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CIJ ordena a Israel que garanta 'ajuda humanitária urgente' a Gaza

28/03/2024 18h35

A Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou a Israel, nesta quinta-feira (28), que garanta, sem demora, a entrega de "ajuda humanitária urgente" para Gaza, devastada após quase seis meses de guerra entre Israel e Hamas.

O conflito, iniciado após o ataque do movimento islamista em Israel em 7 de outubro, deixou o estreito território em ruínas, e seus 2,4 milhões de habitantes à beira da fome, segundo a ONU.

Israel deverá adotar todas as medidas necessárias e eficazes para garantir, sem demora, a entrega sem restrições de "serviços básicos e ajuda humanitária urgente" para a Faixa de Gaza, declarou a CIJ, o principal órgão judicial da ONU, com sede em Haia, nos Países Baixos.

Após uma demanda da África do Sul, a CIJ ordenou a Israel em janeiro que impedisse qualquer ato de genocídio no território palestino e permitisse a entrada de ajuda humanitária. Israel classificou as acusações de "escandalosas".

O Ministério da Saúde da Faixa, território governado pelo Hamas desde 2007, informou nesta quinta-feira que ao menos 66 mortes foram registradas em Gaza durante a noite, a maioria em bombardeios israelenses.

O balanço eleva para 32.552 o número de mortos em Gaza pela ofensiva militar israelense, segundo o ministério, que detalha que a maioria dos mortos são civis.

Israel prometeu "aniquilar" o movimento islamista após o ataque de 7 de outubro no sul do território israelense, que deixou pelo menos 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses. 

Os combatentes islamistas também capturaram umas 250 pessoas e 130 delas permanecem em Gaza, das quais 34 teriam morrido, segundo as autoridades israelenses.

- 'Olhos vendados' -

Desde então, os combates não dão trégua. O Exército de Israel, que acusa os combatentes do Hamas de utilizarem os hospitais como esconderijos, prossegue com a operação iniciada em 18 de março no complexo hospitalar Al Shifa, na Cidade de Gaza, donde afirma ter "eliminado quase 200 terroristas" na área.

As tropas israelenses "transferiram civis, pacientes e equipes médicas para instalações médicas alternativas", segundo as forças armadas.

Karam Ayman Hathat, um palestino de 57 anos que vive em um edifício próximo ao hospital, contou à AFP que "as forças israelenses obrigaram os homens a se despir e a ficar somente com a roupa de baixo".

"Vi outros com os olhos vendados que tinham que seguir um tanque em meio a explosões", acrescentou.

Em Khan Yunis, no sul, os soldados executam operações em áreas próximas dos hospitais Nasser e Al Amal, situados a um quilômetro de distância.

O Exército israelense indicou nesta quinta que havia "eliminado dezenas de terroristas no setor de Al Amal" e acrescentou que suas tropas "encontraram artefatos explosivos e projéteis de morteiro".

Ghazi Agha, de 60 anos, estava em uma barraca no complexo hospitalar de Nasser quando o Exército pediu às pessoas que ali estavam deixassem as instalações.

"Avisaram pelo megafone: 'Saiam ou bombardearemos os edifícios'. Saí com uma dezena de pessoas [...] Ouvíamos explosões e disparos a todo momento", contou.

Israel ainda planeja uma operação terrestre em Rafah, uma localidade do sul de Gaza que considera o último bastião do Hamas.

"Controlamos o norte da Faixa de Gaza e Khan Yunis. Cortamos a Faixa de Gaza em duas e nos preparamos para entrar em Rafah", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. 

- Situação humanitária  -

Cerca de 1,5 milhão de palestinos vivem confinados em Khan Yunis, a grande maioria deslocados pela violência em outras partes do território.

Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, temem o custo humanitário dessa operação. 

A recente adoção de uma resolução na ONU exigindo um "cessar-fogo imediato", que foi possível graças à abstenção dos Estados Unidos, enfureceu o governo israelense. 

Mas na quarta-feira, um funcionário de alto escalão do governo americano afirmou que o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu está disposto, agora, a conversar com Washington sobre a possível ofensiva em Rafah.

Por sua vez, o Catar, que atua como mediador ao lado do Egito e dos Estados Unidos, afirmou esta semana que as negociações indiretas entre Israel e Hamas prosseguem, com o objetivo de alcançar uma trégua e uma troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

A guerra causou uma catástrofe humanitária no pequeno território palestino e a ajuda terrestre apenas entra a conta-gotas. 

Paralelamente, vários países lançam alimentos de paraquedas, especialmente no norte da Faixa de Gaza, onde a situação é desesperadora.

Segundo o Escritório da ONU para a Cooperação de Assuntos Humanitários (OCHA), apenas 3% da ajuda que entrou no território palestino entre 18 e el 24 de março chegou ao norte.

Apesar das "enormes necessidades, das hostilidades e dos obstáculos ao acesso, continuam minando os esforços para fazer chegar ajuda vital à população civil", lamentou a agência das Nações Unidas.

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© Agence France-Presse

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