo para alertar a população.

Apenas 171 cidades no país afirmam ter sirenes fixas instaladas. Isso representa 4,8% das prefeituras que responderam a pesquisa e somente 3% do total de municípios brasileiros. Já o uso de sirenes em automóveis foi relatado por 344 prefeituras.

O CNM não divulgou os dados detalhados de cada estado, exceto do RS. Segundo a entidade, "o estudo completo encontra-se em fase final de consolidação de dados".

Sirene - Defesa Civil de Petrópolis/Prefeitura - Defesa Civil de Petrópolis/Prefeitura
Sirene de alerta instalada em uma comunidade de Petrópolis
Imagem: Defesa Civil de Petrópolis/Prefeitura

Chuvas afetam 81% dos municípios do RS

O Rio Grande do Sul sofre com chuvas intensas desde o fim de abril. Pelo menos 401 municípios e 1.443.950 pessoas foram afetadas. Segundo levantamento desta terça (7), da Defesa Civil, são 95 mortos, 131 desaparecidos e 372 feridos. Há 48.799 pessoas em abrigos e 159.036 desalojadas.

Rodovias também foram atingidas. Nesta terça, 91 trechos em 40 rodovias estaduais tinham bloqueios totais ou parciais, entre estradas e pontes, segundo a atualização das 18h, realizada pela Defesa Civil.

O Senado aprovou hoje um decreto legislativo para acelerar o envio de recursos ao RS. O projeto foi encaminhado ao Congresso ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O PDL (Projeto de Decreto Legislativo) reconhece estado de calamidade no estado até 31 de dezembro. Ele já havia sido aprovado ontem na Câmara, em votação simbólica, e agora será promulgado. O decreto não precisa de sanção presidencial.

A calamidade pública permite maior flexibilidade na aplicação de recursos financeiros. E independe dos limites de gastos estabelecidos à União e dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Falta de água e energia atinge milhares de pessoas

Resgate de pessoas em Porto Alegre nesta terça (7) - Jorge Lansarin - 7.mai.2024 / Estadão Conteúdo  - Jorge Lansarin - 7.mai.2024 / Estadão Conteúdo
Resgate de pessoas em Porto Alegre nesta terça (7)
Imagem: Jorge Lansarin - 7.mai.2024 / Estadão Conteúdo

Ao menos 606.744 pessoas estão sem água no Rio Grande do Sul, o que equivale a 21% dos clientes da Corsan. Sem luz, há 454,9 mil. Desses, 221.326 pontos são atendidos pela CEEE Equatorial e 233. 600 pela RGE Sul. Dezenas de municípios seguem sem serviços de telefonia e internet das operadoras Tim, Claro e Vivo.

A falta de água potável em Porto Alegre levou uma multidão de pessoas aos supermercados. Em um estabelecimento, o produto terminou em cerca de quatro horas. Também há postos sem combustível há dias e, naqueles que ainda têm gasolina, motoristas fazem fila para abastecer.

O UOL passou por 12 postos nesta terça e só encontrou gasolina em dois. "Só tem a aditivada. Vai durar só mais uma hora", estimava o frentista de um estabelecimento na avenida Eduardo Prado.

"Vamos ter que enfrentar a fila, não tem o que fazer", diz moradora do extremo sul de Porto Alegre. A estudante Viviane This, 25, contou que abasteceu há uma semana e que tem tentado usar o carro o mínimo possível, mas acaba precisando dele para entregar doações. Ela diz que o posto do seu bairro não tem gasolina há dois dias, então precisou rodar pela cidade até encontrar combustível.

Frente fria trará mais chuva ao estado todo

Uma frente fria se deslocará pelo estado a partir de quarta-feira (8) e provocará temporais generalizados em todas as regiões.

A gestão estadual alertou para o risco de descargas elétricas, queda de granizo e ventos fortes. As rajadas podem chegar até 100 km/h. À noite, a temperatura irá cair. Uma precipitação mais intensa seguirá no sul do estado.

O ar frio avança, diminuindo temperaturas no estado na quinta (9). A previsão é de mínimas de 5 °C e 11 °C no centro-sul, região dos município de Arroio dos Ratos e Charqueadas, que já foram muito afetados pelas chuvas. Ainda deve chover forte no sul gaúcho na quinta. "Será um momento difícil", afirmou o governador Eduardo Leite (PSDB).

A previsão para a quinta-feira (9) é de mínima 16 ºC e máxima 20 °C em Porto Alegre, com 47% de probabilidade de chuva. Já em Eldorado do Sul, o dia será com mínima de 16 ºC e máxima de 21 ºC — com probabilidade de 44% de chover. Em São Leopoldo, a temperatura deve variar entre 15 ºC e 20 ºC, com 59% de probabilidade de precipitação. Os dados são da Climatempo.

Pelotas e Eldorado do Sul tem evacuações

A cidade de Eldorado do Sul (RS) deve ser completamente evacuada. Segundo o prefeito Ernani de Freitas (PDT), a região central do município de 39,5 mil habitantes foi completamente alagada.

Seis cidades estão recebendo moradores de Eldorado do Sul: Guaíba, Mariana Pimentel, Sertão Santana, Barra do Ribeiro, Porto Alegre e Gravataí. O transporte da população está sendo feito por helicópteros, ônibus e até caminhões. Ao UOL, Freitas disse que há uma força tarefa para resgate e evacuação dos desabrigados.

Moradores de diferentes regiões de Pelotas também devem deixar suas casas. A prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), em live pela manhã, informou que, com a previsão de chuvas e ventanias para amanhã, há risco de extravasamento da Lagoa dos Patos.

A previsão é que se repita a situação da enchente de 1941, mas com mais gravidade. "Temos dados e projeções, mas não temos como afirmar com absoluta certeza o que vai acontecer exatamente", disse. "Estamos sendo mais conservadores nas orientações para que não haja riscos".

A prefeita pediu que moradores de áreas de risco deixem suas casas e busquem abrigo com amigos e parentes em áreas altas. Recomendou também que os moradores levem apenas animais de estimação e roupas, e informou que caminhões devem ajudar a levá-los para locais seguros. Confira o mapa das regiões em risco de Pelotas neste link.

Com informações de Ana Luiza Cardoso, Carolina Nogueira, Gilvan Marques, Hygino Vasconcellos, Mateus Coutinho e Uesley Durães

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